AGU pede identificação de redes que espalharam informações falsas sobre a Ilha de Marajó

Região ganhou repercussão após denúncias feitas por cantora em programa de calouros, mas material amplamente compartilhado nas redes sociais fez uso de imagens falsas

25 fev, 2024

Neste sábado (24), o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, determinou uma investigação para que sejam identificadas as redes de desinformação sobre a Ilha de Marajó, no Pará. A decisão acontece após a repercussão massiva nas redes sociais de conteúdos denunciando supostos casos de exploração sexual infantil na região paraense.

Segundo o titular da AGU, a investigação será coordenada pela Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD). “Determinei à PNDD que atue imediatamente na identificação de redes de desinformação, que criam desordem informacional sobre a Ilha de Marajó. Os marajoaras merecem respeito e um tratamento digno de todo o Poder Público”, escreveu Messias em seu perfil na rede social X, antigo Twitter.

O ministro também frisou o compromisso e empenho do governo federal em apurar as denúncias sérias sobre redes de exploração sexual e infantil em todo o país. “Protejamos as nossas crianças sem a propulsão de notícias falsas!”, defendeu.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, responsável pela solicitação de apuração à AGU, endossou o comentário de Messias, reforçando que não será permitida a difamação de uma região com intuitos políticos e financeiros: “não vamos permitir a difamação de uma região por oportunistas que se valem de um grave problema nacional como o da proteção de crianças e adolescentes para alavancar interesses políticos ou financeiros”, escreveu Silvio.

Artistas e influenciadores compartilharam conteúdo sobre a Ilha

Localizada no Norte do estado do Pará, a Ilha de Marajó, conhecida como a maior ilha fluviomarítima do mundo, ganhou repercussão após a cantora gospel Aymeê viralizar nas redes sociais em uma apresentação musical na qual fez referência aos casos de exploração sexual e infantil na ilha. Em um trecho da música autoral, Aymeê canta “enquanto isso no Marajó, o João desapareceu”.

Ao finalizar a apresentação, feita durante a semifinal de um programa de calouros, a cantora paraense fez um relato aos jurados: “Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, minha terra. E lá tem muito tráfico de órgãos. Lá é normal isso. Tem pedofilia em nível hard. Marajó é muito turístico, e as famílias lá são muito carentes. As criancinhas de seis e sete anos saem numa canoa e se prostituem no barco por R$ 5”, disse a artista.


Aymeê viralizou nas redes após apresentação e já soma mais de um milhão de seguidores (Foto: reprodução/CNN Brasil/Yotube)


Ao longo da última semana, as redes sociais foram tomadas por publicações que citavam o suposto aumento da violência e da exploração infantil da região. Dezenas de artistas e influenciadores compartilharam imagens e informações sobre o caso, em uma espécie de revolta simultânea aparentemente orgânica. Dentre eles, Rafa Kaliman, Juliette, Angélica, Carlinhos Maia e Luísa Sonza.

Por outro lado, ONGs que atuam na região se pronunciaram criticando a forma como as notícias foram veiculadas e desmentindo informações ao enfatizar que associar o Marajó à exploração e o abuso sexual é uma forma de desonrar o povo marajoara. “A propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira: a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes.”, escreveu, em nota, o Observatório de Marajó.

O Observatório também falou sobre recursos milionários que foram prometidos pela ex-ministra Damares Alves para fortalecer as comunidades escolares da região, mas que nunca foram destinados. “Ao invés disso, [Damares Alves] atentou contra a honra da população diversas vezes, espalhando mentiras, e abriu tais políticas públicas para grupos privados de São Paulo que defendem a privatização da educação pública”, prosseguiu

A Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (Cojovem), por sua vez, disse: “não precisamos de um olhar estigmatizado e cheio de preconceito. O Marajó é símbolo de resistência, encanto e cultura da Amazônia”.

Publicações com conteúdo falso

Uma das imagens amplamente compartilhadas em montagens sobre o caso de exploração sexual e infantil na ilha mostra crianças sendo transportadas em um carro. A imagem em questão, no entanto, foi utilizada fora do contexto original.

O caso refere-se a uma situação que ocorreu, na verdade, no Uzbequistão, em setembro de 2023, quando uma professora foi presa ao transportar irregularmente 25 crianças em um carro. Na época, o caso foi noticiado por diversos veículos de comunicação, como o Globo.  


Imagem utilizada nas publicações não tem relação com tráfico humano (Foto: reprodução/Jornal Opção)


Em 2022, a população de Marajó já tinha sido alvo de fake News em falas da ex-ministra Damares Alves. Na ocasião, a parlamentar afirmou que crianças marajoaras tinham dentes arrancados para facilitar a prática de sexo oral. As declarações nunca foram comprovadas e o MPF pediu a indenização de R$ 5 milhões a Damares pelos danos sociais e morais causados à população da ilha.

Foto destaque: município da Ilha de Marajó (Reprodução/Ueslei Marcelino/Reuters)

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