Em desfile, Shitsurei critica o olhar exótico sobre corpos de mulheres nipo-brasileiras

Em segundo dia do evento Casa de Criadores, Marcella Maiumi, diretora criativa, fez comentários sobre preconceitos por meio de estilo futurista

24 jul, 2025
Modelo em desfile da Shitsurei | Reprodução/Instagram/@casadecriadores
Modelo em desfile da Shitsurei | Reprodução/Instagram/@casadecriadores

A Shitsurei apresentou a coleção “Objeto Desconhecido”, nesta quarta-feira (23), durante a 56ª edição da Casa de Criadores. O desfile, em parceria com a Tecelagem Columbia, abriu o segundo dia de apresentações trazendo um discurso político e delicado para as passarelas.

Assinada pela estilista Marcella Maiumi, as peças, com elementos futuristas, propõem uma reflexão sobre o olhar que desumaniza mulheres nipo-brasileiras. Por meio da ironia, a artista assumiu a persona de “alienígena”, construída por estereótipos e preconceitos que foram atribuídos para pessoas descendentes de japoneses e de outras etnias asiáticas aqui no Brasil.

O próprio nome “Objeto Desconhecido” faz uma alusão ao termo OVNI (Objeto voador não identificado).

As roupas combinam elementos de materiais distintos, como metálico, couro, brilhante, preto ou colorido, além de formas geométricas assimétricas, conferindo uma estética de produções sci-fi. Se o gênero discute a tecnologia e a humanidade, assim como o contato de nós com os extraterrestres, Maiumi propõe uma crítica sobre os impactos de ser considerada estrangeira em seu próprio país.

Entre as modelos que fizeram parte do elenco (formado por pessoas com ascendência asiática), estão a influencer Ana Chiyo e a cantora LINA TAG, que não só desfilou, como também performou.

Casa de Criadores

Com surgimento no ano de 1997, a CDC acontece duas vezes por ano em São Paulo e já percorreu muitos espaços da cidade. Em 2025, os desfiles são realizados no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na Liberdade, entre os dias 22 e 27 de julho. A programação conta com 34 desfiles e a entrada é gratuita, com ingressos distribuídos diariamente pelos stories da Casa de Criadores.

O evento promove a produção autoral de moda brasileira e discute temas sobre gênero, raça, sexualidade, sustentabilidade, trabalho e outras questões da existência. Em 2024, por exemplo, a Shitsurei, também sob o comando de Maiumi, apresentou a coleção “IMPERSONA”, que refletia sobre a síndrome do impostor.


Looks da coleção "Objeto Desconhecido" (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)

Pertencimento

Os enfrentamentos acerca de identidade e pertencimento sob a ótica de pessoas brasileiras com raízes japonesas têm ganhado presença na arte. Shitsurei é um exemplo na moda, porém há outros em campos diversos.

Em 2024, na literatura, o quadrinista Yoshi Itice escreveu “Herança”, Graphic MSP do famoso personagem da Turma da Mônica, o Do Contra. Na trama, o garoto vive uma crise de identidade ao se sentir dividido entre dois mundos: o brasileiro e o japonês.

No cinema, também no ano passado, o curta-metragem “Amarela” narra a história de Erika, uma adolescente que, no dia de uma final de Copa do Mundo, protagonizada pelo Brasil, resolve rejeitar as tradições de sua família japonesa.

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