Saint Laurent resgata silhuetas leves e descontraídas na Paris Fashion Week masculina
Coleção aposta em alfaiataria leve em tons quentes e tecidos fluidos no desfile que marca o retorno da grife ao calendário da semana de moda masculina

A Saint Laurent deu início à temporada primavera-verão 2026 da Semana de Moda Masculina de Paris com um desfile que apontou para o desejo de leveza, sensualidade e espontaneidade. A apresentação, realizada na Bourse de Commerce, centro de arte contemporânea de François Pinault, dono do grupo “Kering”, marcou o retorno oficial da maison ao calendário masculino após mais de dois anos de ausência.
Assinada pelo estilista belga-italiano, e atual diretor criativo, Anthony Vaccarello, a coleção apostou em desconstruir a formalidade da alfaiataria com códigos de conforto e também uma dose de melancolia elegante. Camisas acetinadas, shorts com corte de alfaiataria, blazers amplos e tecidos translúcidos deram o tom da passarela que mesclava certas referências da juventude de Yves Saint Laurent à estética andrógina já consolidada sob o comando atual da grife.
Fluidez em meio à alfaiataria
O primeiro look da grife na passarela, uma camisa amarela açafrão com microshorts marrom de alfaiataria, já anunciou o espírito que a coleção traria: solar, solto e com leve toque de hedonismo urbano. A ideia de leveza se traduziu em peças com alguns volumes estratégicos, tecidos maleáveis e gestos aparentemente despreocupados, como as mangas arregaçadas das camisas ou os cintos desfeitos, pendendo pelas calças de cintura marcada.
Primeiro look do desfile de Saint Laurent na Semana de Moda Masculina de Paris 2026 (Foto: Reprodução/Fashion Network)
A alfaiataria perdeu a rigidez clássica: os ombros não eram mais armaduras, mas curvas suavizadas; os tecidos, como o nylon translúcido e o algodão leve, escorriam pelo corpo. Em vez do“power dressing” típico da estética corporativa, surgia um convite ao despojamento consciente, um romantismo seco, quase pragmático. A gravata, usada para dentro da camisa em alguns looks, fazia alusão às imagens de bastidores do próprio Yves nas décadas de 1980 e 1990.
Um retorno estratégico ao calendário oficial
A presença da Saint Laurent na abertura da temporada masculina foi estratégica. A maison que estava ausente do calendário da moda desde janeiro de 2023, retornou em meio a um cenário instável atualmente para o setor de luxo, com grande retração de consumo global e mudanças aceleradas nas diretorias criativas de diversas grifes.
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Postagem com cortes de alguns looks desfilados pela Saint Laurent (Vídeo: Reprodução/Instagram/@hypnotique)
Com isso, o desfile carregou muito mais do que valor estético: serviu como reposicionamento. Vaccarello, à frente da Saint Laurent desde 2016, entregou consistência visual e coesão com a consolidada identidade da marca. No entanto, a pressão por renovação e impacto cresce, principalmente entre os investidores, compradores e também o público jovem, hoje mais volátil e sensível a movimentos de ruptura.
A urgência por frescor criativo
Apesar do domínio técnico e da clara leitura da herança da grife, a coleção não escapou das comparações com temporadas anteriores. As paletas de cores, como ameixa, ocre, verde musgo, azul piscina e laranja queimado, foram quase idênticas às da linha feminina anterior. A silhueta manteve a assinatura já conhecida de Vaccarello, mesmo que de forma mais solta.
É nessa zona de conforto que reside o dilema: até que ponto a continuidade é uma força e não uma limitação? Em tempos de queda de lucros e troca de cadeiras no topo das maisons, o mercado exige não só beleza e técnica, mas também desejo. Se a moda masculina vive um momento de esgotamento criativo, como apontam especialistas e compradores, talvez a próxima coleção precise arriscar mais, explorar novas proporções, narrativas ou até colaborações.
Moda masculina em transição
A Saint Laurent inaugura uma semana de moda que, apesar das incertezas, promete redefinir os rumos da moda masculina. Com nomes como Jonathan Anderson (estreando na Dior), Pharrell Williams (pela Louis Vuitton) e a chegada de jovens estilistas como Julian Klausner (na Dries Van Noten), Paris tenta responder a uma demanda por renovação, autenticidade e novas formas de expressar masculinidades.
No contexto atual, a coleção de Vaccarello funciona como um tipo de transição: não revoluciona, mas reposiciona a marca. Ao evocar o passado com sofisticação e também desacelerar a silhueta sem abandonar o rigor da construção, ele propõe um olhar mais suave e consciente sobre o vestir masculino, ainda que o futuro exija mais ousadia.