Embora o modelo de renovação rápida de peças (fast fashion) seja considerado o mais competitivo da categoria, cada vez mais pessoas entendem o tamanho do seu impacto no planeta e no grupo de trabalhadores envolvidos nessa cadeia produtiva. Para minimizar os efeitos dessa confecção desenfreada, comprar roupas em brechós é uma alternativa que vem ganhando cada vez mais espaço entre os consumidores. Mas, de acordo com especialistas, dar “uma segunda vida” a essas peças pode não ser uma ação tão sustentável quanto se imagina.
Peças de segunda mão na "caixa da sustentabilidade" (Foto: reprodução/Shutterstock)
O movimento secondhand deve vir aliado à diminuição do consumo
A podcaster e editora do Sustainably Influenced, Bianca-Francesca Foley, diz que o primeiro problema continua sendo a emissão de carbono.
Segundo ela, ainda que as peças sejam reutilizadas, o carbono já foi produzido, então a melhor opção seria conscientizar as pessoas sobre a importância da diminuição do consumo. "Quanto mais tempo você guarda uma peça, melhor, porque você não está comprando mais roupas", declarou a editora.Bianca diz, ainda, que a melhor maneira de se evitar o fast fashion é libertando-se das tendências de compras. Pois, mesmo que se ame o produto adquirido, a chance de entrar, mesmo que inconscientemente, em um ciclo de compra repetitivo é gigantesca.
Os estilos vintage, streetwear e Y2K são os mais buscados no Depop (empresa de compra e venda de roupa), o que reflete a gama de variedade de bilhões de peças produzidas por ano pelo fast fashion.
Para Justine Porterie, diretora de Sustentabilidade da Depop, o volume de consumo não anula o caráter positivo que as compras de secondhand podem ter. "Seria ineficiente (evitar o fast-fashion em brechó) porque sabemos que 9 em cada 10 compras feitas no Depop substituem uma compra totalmente nova", disse Porterie à Glamour britânica.'Na foto, alguns look's comercializados pela Depop, loja de compra e venda de roupa (Foto: reprodução/TeenVogue)
Continuou dizendo, "isso se chama taxa de deslocamento e é o que nos dá confiança de que a revenda na empresa contribui para desacelerar a demanda pelo novo".
Outro problema relacionado ao fast fashion é a mão-de-obra que, muitas vezes, é análoga à escravidão. Trabalhadoras no Sul Global são submetidas a condições desumanas, recebendo um salário muito abaixo do digno e tendo pouco (ou nenhum) acesso à educação, cuidados com a saúde e com o bem-estar de seus filhos.
Ainda que a busca por peças de second hand seja uma crescente e vista com bom olhos pela maioria dos especialistas, é de grande valia que cada um de nós se conscientize sobre a importância de, cada dia mais, diminuir a necessidade do consumo.Fonte capa: Mulheres olham roupas em uma loja especializada em peças de segunda mão (Fonte: reprodução/Freepik)