Muitas mulheres crescem ouvindo que sentir dor durante relações sexuais é normal, mas o desconforto, na verdade, está ligado a uma disfunção com diagnóstico e tratamento já conhecidos. O vaginismo, como é chamada a disfunção sexual feminina, é caracterizada por contrações musculares involuntárias do assoalho pélvico (músculos localizados ao redor da vagina), que causam dores e dificultam no momento da penetração.
Apesar de ter uma taxa de incidência que varia entre 11% e 42% entre mulheres, segundo levantamento feito pela Revista Brasileira de Sexualidade Humana, é comum que muitas mulheres passem pela disfunção e não a reconheçam.
Possíveis causas
Podendo ocorrer desde a primeira relação sexual (vaginismo primário) até mulheres com vida sexual ativa (vaginismo secundário) e que já tiveram relações consideradas prazerosas, o vaginismo possui múltiplas e complexas causas, como abuso sexual, comportamento psicológico controlador, alterações anatômicas no canal vaginal ou mesmo doenças de dor crônicas, como fibromialgia.
Além da vida sexual, o psicológico também pode ser abalado pela disfunção. (Foto: Reprodução/IStock.)
“Sempre vamos olhar para vários pontos, como: se a educação em casa foi muito castradora e proibitiva, se passou por violência psicológica ou sexual, se tem algum antecedente de problema de saúde ginecológico (por exemplo, líquen vulvar), se tem outras doenças de dor crônica associadas, se tem uma personalidade controladora, hipervigilante e se a pessoa é ansiosa”, explica a ginecologista Teresa Embiruçu, especialista em obstetrícia e sexologia.
Como identificar
Apesar de o diagnóstico médico ser preciso, alguns sinais podem servir de alerta para as mulheres. Dores fortes e desconforto no momento da penetração, ou mesmo ao realizar exames ginecológicos, são alguns deles. “Algumas pacientes, inclusive, sentem como se o seu canal vaginal não existisse e não houvesse espaço para introduzir algo dentro”, relata a fisioterapeuta pélvica Débora Pádua, A profissional é especializada em vaginismo.
Outra situação que merece atenção é quando a mulher consegue ter a penetração vaginal, mas apresenta ardência, incômodo ou dor. “É como se tivesse entrando uma faca, descrita como vulvodínia. A vulvodínia já seria mais uma dor localizada na mucosa vulvar que impede ou dificulta a penetração”, explica a ginecologista Teresa.
O diagnóstico pode acontecer por meio de uma conversa com um médico especialista, clínico geral ou psiquiatra. O exame físico, inspeção da mucosa e da musculatura pélvica também é necessário para descartar outra causa para as dores.
Consequências
Devido as fortes dores causadas, o vaginismo pode impedir a realização de exames preventivos, atrapalhar a vida sexual das mulheres e dificultar os planos de aumentar a família. O ciclo menstrual também pode ser afetado, uma vez que a utilização de coletores e tampões menstruais pode ser dificultada.
As intensas alterações hormonais do período pós-parto também podem ajudar no desenvolvimento da disfunção. “Seja após o parto vaginal ou cesariana, no puerpério há uma fase de queda hormonal. Assim, essa mulher vai ter relações sexuais com menos lubrificação e, às vezes, menos desejo, gerando mais atrito no canal vaginal”, revela a fisioterapeuta Débora Pádua.
Tratamento
O tratamento para o vaginismo consiste, principalmente, no acompanhamento psicológico e fisioterapia pélvica, objetivando auxiliar no relaxamento da musculatura e dessensibilizar os músculos da vagina ao toque e a penetração. Medicações podem ser indicadas para casos mais graves, como dor crônica na mucosa vulvar, além do uso de ansiolíticos e técnicas para trabalhar o foco de atenção.
Acompanhamento com fisioterapeuta pélvico ajuda a diminuir as dores. (Foto: Reprodução/Clínica Sexualidade Funcional.)
“A abordagem psicológica também é essencial para trabalhar as crenças errôneas e ressignificar alguns momentos dessa construção da sexualidade”, relata Tereza. Já a fisioterapeuta Débora afirma que também é preciso haver uma mudança neurológica, “não adianta somente relaxar a musculatura, isso tem que fazer sentido para o cérebro, para que ele entenda que não é mais necessário gerar a contração”, disse.
Ambas as especialistas reforçam a importância do acompanhamento fisioterapêutico, que além de proporcionar um autoconhecimento para as mulheres, pode motivá-las a melhorar e ter uma qualidade de vida, não apenas sexual, melhor.
Foto Destaque: Saúde feminina pode ser afetada pela disfunção sexual. Reprodução/Blog Drauzio Varella.