A epilepsia é uma síndrome neurológica causada por alterações temporárias e reversíveis – crises epilépticas – no funcionamento do cérebro, podendo provocar convulsões, mal-estar e perda de consciência por alguns segundos ou minutos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença acomete, pelo menos, 50 milhões de pessoas no mundo, sendo 2 milhões apenas no Brasil.
A doença possui algumas variantes e sua identificação irá depender de fatores como: a região do cérebro que é afetada, o nível de consciência durante as crises ou a frequência com que elas ocorrem. Dentre as variantes existe a epilepsia refratária, onde o uso de medicamentos não é efetivo no controle da doença. Nesse caso, especialistas recomendam a adoção da dieta cetogênica como solução para o quadro clínico.
Existente desde a década de 1920, estudos científicos indicam que a dieta cetogênica, recomendada para pacientes com resistência no tratamento medicamentoso, pode reduzir em até 50% as crises epilépticas, garantindo uma qualidade de vida melhor para os pacientes, é o que afirma a nutricionista, mestre em ciências e responsável pelo ambulatório de dieta cetogênica para epilepsias da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Marcela Gregório.
"Existem determinadas síndromes cuja dieta é capaz de promover mais de 70% de redução das crises, e até mesmo o controle total. Pacientes com epilepsia com crises focais e generalizadas podem ter uma melhora de 50% nas crises”, conta a nutricionista.
Em que consiste a dieta?
A dieta cetogênica consiste em diminuir a ingestão de carboidratos pelos adeptos, aumentando o consumo de gorduras boas e proteínas. "A ausência de carboidratos faz com que o cérebro busque outra fonte de energia, que no caso são as gorduras. Cetose é o nome desse processo, que estimula a atividade cerebral e, consequentemente, reduz as convulsões", é o que explica a nutricionista Camila Monteiro.
Dieta cetogênica também é indicada para pessoas que querem perder peso. (Foto: Reprodução/IStock)
Alimentos como pães, bolos, massas, doces, leguminosas como feijão, soja, ervilha e grão-de-bico são proibidos na dieta, dando lugar ao consumo de carnes brancas e vermelhas, ovos, verduras e a maioria dos legumes. Gorduras como manteiga, castanhas, azeite e banha de porco são bem vindas ao cardápio, assim como abacates, cocos, iogurtes e açaí. Já as bebidas, apenas água, e café e chá sem açúcar podem ser ingeridos.
Segundo o pediatra e neurologista do Hospital Sabará (SP), Carlos Takeuchi, o problema da dieta cetogênica está no fato dela ser muito restritiva, tanto em quantidade quanto em qualidade do alimento, “você não pode comer carboidrato e açúcar, precisa pesar o quanto vai colocar no prato de cada coisa, como quantos mililitros de azeite vai por na salada. É muito trabalhosa”.
Por se tratar de uma dieta limitada, ela precisa ser prescrita por um neurologista e acompanhada por um nutricionista especializado, principalmente em casos onde o paciente pratique atividades físicas, visto que algumas pessoas podem começar a apresentar sinais de fraqueza e câimbras. Cansaço e mau-humor também podem ser sintomas colaterais da dieta.
Apesar de fortemente recomendada, a nutricionista Camila Monteiro alerta que os novos hábitos alimentares não devem durar muito tempo. "Uma pessoa com epilepsia deve ser submetida a dieta cetogênica pelo período de 2 a 3 anos, onde espera-se que suas crises sejam reduzidas pela metade, mesmo após o final do tratamento”. Já os indivíduos que não possuem o distúrbio neurológico “devem seguir as restrições por, no máximo, 6 meses".
O risco de desenvolvimento de colesterol e aumento nas taxas de triglicerídeos, devido ao alto consumo de gorduras, reforça a necessidade de acompanhamento médico. Fora esses fatores, a dieta se mostrou segura e eficaz na maioria dos casos.
Foto Destaque: A dieta citogênica é muito indicada para crianças epilépticas. Reprodução/IStock.