Bem Estar

Anvisa debate regulamentação de cigarro eletrônico

Segundo o INCA, os cigarros eletrônicos aumentam a chance de desenvolver vários tipos de cânceres. Calcula-se que no Brasil 157 mil pessoas morrem por ano pela doença.

12 Abr 2022 - 14h00 | Atualizado em 12 Abr 2022 - 14h00
Anvisa debate regulamentação de cigarro eletrônico Lorena Bueri

Nesta segunda-feira (11), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) elaborou um formulário técnico e científico sobre o uso destes dispositivos eletrônicos, chamados DEF, que estão proibidos para venda no Brasil desde 2009. O cigarro eletrônico, alternativa ao cigarro comum, chega à quarta geração de aparelhos trazendo novo formato focado no público jovem; no entanto, com mais malefícios do que sua versão original.

Até então, o relatório parcial indica possíveis três caminhos que podem ser tomados. A primeira segue mantendo o texto e as proibições estabelecidas pela normativa RDC 46/2009; a segunda opção mantém o texto da normativa, adicionando uma campanha educativa de conscientização dos malefícios e aumenta fiscalização na internet contra a venda do produto; e por último, a liberação do comércio permitindo a fabricação e exportação revogando as proibições da normativa.

A coordenadora de prevenção e vigilância do Instituto Nacional de Câncer (INCA) Liz Maria de Almeida ressalta que alternativa para o relatório final ‘precisa’ manter as proibições da RDC e implementar novas ações de fiscalização diante da intensificação do comércio irregular nos últimos anos. "A gente tá vendo uma turma que tinha parado de fumar voltando a fumar por conta de entrar em contato novamente com a nicotina através desses eletrônicos", informa Almeida.


O cigarro comum tem alcatrão e mais de 40 substâncias cancerígenas. (Foto: Reprodução/Vanessa M Blaha)


A coordenadora da área de cardiologia do Programa de Tratamento ao Tabagismo do Instituto do Coração, Jaqueline Scholz, acrescenta que uma revisão mais rigorosa da normativa é o caminho a ser tomado, pois isso irá proteger a saúde das pessoas e reflete sobre as multas atuais não estarem inibindo comércio e importação dos cigarros eletrônicos no Brasil.

Os cigarros eletrônicos, também chamados de vaporizadores, pod`s, e-cigarettes e e-pipes, são dispositivos que, na primeira geração, simulava o uso do cigarro e tinha o intuito de diminuir o consumo do tabaco. Os produtos de tabaco aquecido são outra categoria que utiliza líquido ou essência que aquecem diretamente o tabaco, planta que extraí a nicotina.

O cigarro comum tem alcatrão e mais de 40 substâncias cancerígenas, como o monóxido de carbono, nicotina, aromatizantes e outros produtos químicos que são prejudiciais à nossa saúde. Estes funcionam através da queima destas substâncias, combustão.

Ao ser acendido, o fogo queima as substâncias do cigarro, num processo físico. A fumaça é inalada pelo fumante e os elementos do cigarro caem na corrente sanguínea, principalmente nicotina, monóxido de carbono e alcatrão. Muitas dessas substâncias são cancerígenas, causam dependência e boa parte do monóxido de carbono fica no corpo, o que dificulta o transporte do oxigênio no sangue.

Por outro lado, cigarros eletrônicos possui um reservatório onde é armazenado um líquido aquecido por uma pequena resistência e evapora rapidamente. A fumaça é inalada pelo fumante e as substâncias químicas caem na corrente sanguínea. Este líquido é composto geralmente de água, glicerina, álcool, nicotina e aromas e é aquecida por uma bateria. A nicotina é uma droga e induz a dependência química. Além de doenças e irritações respiratórias pela inalação do vapor, a nicotina pode levar a crises de abstinência e doenças cardiovasculares.


A indústria alimentícia tenta dar diferentes sabores a experiência. (Foto: Reprodução/ Getty Images)


Almeida explica que a nicotina tem ação psicoativa, ligando ao neurotransmissor do sistema nervoso liberando dopamina, substância responsável pela sensação de bem-estar. Nos aparelhos recentes, a adição de compostos químicos produzidos pela indústria alimentícia tenta dar diferentes sabores a experiência. "É um entregador de nicotina com uma roupa nova. Esse é o principal fator em comum entre esses tipos de cigarros", ressalta Almeida.

A primeira aparição dos cigarros eletrônicos no mercado brasileiro foi em 2005. Semelhante ao cigarro tradicional, era descartável, sem recarga do líquido e apresentavam constantes falhas de vazamentos. Em 2010, a segunda geração sai da fabrica em formato agora semelhantes a uma caneta e já vinham com cartucho recarregável. Em 2015, os aparelhos lançados pelas empresas Philip Morris Brasil e BAT Brasil vieram com formato mais robusto, de tanque chamados de mod`s, já com a possibilidade de mudar a essência e com baterias maiores e duradouras. A quarta geração, que iniciou em 2017, acompanha sais ácidos de nicotina, mais viciantes com formato moderno e colorido apelando para atenção do público jovem.

Segundo o INCA, os dispositivos eletrônicos aumentam a chance de desenvolver vários tipos de cânceres, dentre do pulmão ao colo do útero. Fora mais de 50 tipos diferentes de doenças respiratórias e cardiovasculares, entre outras. Só em 2020, os Estados Unidos confirmaram 2.807 casos de lesão pulmonar causada pelo uso excessivo do aparelho. Calcula-se que no Brasil 157 mil pessoas morrem por ano pela doença.

 

Foto destaque: Comparação entre cigarro tradicional e eletrônico. Reprodução/Newsweek.

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