A equipe de Elon Musk no Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos (Doge) tem ampliado o uso do chatbot da inteligência artificial Grok, desenvolvido pela empresa xAI, também de propriedade do bilionário. Segundo fontes ouvidas pela agência de notícias Reuters, a ferramenta vem sendo aplicada para análise de dados federais, inclusive em contextos sensíveis e sem autorização formal, o que levanta sérias preocupações sobre privacidade, segurança e possíveis conflitos de interesse.
Fontes próximas ao Doge afirmam que o chatbot está sendo utilizado para gerar relatórios e examinar grandes volumes de dados. Há relatos de que funcionários do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) foram orientados a utilizar o Grok, apesar da ferramenta não ter sido oficialmente aprovada para uso pelo órgão, que lida com áreas sensíveis como imigração, segurança digital e fronteiras.
Riscos à privacidade dos usuários
Especialistas em ética governamental e tecnologia alertam que, se informações confidenciais estiverem sendo processadas pela IA, isso pode configurar violação de normas de segurança nacional e de privacidade. “A escala de dados acessados, combinada ao uso de um sistema privado de IA, representa uma ameaça séria à privacidade dos cidadãos”, afirmou Albert Fox Cahn, diretor do Surveillance Technology Oversight Project.
Outro risco apontado por analistas é que Musk e sua empresa podem obter vantagem competitiva sobre outros fornecedores de IA ao ter acesso a dados federais privilegiados. “Há um potencial claro de autobenefício, algo que a legislação sobre conflitos de interesse busca evitar”, disse Richard Painter, ex-conselheiro de ética da presidência de George W. Bush.
O governo dos EUA tem ampliado o uso do chatbot de inteligência artificial Grok (Foto:reprodução/Jonathan Raa/NurPhoto/Getty Images Embed)
Departamento de Segurança nega pressão
O Departamento de Segurança Interna negou que tenha sofrido pressão para adotar o Grok, afirmando que o Doge “não exige o uso de nenhuma ferramenta específica”. No entanto, fontes internas relatam que houve tentativas de forçar sua adoção em larga escala. A própria política do DHS, estabelecida sob o governo Biden, permitia o uso de ferramentas como ChatGPT e Claude apenas para dados não confidenciais. Em maio, todos os acessos a IAs comerciais foram suspensos após suspeitas de uso indevido com informações sensíveis.
Além disso, há denúncias de que integrantes do Doge tentaram acessar e-mails internos de servidores e orientaram o uso de algoritmos para monitorar a “lealdade política” de funcionários, medida que pode infringir leis de proteção ao funcionalismo público. Duas fontes ligadas ao Departamento de Defesa confirmaram que funcionários foram alertados sobre o uso de uma ferramenta algorítmica para monitorar atividades nos computadores — embora o Pentágono tenha negado o envolvimento do Doge em ações de vigilância.
Elon Musk nega envolvimento
Musk, que atua como “funcionário especial” do governo, pode legalmente ocupar o cargo por até 130 dias. Ele declarou que reduzirá sua presença no Doge, mas que sua equipe continuará operando mesmo com sua saída parcial. Para especialistas, sua participação direta nas decisões envolvendo o Grok pode configurar infração à legislação que proíbe agentes públicos de se envolverem em ações que resultem em benefício financeiro próprio.
“O uso do Grok por órgãos federais, sem critérios claros de transparência e autorização, pode configurar não apenas favorecimento, mas uma verdadeira auto negociação”, reforçou o professor Cary Coglianese, da Universidade da Pensilvânia.
Até o momento, nem Musk, nem a Casa Branca, nem a xAI se pronunciaram oficialmente sobre as acusações.
Foto destaque: Elon Musk (Reprodução/Brendan Smialowski//Getty Images Embed)