A governadora do Arkansas, Sarah Huckabee Sanders (Republicana), e o governador da Califórnia, Gavin Newsom (Democrata), representam partidos opostos, mas compartilham a defesa de uma proposta que está atraindo apoio em diversas legislações pelo país: a proibição do uso de celulares por alunos durante o horário escolar.
Nos últimos dois anos, pelo menos oito estados americanos implementaram restrições semelhantes, e novas legislações estão sendo discutidas em outros locais. Confira o que está motivando essa onda de proibições.
O motivo da proibição
As iniciativas para banir celulares nas escolas surgem a partir de preocupações sobre os efeitos das telas na saúde mental das crianças, além de queixas de educadores sobre a constante distração causada pelos dispositivos nas salas de aula. O Dr. Vivek Murthy, cirurgião geral dos EUA, defendeu a necessidade de momentos livres de celulares nas escolas, solicitando ao Congresso que imponha rótulos de advertência nas redes sociais.
Menino boceja em sala de aula ao interagir através do celular (Foto: Reprodução/Serhii Korovayny/Global Images Ukraine/Getty Images Embed)
Em todo o país, 77% das escolas dos Estados Unidos relatam proibir o uso de celulares para atividades não relacionadas ao aprendizado, conforme dados do Centro Nacional de Estatísticas Educacionais. No entanto, essa estatística pode ser decepcionante, pois não indica que os alunos estão obedecendo às proibições, nem que todas essas instituições realmente estão aplicando essa restrição.
A cofundadora do “Movimento Escolas Sem Celular”, Kim Whitman, destaca que a questão está ganhando força em diversos estados, onde pais e professores estão lidando com as consequências do uso excessivo de celulares entre crianças, independentemente da localização geográfica. “Todas as crianças estão com dificuldades e precisam dessa pausa das pressões dos celulares e das redes sociais durante o período escolar” afirma.
Estados que aderem à proibição
Entre os 8 estados que já adotaram medidas restritivas estão Califórnia, Flórida, Indiana, Ohio, Minnesota, Carolina do Sul, Louisiana e Virgínia.
As políticas são diversas, dando destaque à Flórida pelo pioneirismo em aprovar uma lei em 2023 que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas durante o horário letivo e a restringirem o acesso às redes sociais no Wi-Fi do distrito. Já a Califórnia, por meio de uma legislação de 2024, exigiu que seus (quase 1.000) distritos escolares definissem suas próprias políticas sobre o uso de celulares até julho de 2026.
Diversos outros estados não proibiram o uso de celulares, mas encorajaram os distritos escolares a implementar tais restrições ou disponibilizaram recursos financeiros para o armazenamento dos dispositivos ao longo do dia.
No ano passado, Sanders lançou um programa piloto que oferece subsídios para escolas que implementarem políticas de restrição de celulares, resultando na adesão de mais de 100 distritos escolares. Agora, Sanders exigiu que todos os distritos possam aderir à proibição dos celulares durante o horário escolar, embora a criação das políticas específicas fique a cargo de cada distrito.
“Os professores sabem que (os celulares) são uma enorme distração, mas muito maior do que isso é o impacto na saúde mental de muitos de nossos alunos,” afirmou Sanders a repórteres na semana passada.
As pressões pela proibição também estão vindo por parte de outros governadores, incluindo Kelly Ayotte, de New Hampshire, que assumiu o cargo este mês, a governadora de Iowa, Kim Reynolds, e o governador de Nebraska, Jim Pillen. A governadora de Nova York, Kathy Hochul, mencionou que pretende implementar uma política estadual, embora não tenha fornecido detalhes.
Resistência às proibições
Apesar do apoio crescente, as proibições enfrentam resistência de alguns pais que argumentam precisar manter contato direto com os filhos em caso de emergência. Recentes incidentes de tiroteios em escolas ressaltaram essa preocupação, onde o acesso a celulares foi crucial para a comunicação entre alunos e familiares.
No entanto, defensores das proibições apontam que os próprios celulares podem representar riscos durante emergências, distraindo os alunos ou expondo suas localizações em situações de tiroteio. Além disso, pais que se opõem às proibições argumentam que a tecnologia é necessária para outras questões cotidianas, como a coordenação de transporte.
Keri Rodrigues, presidente da União Nacional de Pais, reconhece os perigos das redes sociais, mas critica a abordagem ampla das proibições estaduais, afirmando que elas não resolvem problemas subjacentes, como, por exemplo, bullying ou os riscos das redes sociais. “Não fizemos um bom trabalho como adultos para ensinar nossos filhos a navegar por essa tecnologia,” conclui.
Enquanto isso, os debates estadunidenses a favor e contra a proibição do uso de aparelhos celulares nas escolas continuam a polarizar as opiniões de autoridades, educadores e famílias. Essa discussão persiste até que se alcance um consenso que proteja efetivamente os mais vulneráveis - as crianças, considerando o impacto que as telas ocasionam em sua saúde mental e na distração dos pequenos durante as aulas. A questão da retirada dos celulares e a restrição do uso por parte dos filhos em momentos críticos de emergência é um tema que pode e deve ser abordado em busca de uma solução equilibrada.
Foto Destaque: estudantes felizes enquanto mexem no celular em sala de aula (Reprodução/Skynesher/Getty Images Embed)