A ONU, na segunda-feira (7), alertou que as inundações e secas intensificadas são um “sinal de socorro” relacionado às mudanças climáticas, que estão tornando o ciclo hídrico global mais imprevisível.
O relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) destaca que, no ano passado, os rios registraram os níveis mais baixos de água em mais de três décadas em 2023 e as geleiras apresentaram um percentual superior de perda de gelo em meio século, enfatizando a gravidade da situação, apontando que aproximadamente 3 bilhões de pessoas enfrentam escassez de água potável mensalmente, podendo ultrapassar essa marca de maneira imensurável até 2050. Como também, as mudanças climáticas, exacerbadas pelo aquecimento global, causando chuvas extremas e secas severas, impactando vidas e ecossistemas. Para enfrentar esses desafios, a organização recomenda a redução das emissões de gases de efeito estufa e investimentos em infraestrutura para gerenciamento adequado da água.
Alerta de socorro
A Organização das Nações Unidas (ONU) avisou na segunda-feira (7), que inundações e secas mais severas representam um “sinal de socorro” do que está por vir, à medida que as mudanças climáticas tornam o ciclo hídrico do planeta mais imprevisível. Segundo a Organização Meteorológica Mundial da ONU, os rios do mundo atingiram o nível extremo de secura em mais de 30 anos no ano passado, enquanto as geleiras sofreram a maior perda de massa de gelo em meio século, como também houve um crescimento significativo de inundações.
A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, afirmou em uma declaração que acompanha o relatório sobre o Estado dos Recursos Hídricos Globais que "a água é o canário na mina de carvão das mudanças climáticas". Ela enfatizou que as chuvas extremas, inundações e secas estão causando impactos significativos em vidas, ecossistemas e economias.
Causa dos eventos extremos
Celeste afirmou que o aquecimento global tornou o ciclo da água mais instável. O ano passado foi o mais quente já registrado, resultando em altas temperaturas e inundações, além de ocasionar secas severas em diversas regiões do mundo.
Vista aérea de um banco de areia do rio Madeira na Comunidade de Paraizinho, em Humaitá, no Amazonas em 2024 (Foto: reprodução/MICHAEL DANTAS/AFP/ Getty Images Embed)
Embora fenômenos climáticos naturais, como La Niña e El Niño, tenham influenciado esses eventos extremos, as mudanças climáticas induzidas pelo homem estão se tornando cada vez mais relevantes. Celeste explicou que uma atmosfera mais quente retém mais umidade, resultando em chuvas pesadas, enquanto a evaporação acelerada piora as condições de seca.
Consequências hídricas
A situação hídrica global se agrava, com a África sendo o continente mais afetado no ano passado em relação a vítimas humanas. No último ano, a Líbia sofreu uma grande enchente que resultou na ruptura de duas barragens, causando mais de 11 mil mortes, afetando 22% da população, segundo a OMM.
As inundações impactaram a Região do Grande Chifre da África, a República Democrática do Congo, incluindo Ruanda, Moçambique e Malawi. Atualmente, cerca de 3,6 bilhões de pessoas enfrentam a escassez de água potável em média uma vez no mês ao longo do ano, e esse número pode ultrapassar cinco bilhões até 2050, segundo a ONU. Nos últimos três anos, mais de 50% das bacias hidrográficas apresentaram níveis de secagem superiores ao normal, enquanto o fluxo para os reservatórios esteve abaixo do esperado em diversas regiões do mundo nos últimos cinco anos.
A fotografia aérea, tirada em 2023, mostra uma série de geleiras meio derretidas no Fiorde Scoresby, perto de Ittoqqortoormiit, Groenlândia (Foto: reprodução/OLIVIER MORIN/AFP/Getty Images Embed)
Derretimento de Geleiras
As geleiras estão derretendo em taxas sem precedentes, com mais de 600 bilhões de toneladas de água perdidas nos últimos 50 anos, segundo dados preliminares entre setembro de 2022 a agosto de 2023.
"O derretimento do gelo e das geleiras ameaça a segurança hídrica de longo prazo para milhões de pessoas. E ainda assim não estamos tomando as medidas urgentes necessárias", alertou Celeste.
Sistema de Monitoração
A Organização Meteorológica Mundial da ONU (OMM) propõe a redução das emissões de gases de efeito estufa e um melhor monitoramento dos recursos de água doce, para que sistemas de alerta precoce possam ser implementados visando mitigar os danos às pessoas e a vida selvagem. Celeste destacou que "não podemos gerir o que não medimos".
Investimentos em Infraestrutura
O diretor do departamento de hidrologia, água e criosfera da OMM, Stefan Uhlenbrook, ressaltou a relevância de investir em infraestrutura para conservar a água e proteger as populações dos riscos associados. Além disso, ele sublinhou a importância da conservação da água, especialmente no setor agrícola, que representa 70% do consumo global de água doce. Ele alertou para a dificuldade de se retornar a um ciclo natural da água mais regular, afirmando que "a única coisa que podemos fazer é estabilizar o clima, o que é um desafio geracional".
Vale ressaltar que a mensagem central do relatório é direcionada para o enfrentamento das mudanças climáticas e seus efeitos nocivo global no ciclo da água e um desafio generacional que requer ação imediata e eficaz.
Foto Destaque: Vista do Lago de Gera, localizado em uma bacia de morena, encostado na geleira e coleta suas águas derretidas nas quais pequenos icebergs flutuam na base da geleira Fellaria em Valmanenco, Itália (Reprodução/Pier Marco Tacca/Getty Images Embed)