Nos últimos dois anos houve um crescimento de 280% nas pesquisas do Google sobre o tema "Não-monogamia" no Brasil. O país está apenas atrás da Austrália e Canadá no ranque do Google Trends. Dentre as principais perguntas estão: "O que é não-monogamia?", "O que é pansexual não-monogâmica?" e "Como aceitar um relacionamento não-monogâmico?".
Segundo Juliana Braz Dias, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (Unb), a monogamia trata-se de uma forma de arranjo conjugal ligada à herança cultural, exatamente como os valores cristãos propagados pela religião. Enquanto Antônio Pilão, coordenador do grupo de Pesquisa Políticas, Afetos e Sexualidades Não-Monogâmicas da Universidade de São Paulo (USP), define a como uma forma de organizar a vida familiar e sua econômica em torno de duas pessoas, ou seja, a centralização da convivência íntima e todas as questões monetárias que envolvem exclusivamente entre dois indivíduos.
Poliamor e outros demônios (Foto: reprodução/Manuel Cabrera/bagre.life)
Sendo assim, a não-monogamia é a “descentralização”, a negação, a recusa ou, a quebra em comum acordo, da exclusividade sexual e afetiva, do controle - a questão monetária, não é bem definida. Adeptos da relação não-monogâmica falam sobre a abdicação da ideia de “posse” do outro, do desejo de se envolver com outras pessoas - que deve ser respeitado -, da boa comunicação, da confiança mútua, de “parceria", e acordos (combinados) pré-estabelecido.
Dentre as diversas formas de relacionamento onde a exclusividade sexual e afetiva não são requisitos estão: o relacionamento aberto, poliamor, poligamia e swing:
O relacionamento aberto e o swing envolvem apenas a liberdade sexual, onde se é permitido ter relações com outras pessoas, porém, sem afeto - este ainda deve ser restrito ao casal. Enquanto no poliamor e na poligamia, tudo é liberado: sexo e amor, nestas formas, criam-se laços.
O poliamor compreende várias pessoas se relacionando, sexual e amorosamente, ao mesmo tempo, ou, um relacionamento em casal - geralmente o mais antigo que envolve questões legais ou financeiras - e outros secundários. Na poligamia, geralmente, uma pessoa tem vários relacionamentos, compromissos afetivos. O swing envolve apenas sexo: troca de parceiros, de casais e sexo em grupo.
Relações não-monogâmicas (Foto: reprodução/Psicologiay mente)
Mas é difícil qualquer um desses tipos de relacionamento funcionarem se não houver uma ótima comunicação entre os envolvidos e o estabelecimento de limites. Mesmo assim, nenhum relacionamento está livre de tensões e conflitos, segundo a professor Juliana Braz Dias, assim como a manifestação de opressões já conhecidas nos relacionamentos monogâmicos: machismo, racismo, etarismo e capacitismo
Em se tratando das questões práticas, legais, ainda não se sabe muito o que fazer, afinal, a legislação brasileira reconhece apenas a monogamia como forma de matrimônio, sendo a bigamia, por exemplo, considerada crime previsto art. 235 do Código Penal. Entretanto, na cidade de Tupã, foi reconhecido o primeiro relacionamento poliafetivo em 2012, invalidada em 2018 pela proibição por parte do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) do registro de tais uniões em cartório.
Desta forma, filhos resultantes dessas relações não-monogâmicas ficam desamparados perante a lei em se tratando de reconhecimento de paternidade ou maternidade, herança, e questões práticas do dia a dia. Fato que irá dificultar bastante para a chamada Geração Z (jovens de 18 a 25 anos) que estão declarando cada vez mais adeptos destes tipos de relações.
Foto Destaque: Não-monogamia. Reprodução/Amente e Maravilhosa.