Na última terça (25), dois investigadores do Vaticano iniciaram uma auditoria, em Lima, no Peru, em decorrência das acusações de corrupção, abuso sexual e psicológico de menores, pelo grupo católico Sodalício de Vida Cristã.
Os crimes e suas autorias
As acusações de abuso psicológico, físico e sexual impulsionaram investigações pelo Ministério Público do Peru, em outubro de 2015, quando foi divulgado o livro “Meio monges, meio soldados”, de autoria do jornalista peruano Pedro Salinas junto a jornalista Paola Ugaz. A obra relata trinta ocorrências, sendo cinco de abuso sexual, apontando Luis Fernando Figari Rodrigo (fundador do movimento) como autor e, os outros dirigentes da organização como atuantes nos demais crimes.
Imagem da Obra "Meio monges, meio soldados” de Pedro Salinas junto a jornalista Paola Ugaz. (Foto: Reprodução/cdn.com.do)
Ao apresentarem o caso ao Vaticano, foi admitido pelo grupo abusos de tipo físico e psicológico individualmente, de modo que a prática não fosse estendida a toda organização. Também foi negado a existência de crime sexual, ainda que em 2007 tenha sido encontrado pela polícia o pupilo Daniel Murguía com um menino de apenas onze anos, de quem ia tirar fotos nuas. Murguía, segundo sua irmã Patricia Murguía, era próximo de Figari.
Após ser preso, a organização anunciou sua expulsão, alegando que tal situação era desconhecida pelo grupo. Logo depois, em 2010, Figari surpreendeu a todos renunciando seu cargo por motivos de saúde. No mesmo ano, suspenderam o processo de beatificação de Germán Doig Klinge, Vigário Geral do Sodalício, que em fevereiro de 2011 fora apontado pelo o jornal peruano, “Diario 16”, como autor do crime de abuso sexual, após alguns testemunhos. Doig reconheceu como esse o verdadeiro motivo de sua interrupção no processo de beatificação pelo seu líder, Figari.
Luis Fernando Figari Rodrigo, fundador do movimento. (Foto: Reprodução/elcomercio.pe)
O livro recolhe depoimento das vítimas de Germán Doig, onde uma delas declara: "Ele era muito carinhoso", diz. A vítima ainda afirma que Doig segurava sua mão e o abraçava nas salas privadas onde realizavam suas sessões de aconselhamento espiritual e acrescenta que, nas sessões realizadas ambos tinham de ficar nus para fazer os exercícios de energia, em que o Vigário se masturbava.
A composição e regras do Sodalício
O grupo foi fundado há quarenta e cinco anos, denominado por Sodalitium Christianae Vitae, em homenagem ao Sodalício ou à ideia de fraternidade entre os maristas. Era composto por leigos e sacerdotes consagrados que compartilhavam da mesma casa e comunidade. Evangelizavam, com o propósito de uma sociedade de vida apostólica e, uma de suas principais atividades era voltada a prática da obediência absoluta, direcionadas a horários, atividades, leituras, modo de vestir e estudos profissionais.
O Sodalício usufrui da lei canônica desde 1997, quando João Paulo II era papa.
Do Peru ao Brasil, Colômbia, Chile, Argentina, Equador, Costa Rica, Estados Unidos e Itália, são países pelos quais o Sodalício se estendeu. A organização conta com mais de 20.000 pessoas em 25 países, agrupando também atualmente, leigos não consagrados.
São responsáveis pela investigação pelo Vaticano o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, e o padre espanhol Jordi Bertomeu.
Foto Destaque: Logo Sodalicio de Vida Cristiana. Reprodução/aciprensa