Em relatório revisado e divulgado pela ONU nesta segunda-feira (23), massacre no Haiti, realizado por membros da gangue Wharf Jeremie, deixou 207 mortos. Acusados de praticar bruxaria, a execução em massa ocorreu no início de dezembro e, inicialmente, havia um número estimado de 187 vítimas. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos declarou que pelo menos 134 homens e 73 mulheres, na maior parte idosos, foram sequestrados, mortos a golpes de facão, queimados ou desmembrados.
Perseguição religiosa
A origem dos ataques sucedeu à doença do filho do líder da gangue, Monel “Mikano” Felix. Segundo ele, os moradores fizeram um feitiço vodu para ocasionar o seu adoecimento. No parecer, a ONU afirma que as vítimas sofreram intolerância religiosa após atos violentos em templos vodus e cerimônias.
No Haiti, o vodu é uma das religiões históricas na cultura local, entretanto é perseguida e acusada de bruxaria há anos. Mesmo sendo reconhecida oficialmente em 2003, seguidores sofrem ameças e associação a práticas e rituais malignos, principalmente por rivais.
“Esses crimes atingiram os próprios alicerces da sociedade haitiana, tendo como alvo as populações mais vulneráveis”, afirmou uma porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, frente ao impacto na população.
A representante especial do secretário-geral no Haiti e chefe do Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti (Binuh), María Isabel Salvador, relatou que “não é possível agir como se nada tivesse acontecido” e solicitou a condução de uma investigação sobre os “crimes horríveis” e punição aos “seus autores, bem como aqueles que os apoiam”.
Insegurança e violência em massa no Haiti é tema de discussão no Conselho de Segurança da ONU (Foto: reprodução X/@nacoesunidas)
Estado de emergência
Desde janeiro deste ano, mais de 5,3 mil pessoas foram assassinadas no Haiti e, somados, mais de 12 mil desde 2022. Em resposta, o Conselho de Segurança da ONU desaprovou os atos violentos dos grupos armados. “Condenamos veementemente as contínuas atividades criminosas desestabilizadoras de gangues armadas e enfatizamos a necessidade de a comunidade internacional redobrar seus esforços para fornecer assistência humanitária à população”, disse.
Diante da série de ataques coordenados, o governo haitiano declarou estado de emergência em todo o país entre 22 de dezembro deste ano a 21 de janeiro de 2025, segundo o Conselho de Ministros do Haiti. As ações contra a onda de violência pretende conter a insegurança alimentar, o colapso dos serviços públicos e a crise agrícola da nação, especialmente na capital Porto Príncipe.
Em nota, membros do Conselho de Segurança da ONU também destacaram a necessidade de apoio da Polícia Nacional do Haiti e sua capacidade de restaurar a lei e a ordem através da Missão Multinacional de Apoio à Segurança Multinacional - MSS.
Foto destaque: Marca de tiros em vidraça (Reprodução: X/@nacoesunidas/UNICEF)