O Fantástico revelou o resultado de uma investigação jornalística referente a um problema crônico brasileiro que já vem ocorrendo à muito tempo: o desvio de dinheiro público do programa Farmácia Popular, do Governo Federal. O repórter Giovani Grizotti conseguiu obter informações exclusivas e descobriu as estratégias usadas pelos criminosos. Durante a apuração dos fatos, foram descobertas fraudes que provocam um rombo bilionário nos cofres públicos, e até farmácia fantasma.
Registro de farmácias que mais desviaram recursos (Foto Reprodução : Tribunal de Contas da União/Fantástico)
A plataforma de acesso à registros sobre a saúde conhecida como ConectSUS, se tornou uma boa opção para as pessoas que querem pegar o comprovante das doses da vacina contra a Covid-19. O aplicativo também contém o histórico de atendimentos na rede pública (UBS). Entretanto, o aplicativo se tornou alvo de uma fraude.
Aplicativo ConectSus ( Foto Reprodução: Getty Imagens)
“Mexendo no aplicativo que eu não conhecia, eu vi que tinha uma parte de medicamentos”, conta John Lennon Santos dos Santos, enfermeiro.
E aí, muitas pessoas tiveram a mesma surpresa: no aplicativo, aparece a retirada de remédios, mas a verdade é que a pessoa nunca pegou nem solicitou nada.
“Diz que eu tirei o medicamento em Sidrolândia, Mato Grosso do Sul. Só que eu nunca pisei no Mato Grosso. Tão pouco tenho parentes lá”, diz Luiz Felipe da Silva Cruz, analista fiscal.
Registro da fraude analisada no aplicativo
Felipe mora em São Paulo, que fica a mais de mil quilômetros de Sidrolândia. Já o John vive no Rio Grande do Sul. E nunca esteve em Pitangueiras, no interior paulista, a 1.500 de distância.
“O que impressiona é a quantidade de retirada dos medicamentos no meu CPF, 800 unidades de uma medicação, mais 420 de outra”, relata.
Os medicamentos liberados irregularmente são do programa Farmácia Popular, do Governo Federal, que fornece medicamentos à pessoas com comorbidades, como hipertensão, diabetes, asma e colesterol alto.
Os processos judiciais foram acompanhados durante dois meses pelo repórter Giovani Grizotti, que descobriu com seu excelente profissionalismo as artimanhas dos criminosos. O intuito dos golpistas era driblar o sistema de compra e venda, para aplicar golpes. Já pelos meios legais, obter esses medicamentos é mais burocrático e demorado . O Governo suspendeu temporariamente novos credenciamentos. Por isso, o fraudador compra o CNPJ de drogarias já habilitadas pelo governo.
A Polícia Federal investiga uma quadrilha de Goiás que agia com farmácias fantasmas. O desvio: cerca de R$ 10 milhões.
“Uma organização adquiria essas farmácias única e exclusivamente para promover fraudes no sistema da Farmácia Popular. Promoviam lançamentos fraudulentos no sistema utilizando o CPF de terceiros”, destaca Franklin Medeiros, delegado.
Quais medidas devem tomar as pessoas que foram vítimas de fraudes?
O Ministério da Saúde orienta à quem descobriu que teve o nome usado de forma indevida em retiradas irregulares de remédios à procurar a ouvidoria do Sistema Único de Saúde. Quanto à evidência de farmácias fantasmas e à demora na realização de fiscalizações, o diretor do Denasus reconheceu os problemas e prometeu mudanças.
“Nós criamos uma nova metodologia baseada em matriz de risco. É como se fosse uma malha fina e a gente consegue identificar os pequenos casos e a gente direciona a ação do Denasus naqueles casos de risco maior”, afirma Cláudio Costa.
Na quinta-feira da semana passada, um dia após a entrevista do diretor Denasus ao Fantástico, o Ministério da Saúde confirmou que um novo modelo de fiscalização já entrou em vigor.
Foto Destaque: Farmácia . Reprodução/ Getty Imagens
