Brasil e os Estados Unidos estão em momentos econômicos distintos. Enquanto o Banco Central do Brasil eleva a taxa Selic para combater a inflação, o Federal Reserve (Fed) dos EUA reduz os juros para evitar uma recessão. Em teoria, essa diferença deveria fortalecer o real frente ao dólar. No entanto, a realidade é mais complexa. Atualmente, o dólar está cotado a R$ 5,519 no mercado comercial e a R$ 5,728 no turismo.
Economistas destacam que o risco fiscal brasileiro é um dos principais obstáculos para a valorização do real. A incerteza sobre a sustentabilidade das contas públicas e o aumento dos gastos governamentais, especialmente com a aproximação das eleições presidenciais de 2026, são fatores que aumentam a percepção de risco.
Preços - IPCA e meta para inflação (Foto: reprodução/Gov.br/BCB)
Impacto do diferencial de juros
O diferencial de juros entre Brasil e EUA está aumentando. A previsão é que a Selic atinja 11,25% até o final do ano, enquanto a taxa americana pode cair para 4,25%. Esse cenário torna o Brasil mais atrativo para investimentos, via carry trade, onde investidores tomam empréstimos em países com juros baixos e investem em países com juros altos. No entanto, uma grande diferença de juros não garante a valorização do real. A percepção de risco é crucial.
Marco Caruso, economista do Santander, destaca que a resiliência da economia americana e o risco fiscal brasileiro são fatores determinantes. Uma recessão nos EUA poderia fortalecer o dólar, pois a moeda é vista como um ativo seguro. No Brasil, a preocupação é com o aumento dos gastos públicos e a sustentabilidade fiscal a longo prazo.
Valorização do real freada pela força do dólar (Foto: reprodução/Agência Brasil/José Cruz)
Expectativas fiscais
Para que o real se valorize, é necessário mais do que um diferencial de juros favorável. A confiança na economia brasileira e a redução dos riscos fiscais são essenciais. Economistas alertam que, sem uma melhora significativa no cenário fiscal, o dólar deve continuar valorizado. A expectativa é que o governo brasileiro entregue um déficit zero em 2024, mas os desafios fiscais para 2025 e além permanecem.
Além disso, a proximidade das eleições presidenciais de 2026 adiciona uma camada extra de incerteza ao cenário econômico. Historicamente, períodos eleitorais no Brasil são marcados por volatilidade no mercado financeiro, com investidores adotando uma postura mais cautelosa. A possibilidade de mudanças nas políticas econômicas e fiscais após as eleições contribui para a manutenção do dólar em patamares elevados.
Outro fator que influencia a cotação do dólar é a percepção de risco global. Em tempos de incerteza econômica mundial, o dólar tende a se valorizar como um ativo seguro. A recente desaceleração econômica na China e as tensões geopolíticas em várias regiões do mundo aumentam a demanda por dólares, pressionando ainda mais a cotação da moeda americana.
Foto Destaque: Nota de dólar elevada por moedas (Reprodução/Freepik)