Um antigo assunto litigioso retorna ao noticiário global com desfecho em tom de pacificação. O caso sobre a suspensão da conta no antigo Twitter, hoje X, do presidente Donald Trump, após ataque ao capitólio em 6 de janeiro de 2021, tem movimentado as instâncias judiciais nas últimas semanas. Na época, Trump abriu uma ação contra a empresa, e contra Jack Dorsey, CEO do antigo Twitter.
Conforme informações trazidas pelo Wall Street Journal na última quarta-feira (12), sob a chancela de Elon Musk, o X, concordou com o montante de US$ 10 milhões (R$ 57,6 milhões), valor a ser pago no processo, que já se arrasta por quatro anos.
Relembrando os fatos
Após a derrota de Trump nas eleições de 2020, houve uma série de mensagens espalhadas na rede social Twitter, com relatórios falsos com dados sobre uma possível fraude eleitoral, favorecendo o candidato eleito Joe Biden. Nas "tuitadas", havia, também, um teor motivador e convocatório, para que os seguidores e apoiadores de Trump, fossem para Washington, para um grande comício chamado "Stop The Steal", no dia 6 de janeiro de 2021. Todo esse burburinho tornou-se o caótico e violento motim no Capitólio, em Washington.
Protestos em 6 de janeiro de 2021 no Capitólio, em Washington (Foto: reprodução/picturie alliance/Tayfun Coskun)
Começado em protesto de manifestantes contra a certificação da vitória de Biden, a baderna literal, no Congresso Nacional dos EUA, gerou prejuízos gravíssimos a muitos que ali estavam, inclusive, mais de cinquenta pessoas saíram feridas, e pior, cinco integrantes do ato morreram.
A revolta, que segundo a gestão do Twitter, teria sido potencializada por Trump em seus disparos na rede social, refletiu na ação da plataforma ao decidir suspender a conta pessoal do presidente, com alegações de prováveis riscos de incitação à violência.
"Após uma análise detalhada dos Tweets recentes da conta @realDonaldTrump e do contexto em torno deles — especificamente como eles estão sendo recebidos e interpretados dentro e fora do Twitter — suspendemos permanentemente a conta devido ao risco de mais incitação à violência", comunicou o Twitter na época, explicando acerca da decisão tomada pela plataforma.
A Meta e Google, em resposta aos fatos envolvendo Donald Trump, tomaram as mesmas medidas de suspensão que o Twitter. Em contrapartida, Elon Musk, após comprar o Twitter em outubro 2022, reativou a conta do presidente no mês seguinte.
Processos
Em julho de 2021, os advogados de Trump, moveram processos contra três grandes empresas de tecnologia, das quais, o Twitter, é uma das partes envolvidas. O processo, diretamente relacionado à antiga plataforma, passou por diversos momentos de tensão até o acordo.
No ano de 2022, um juiz federal rejeitou o processo, levando os advogados de Trump a protocolarem uma apelação (De acordo com o sistema judiciário dos EUA, o recurso para a Corte de Apelação, preenchidos os requisitos, é um direito da parte insatisfeita com a decisão). Durante o outono de 2023, um tribunal federal de apelações, ouviu a argumentação que justificava a insatisfação ante a decisão do juiz, porém, nenhuma manifestação sobre a decisão havia sido feita até o fim período eleitoral de 2024 nos EUA.
Duas semanas após Trump ser declarado eleito no último pleito norte-americano, os advogados do presidente deram entrada no tribunal, uma carta que comunicava o interesse de ambas as partes, em resolver o litígio, e que um acordo estava sendo discutido.
Doge liderado por Musk tem sido amplamente responsável por diversas ações pelo mundo relacionado ao corte de gastos do governo Trump (Foto: reprodução/Getty Images Embed/BrandonBell)
Na semana passada, após quase três meses de conversas, as partes envolvidas deram entrada na moção para de rejeição do recurso, com concessão efetuada nesta segunda-feira (10). O acordo, apesar de toda a proximidade de Elon Musk, dono do X, com Donald Trump, e seu intenso envolvimento em decisões do atual governo, ao liderar o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), e ainda, a decisão da equipe de Trump em deixar o processo fracassar, prosseguiu, resultando no valor mencionado acima. Neste caso, a expressão "Amigos, amigos, negócios à parte", veio a calhar.
Recentemente, um acordo firmado com a Meta, rendeu a Trump, noutro processo referente aos mesmos atos de 6 de janeiro de 2021, no Capitólio, nada menos do que US$ 25 milhões (R$ 144 milhões). Na mesma linha de ações visando acordos, o Google, que baniu Trump do YouTube após o mesmo episódio, é o próximo da lista, segundo os especialistas no assunto. Tanto o X, quanto o Google, ainda não comentaram nada sobre as informações.
A presença dos CEOs destas empresas envolvidas nos processos, e outros que atuam fortemente dentro do território norte-americano, quer seja como apoiadores da campanha republicana nas eleições passadas, quer seja como entusiastas do governo, ou ainda, como interessados no mercado estadunidense e seus nichos variados, sinaliza a busca pela política da boa vizinhança, nesta nova era Trump.
Foto destaque: Elon Musk prestando continência à bandeira dos EUA (Reprodução/X/@elonmusk)