Grag Queen, nome artístico de Gregory Crescencio da Silva Mohd, de 28 anos, nasceu em Canela, Rio Grande do Sul.
Vencedora do reality "Queen Of The Universe", dos Estados Unidos, que reúne em uma competição diversas drag queens, além de cantora, Grag Queen mostrou ser multifacetada e assumiu este ano como nova host de "Drag Race Brasil", o reality das drags brasileiras.
Um passo para o mundo musical
Gregory é encantado pela música desde a Igreja Evangélica, onde integrava o grupo de louvor. Antes de iniciar de fato como drag queen, em 2014, Gregory realizou uma viagem para Nova York e estudou em escolas licenciadas da Broadway, em uma "Winter Music School" ministrada por atuais cantores e também ex-cantores de musicais norte-americanos.
Em um período de quatro anos, Gregory foi o grande protagonista do musical “Korvatunturi” além de ter feito parte do show em Gramado, o “Bellepoque”.
Ascensão de Grag Queen
Já como Grag, estreou como cantora da dupla “Armário de Saia” em fevereiro de 2018, após ter viralizado um vídeo de um medley com várias músicas de drag queens brasileiras ao lado de seu amigo WesDrag. Como dupla, lançaram o primeiro videoclipe intitulado “Toma Conta”, feat com a drag Bianca Dellafancy.
Posteriormente, em carreira solo, Grag lançou sua primeira música no ano de 2021, intitulada “Bota Fé”. No entanto, após diversos lançamentos, Grag lançou “Party Everyday” em 2022, impulsionando ainda mais sua carreira e levando seu nome para todos os lugares.
Clipe de Party Everyday. (Reprodução/Youtube/Grag Queen)
Em 2022 a drag queen foi a grande homenageada em um evento do Reino Unido, o “Gay Times Honors”, que celebra e homenageia grandes personalidades LGBTQIAP+. Além disso, Grag Queen performou e recebeu o prêmio de honra durante a cerimônia, como "Latin American Icon".
Este ano, Grag Queen estreou na primeira edição do "The Town" introduzindo uma nova era musical cantando de maneira inédita a faixa “Sirene”, sua nova canção.
Confira a entrevista exclusiva ao Lorena R7 abaixo:
1- Como foi pra você a experiência de ter pisado pela primeira vez no The Town? Qual a sensação de ter visto toda aquela galera?
“Foi surreal! Eu acho que eu tava no meu mood Grag Queen no seu 100% total de funcionamento, com banda, com backing, com bailarinos, um repertório, um show todo amarrado bem pensado por mim e pela minha equipe, pessoas importantes como a minha irmã no palco, como a minha mãe na plateia, como os meus amigos né? Que são a minha equipe também… o que é muito legal, nos bastidores…
Então o The Town foi demais, acho que a grande massa do público acaba sendo consequência de todo o significado do rolê inteiro.”
2- "Sirene", música que você apresentou em primeira mão no festival, marca uma nova era artística para você. O que seus fãs podem esperar da nova fase da Grag?
“Então… ai, eu amo quando perguntam isso! Podem esperar muito ‘bug bug bug’, muita dança, muita estética nova, eu quero trazer coisas vintages mas também com brasilidades, com modernidades… aquela experiência boa que Grag Queen sabe proporcionar, né? Esperem sim muita coisa vindo, já estamos escrevendo coisas novas, planejando clipes visuais novos, shows… podem deixar que vou tirar um bom suco dessa laranja setentista, dessa laranja retrô modern, dessa laranja de gogó e de fazer todo mundo dançar né? E se divertir, que é o que eu mais amo!”
Clipe de Sirene. (Reprodução/Youtube/Grag Queen)
3- O que significou pra você ter vencido o Queen of The Universe? Como acha que pode inspirar outras pessoas que também queiram permitir com que suas drag queens voem?
“Eu acho que a minha experiência no Queen Of The Universe é auto explicativa, né? É muito nítido que é o suprassumo do brasileiro que não desiste, do sonhador que não desiste, do artista que não larga mão da sua própria arte… Eu não vou romantizar porque isso também requer oportunidades, mas também me deram a oportunidade de estar lá fora mas eu não deixei de estar preparado, né? Não falei inglês do nada, não cantei do nada, não aprendi a fazer drag do nada, foi fruto do meu trabalho.
Então pra mim nada mais é do que, não só para drags que voam, para artistas, para pessoas que querem voar, para além disso, estar preparada para as oportunidades que você deseja é a coisa mais coerente do mundo não é? Então é isso, esteja preparada, esteja de coração aberto, seja uma pessoa do bem, que com certeza o universo vai trazer as coisas que você mais almeja, precisa, e deseja [risos].”
4- Como foi pra você ter conhecido pessoalmente o ícone que é RuPaul?
“Acabei falando em várias entrevistas o quão surreal foi conhecer a minha estrela máxima! Ela é a minha figura de ídolo muito muito nítida assim, em qualquer coisa que perguntam, o que ela fez através da arte drag, o que ela conseguiu tocar seja dentro ou fora do país dela… ela mudou a minha vida com a ideia dela de televisionar drags. Então para mim todas as ideias, toda a história, toda a vivência, pensando nela, agora lendo o livro dela e também vivendo coisas das quais ela vive como uma apresentadora, né? Atravessamentos… Cada vez me faz mais admirar e amar essa… [risos] essa mulher eu ia dizer! [risos], essa drag queen que é muito incrível e mudou a história da arte mundial!“
Grag Queen e RuPaul (Foto: reprodução/Instagram/@gragqueen)
5-Sabemos que você é agora a mais nova apresentadora do Drag Race Brasil. Se pudesse me dizer, quais estão sendo seus maiores desafios nessa nova caminhada?
“Desafios… então, eu pensei que seria mais desafiador, sabia? Pensei que seria amedrontador, que teria que bater de cara com críticas que eu não gosto, com pessoas do Brasil que sei que são afiadas, apimentadas… que teria que lidar com esse tipo de coisa.
Está sendo incrível! Estou sentindo uma onda de consolidação, de aclamação e também de jogar junto, sabe? Que é uma coisa que eu vi pouco o Brasil fazer diante de outras temporadas assim…
Está todo mundo jogando junto, assinando streaming sabe? Cultivando a palavra do Drag Race Brasil… estão gostando muito, fazem questão de elogiar cada triunfo meu seja dentro ou fora do programa. Então para mim até agora, posso pagar com a minha língua, né? [risos], mas até agora está sendo a melhor experiência da minha vida, e olha que eu pensei que depois do Queen Of The Universe seria difícil superar, mas daí o universo foi lá e disse: ‘Amor, vamos fazer mais? Vamos trabalhar mais?’, e eu estou vivendo, estou agradecidíssima! Tem sido uma delícia estar acordada, estar viva pra acompanhar tudo que está acontecendo, todo esse resgate!”
6-Toparia outro projeto que envolve também a área da comunicação, apresentando outro reality?
“Com certeza! Eu me limitava achando que eu era só cantora, e como eu cantava bem eu já disse: ‘Não, então é isso que eu sei fazer! Só cantar, é isso que eu quero fazer, vamos cantar para sempre!’ ,até que veio esse viés de comunicação, de apresentação, de falar, de se expressar, né? E é uma coisa que eu sinto que me foi tirada exatamente pela opressão que botam em corpos como a gente, como a gente acaba sendo oprimido acabamos crescendo pessoas tímidas, acanhadas… Então descobri que dentro de mim tem muito conteúdo do qual eu consigo expressar de uma forma legal!
Tenho lapidado, quero estudar mais, quero entrar mais! Como boa artista eu acho que o estudo sim faz parte da nossa profissão, então quero entrar mais, fazer mais coisas… mas já estou muito feliz só com a oportunidade de poder me comunicar dentro de um universo que me pertence muito tipo o Drag Race Brasil!”
Grag Queen (Foto: Rodolfo Magalhães/@rodolfomagalhaes)
7- Como surgiu a Grag Queen? E por qual razão escolheu esse nome?
“Grag Queen surgiu por um acidente na internet, estávamos eu e um amigo querendo fazer sucesso neste mundo muito doido, daí acabamos nos vestindo de drag, fomos fazer um vídeo, o vídeo acabou viralizando e todo mundo se apaixonou pelas drags… daí no ‘bum,pa,pum’ do nada drag!
E como o meu nome é Gregory, eu disse: ‘Ah, por que não Grag Queen? Me chamavam na escola tanto de Grag Queen, chorava tanto no banheiro, achava tão ofensivo… por que eu não ressignifico e faço essa Grag Queen ser a redenção da minha vida?’ e olha, tem sido, viu?! Salve Grag Queen!”
Grag Queen (Foto: Rodolfo Magalhães/@rodolfomagalhaes)
8- Sempre recebeu apoio quando decidiu que seguiria na carreira artística como drag queen?
“Não, como a maioria das drag queens do Brasil. Eu acho que por mais que Pabllo, Gloria vinham esfregando na cara de todo mundo o quão bem sucedida a gente podia ser com drag, a gente sabe muito bem como que é o Brasil, como que é o próprio mercado, como que é o próprio mercado dentro das drags mesmo. Por isso que eu faço questão de ser uma pessoa extremamente aberta e extremamente facilitadora e auxiliadora de artistas pequenos.
Não é fácil de entrar nessa bolha, não é fácil fazer sucesso como artista no Brasil, não é fácil fazer sucesso como cantor, como cantora drag. Então não, não recebi apoio nem de amigos, nem de família, todo mundo pagou para ver! Eu tive uma história de muito triunfo, que pagaram pra ver e viram né? Daí agora todo mundo apoia, todo mundo acredita, todo mundo sempre amou, todo mundo não podia perder…
Mas é isso, sem ressentimentos, eu só gosto de deixar claro que a história não se muda, né? Quem apoiou apoiou e quem não apoiou não apoiou e tá tudo bem, deu tudo certo!”
Grag Queen (Foto: Maicon Douglas/@maicondouglasfotografia)
9-Qual seu maior propósito com a Grag Queen? Por que ela é tão importante pra você?
“Ela é a combinação de todas as coisas que eu sei fazer, ela é o resgate de todos os projetos artísticos, pessoais e de evolução como ser humano mesmo! A Grag Queen tem me dado qualidade de vida, tem me dado estabilidade financeira, oportunidade de sonhar mais alto, realizar sonhos do Gregory… então o meu maior propósito sempre vai ser ser feliz, ser fiel a minha arte, ao que eu gosto e o resto acho que vem com muito trabalho e muito esforço!”
10- No início da sua caminhada, a opinião das pessoas costumava te abalar, te fazer pensar em desistir ou nunca permitiu com que isso te destruísse?
“Amor, se eu falar que isso é mentira, que eu não deixei me abalar, eu vou estar sendo a pessoa mais hipócrita do mundo, né? É muito difícil isso não acontecer com a gente, ainda mais falando novamente de corpos que por toda a pressão familiar, escolar, da igreja, de lugares que a gente habita, a gente acaba se tornando um ser humano, pelo menos eu, na minha esfera, acabei me tornando um ser humano que tem necessidade de autoafirmação, de aprovação externa... E todas as vezes que as pessoas tinham a oportunidade de jogar pra baixo elas faziam isso com zero empatia, com um total de grandeza assim dentro delas… porque é muito doido, é muito doloroso ver uma pessoa vencendo né? É muito doloroso saber que isso existe!
No meio da minha caminhada acabei me desfazendo de muitas pessoas porque elas não sabiam nem se conter, sabe? Nem disfarçar o quanto elas tinham inveja, tinham frustração de ver o outro vencendo.E eu não estou falando disso botando a pessoa em um patamar de vilão, até porque inveja é um instinto, né? Então o que difere é a terapia que a gente faz.
Mas enfim, não vou dizer que não me abala ainda, se eu ler coisa ruim eu vou ficar um pouco triste, mas graças a todo o meu processo terapêutico, toda a chance que eu dei pra mim de restaurar a minha saúde mental, eu vou lá, me aconselho, me pego no colo… que é o que a gente tem que fazer né? A gente é responsável, não é nossa culpa os estragos que fizeram com a nossa cabeça, mas a gente tem essa responsabilidade de nos cuidar e nos amar.
11- Como você enxerga a ascensão de grandes artistas drag queens brasileiras como você? Acha que ainda há muito a ser conquistado?
“Com certeza! Eu acho que a gente nunca conquistou tudo, acho que nunca existe um lugar de chegada, senão a gente pararia né? Então quero estar viva para ver a dominação, a doll domination, a dominação mundial e universal das drag queens!”
12- Quais novos projetos podemos esperar da Grag Queen? Algum que possa nos contar?
“Está na hora de dropar, né? Umas músicas a mais, alguns projetos a mais, falei bastante do álbum novo, da era nova que quero construir… o resto, vamos torcer para ter mais temporadas, para ter all stars, para ter as temporadas 15,16… eu quero muito muito ser a host do Brasil por muito tempo!”
Agradecemos Grag Queen pela entrevista exclusiva, desejamos muito sucesso e ainda mais realizações de sonhos nessa caminhada!
Foto destaque: Grag Queen. Foto: Rodolfo Magalhães/@rodolfomagalhaes