Leveza marca cinebiografia “Mauricio de Sousa – O Filme”
Longa retrata história de inspiração e resiliência do desenhista para transformar seu sonho em realidade, detalhando como nasceram os personagens da turminha da Mônica

O menino curioso, nascido em Mogi das Cruzes, percorreu um longo percurso até se tornar o grande ícone da cultura brasileira, espalhando alegria e bom humor com as singelas confusões causadas pela Mônica e seus amiguinhos, personagens inspirados nos familiares e amigos próximos de Mauricio. Pedro Vasconcelos, que assina direção e roteiro, confessou ter feito o filme para os apaixonados pela obra do Mauricio de Sousa, que estreia no próximo dia 23 de outubro nos cinemas.
História para toda a família
Desde quando Pedro Vasconcelos começou a rascunhar as primeiras linhas do roteiro, um só pensamento vinha em sua mente, o qual externou a Mauricio e compartilhou, com exclusividade, ao Lorena R7: “O Brasil precisa conhecer a sua história. A gente sabe sobre o seu trabalho, mas a gente não sabe a sua história e você é muito importante pra esse país. E Pedro, continua: “É importante ele (se referindo a Mauricio) saber o impacto de tanto trabalho e do benefício que ele gerou pra todos nós”.
Mauricio aceitou a proposta de Pedro, e lhe confessou um desejo: “Quero um filme para toda a família”. E assim, foi atendido! Interpretado por Diego Laumar na infância e na fase adulta por seu filho, Mauro Sousa, o longa-metragem inicia com Mauricio pequenininho, ouvindo e imaginando as histórias contadas por sua Vó Dita, interpretada por Elisabeth Savalla, que tinha paixão por reunir a criançada da rua para, todas as noites, contar histórias, funcionando como um ‘Netflix’ da época.
E segue, sempre com muita leveza e naturalidade, não se tratando, apenas, da contação de uma história. Pedro Vasconcelos foi além; ele foi capaz de capturar a alma do quadrinista, trazendo planos bem fechados em diversos momentos do personagem principal, seja enquanto criança ou adulto, transmitindo aos espectadores como se dava a inspiração do jovem desenhista até chegar aos personagens que impulsionaram e consolidaram sua carreira com os quadrinhos.
Baseados em sua família e amigos próximos, cada personagem traz um pouco da essência de Mauricio, que nunca perdeu a inocência e a imaginação profunda, criando não só crianças e animais que gostavam de brincar, que brigavam e filosofavam sobre a vida, mas verdadeiras inspirações positivas para toda uma geração, que cresceu acompanhando essas histórias, rindo e se divertindo e se inspirando com elas.
Impacto positivo na vida das pessoas
Segundo Pedro, ao insistir e não desistir do sonho de viver às custas de seus desenhos, “Mauricio influenciou toda uma geração positivamente”.
Não foi tarefa fácil. Logo no início, Mauricio tomou um primeiro não, capaz de tirar qualquer um do prumo. Mas como o mundo é feito, também, de almas generosas, nesse mesmo dia do não, recebeu a orientação de uma pessoa, que iria traçar o rumo de sua carreira, que era primeiro para fazer amizades na redação e somente depois disso, apresentar seus desenhos, o que já não seria mais para colegas de trabalho, mas sim, para amigos!
Mauricio foi a luta; trabalhou como repórter policial, pois era a única vaga que tinha no jornal, para somente um tempo depois lançar suas primeiras tirinhas.
E o caminho seguiu entre altos e baixos até que, finalmente, as coisas entraram nos trilhos e uma sequência feliz e carismática de personagens passou a fazer parte da vida das pessoas.
Personagens quase realistas
Bidu foi o primeiro personagem de Mauricio. Surgiu em 1959, inspirado no seu cãozinho de infância. A princípio, Bidu era cinza, mas um erro de impressão, acabou colorindo o mascote no tom azul, bem aceito por Mauricio.
Cebolinha veio na sequência, relembrando um amigo de infância do quadrinista, apelidado por seu pai dessa forma, pelos cabelos espetados. O menino tinha o costume de trocar o “r” pelo “s”, eternizando sua forma “elada” de falar.
Depois foi a vez de Cascão, companheiro inseparável de Cebolinha, um menino que Mauricio conheceu na infância e que não gostava de tomar banho…
Horácio chegou em 1961, e é considerado pelo próprio desenhista como seu alter ego. Um dinossauro gentil, sensível, pensativo e vegetariano, que traz temáticas como o amor, a amizade, a ética e o sentido da vida, sempre com uma mensagem positiva.
O Astronauta surgiu em 1963, um personagem que vive isolado no espaço, refletindo sobre a existência e explorando os mistérios do universo, mantendo uma conexão com a vida na Terra.
A gama de personagens masculinos era alta; chamado de misógino, ou seja, alguém que tem ódio, aversão ou preconceito contra mulheres e meninas, Mauricio se colocou diante de sua inspiração novamente, a fim de criar personagens femininas. E aí que sua filha Mônica, com personalidade forte, brava e briguenta, brilha aos olhos do cartunista e se torna a primeira personagem feminina e grande companheira de Cebolinha, apesar das brigas.
Não passou muito tempo, Mônica saiu à frente e se tornou muito popular, tornando-se a grande protagonista das histórias de Mauricio. Ao lado dela, sua outra filha, Magali, que estava sempre faminta e comendo melancia, se torna a outra personagem feminina e melhor amiga de Mônica.
De pai para filho
Mauro Sousa, filho de Mauricio, exatamente como afirmou Pedro Vasconcelos, era o “único” ator que poderia dar vida ao quadrinista na fase adulta, pois vem “estudando” esse personagem, num laboratório real, desde que nasceu. Mauro perpassa, com extrema naturalidade, diversos momentos sensíveis e decisivos da vida e carreira do pai, não só emocionando, mas literalmente transmitindo a personalidade de Mauricio, um sonhador disciplinado, um artista empreendedor, um homem observador, com valores éticos e afetivos fortes, que alia imaginação, otimismo e generosidade.
Trailer de “Mauricio de Sousa – O Filme” (Vídeo: reprodução/YouTube/
)Mauro relata: “Foi um momento muito gostoso de eu conhecer, ainda mais, a história do meu pai. (…) Eu soube né que ele (se referindo a Mauricio de Sousa) montou o roteiro junto com o Pedro, então, obviamente, eu tinha que entender com ele, o que que ele queria, qual era o tom que ele queria trazer pra esse personagem, pra essa história, pra aquela cena, em específico e, fora isso, em casa, a pesquisa das personagens, eu acho que a minha vida inteira, eu fui captando ali trejeitos, sentimentos e comportamentos do meu pai. Entrei muito em contato com o que eu lembrava do meu pai né, e tentei fazer aqui pro filme”.
Além de Mauro, estão no elenco Thati Lopes, como Marilene, sua primeira esposa, Elizabeth Savalla como Vó Dita, Emílio Orciollo Neto, como Antonio de Sousa, pai do quadrinista e Natália Lage, como Nila, mãe dele.
O longa estreia dia 23 de outubro nos cinemas, mês em que Mauricio de Sousa completa 90 anos de idade, uma grande e merecidíssima homenagem ao desenhista que nunca desistiu de seus sonhos!