[Exclusivo] Thiago Soares, Matheus Abreu e diretores falam de “Um Lobo Entre os Cisnes”
O Lorena.R7 entrevistou o biografado, o ator que o interpretou e os cineastas Marcos Schechtman e Helena Varvaki sobre a nova cinebiografia brasileira; confira

Durante a noite da última quarta-feira (23) o Rio de Janeiro se tornou palco de “Um Lobo Entre os Cisnes”, nova cinebiografia nacional sobre a vida e carreira do maior bailarino do Brasil, Thiago Soares. A pré-estreia exclusiva para convidados aconteceu na Gávea, zona Sul da cidade, e reuniu o elenco e equipe da obra e presenças ilustres como Glória Pires, Marjorie Estiano e Beth Faria. O filme estreia hoje (24) nos cinemas de todo o país.
Trama de “Um Lobo Entre os Cisnes”
Baseada na vida e carreira de Thiago Soares, um dos bailarinos mais notáveis do Brasil e do mundo, “Um Lobo Entre os Cisnes” aborda sua trajetória através da atuação de Matheus Abreu, desde a adolescência na zona norte do Rio de Janeiro. Morando com a tia e precisando urgentemente de uma forma de renda, Thiago sonhava que sua vida entrasse nos trilhos através do Hip-hop, mais especificamente dançando o ritmo. Mas tudo muda quando seu professor de dança o convence a estudar em uma escola profissional de balé, visando a possibilidade de uma bolsa de estudos.
Assista ao trailer de "Um Lobo Entre os Cisnes" (Reprodução/YouTube/ingresso.com)
Indisciplinado, valentão e carregado de preconceitos e estigmas acerca da figura masculina no balé, o desafio inicial era se ver, se encaixar naquele universo tão diferente do dele. Mas seu talento era inegável e logo chama atenção da diretora da escola, que o apresenta ao coreógrafo que muda totalmente sua trajetória, o cubano Dino Carrera. Rigoroso, ele impõe ao rapaz uma rotina exaustiva de treinos e restrições para que possa se preparar para um campeonato em Paris.
E é essa a relação pilar da obra. Muito diferentes entre si, Dino e Thiago nutrem uma dinâmica clássica entre mentor e aluno, que vai da revolta e embates à uma parceria que transcende os laços profissionais e que muda pra sempre a vida do bailarino, que passa a ser visto e premiado em concursos de máxima relevância no cenário mundial.
Confira as entrevistas exclusivas
Durante a première, o Lorena.R7 conversou com Thiago Soares, Matheus Abreu e os cineastas Marcos Schechtman e Helena Varvaki sobre a nova cinebiografia brasileira. Thiago conta que se emocionou durante as audições de Matheus para interpretá-lo, e nos fala sobre a sensação:
“É uma loucura, né? Emoções misturadas”, começa o bailarino. “Acho que a audição do Matheus foi muito emocionante porque ele tinha o abandono e ele tinha um desconforto em conhecer a coisa do balé. Então, ele estava desconstruído. Isso foi muito interessante para o projeto.
Esse filme é sobre um corte específico. E esse corte foi num momento meu de transição entre a dança urbana, da dança clássica, então precisava que a pessoa tivesse essa disponibilidade física e também uma linguagem daquela coisa da molecagem, do carioca malandro, mas com boas intenções. Então acho que teve uma combinação de fatores que foi muito emocionante na audição do Matheus. Então, a gente automaticamente…eu lembro do Marcos, a Helena, todo mundo se olhando e a gente tendo certeza que era ele o nosso Thiago.”, nos conta Thiago Soares.
O homenageado também nos conta sobre como foi ver sua história com Dino retratada nas telas: “É muito emocionante. Acho que ficou faltando agradecer a ele, né? Ele [Dino] foi o cara que me plantou uma semente muito especial. Eu tive várias pessoas. Eu sou um artista de muitas mãos, várias ajudas, processos, mas eu acho que ele foi o cara que realmente deixou uma mensagem muito especial para mim, que me ajudou a me transformar como artista”, finaliza o bailarino biografado.
Matheus Abreu e Thiago Soares (Foto: Anette Alencar)
O ator Matheus Abreu, de 28 anos, viveu imerso no universo da dança e da vida de Thiago por anos, para se preparar para o papel. Durante coletiva de imprensa, Matheus se emocionou ao contar como foi pisar no ilustre Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o histórico Ópera Garnier, de Paris, e ele nos diz que a emoção foi tão forte, que sua mente deu um ‘apagão’:
“Posso ser sincero?” Começa o ator. “Não consigo nem lembrar! Porque foi tanto tempo de preparação até chegar naquele momento ali no palco, num teatro centenário, com as roupas do Corsário. Realmente a emoção tomou muito conta do meu corpo, totalmente. Eu demorei alguns takes ali para organizar esse lego todo aqui dentro e conseguir fazer a cena”, conta Matheus Abreu, que vive um dos grandes trabalhos de sua carreira na cinebiografia.
Durante a obra, mesmo que Abreu tenha tido um bailarino profissional como dublê, é notória a preparação física do ator para dar vida à Thiago Soares, e ele nos contou um pouco sobre o longo processo. “O meu corpo foi moldado realmente pela minha rotina. Eu comecei a preparação em 2018, a gente foi filmar em 2022. Então, entre idas e vindas do projeto, até o projeto engrenar, a gente teve essa preparação, até começar a preparação ininterrupta, que durou sete meses, com mais de 8 horas diárias de movimento, de balé, de hip hop, de contemporâneo, de gyrotonic. Então, eu perdi a minha rotina para pegar a rotina do bailarino durante esse tempo e foi bem árduo, foi desafiador, mas também foi uma delícia”, conclui o artista.
O cineasta Marcos Schechtman conversou conosco sobre como a vida de Thiago chegou até ele, e qual a importância de contá-la em uma cinebiografia tão original: “A história do Thiago chegou através de um amigo, também roteirista, que me levou para uma tarde com o Thiago em São Paulo, onde ele narrou toda a história dele por um dia em carreira, com o mentor dele. E havia um desejo dele de agradecer. Apesar dele ter dito obrigado na ocasião, ele disse que ninguém o havia amado tão desinteressadamente e que ele tinha necessidade de agradecer, porque o Dino havia visto tudo na vida dele, inclusive onde ele ia acontecer no balé.
Então, diante disso, eu achei que tinha um vínculo humano muito forte entre o Thiago e o Dino, e uma coisa que era muito comovente e que merecia contar essa história. Além de ser uma história, como a gente conhece poucos nossos talentos, que aconteceu lá fora, além de ser inspirador para tantos jovens brasileiros, se tivessem um mentor que olhassem para eles, poderiam ter trajetórias tão incríveis”.
Helena Varvaki e Marcos Schechtman (Foto: Anette Alencar)
E continua o diretor: “E outro dado surpreendente, a quantidade de bailarinos brasileiros no exterior só perde para jogador de futebol. A dança não tem esse destaque nunca, independente de ser um filme que fala do drama humano, a dança está ali presente. E aí teve toda uma preocupação na montagem do elenco de bailarinos que fossem atores de um elenco jovem e a preparação do Matheus, que foi incrível, estupenda”, finaliza Schechtman.
Já Helena Varvaki, parceira de longa data de Marcos, nos fala sobre a mensagem singular que cada espectador pode tirar da obra: “Eu sempre falo que o que o espectador recebe da obra depende muito dele. Quando a gente olha para uma obra, essa obra também está olhando para a gente, e o que a gente tira de uma obra é muito individual. Mas a gente se importa muito por contar a história desse menino, desse jovem, que na sua adolescência foi visto por um professor. Ele era muito rebelde, esse professor trouxe o balé para ele sem tirar dele a rebeldia. E essa junção entre disciplina e rebeldia que dá a singularidade da dança do Thiago Soares”, conclui.