Sobre Sarah Regis

Redatora do lorena.r7

Condenação de Bolsonaro ganha destaque na imprensa internacional

Na quinta-feira (11), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e 3 meses de prisão por participação na trama golpista. A decisão histórica teve ampla repercussão na imprensa internacional, que destacou a condenação e os votos que definiram a maioria no tribunal.

Confira a seguir como o julgamento foi noticiado no exterior e os detalhes da cobertura de cada veículo de imprensa.

The New York Times

O New York Times destacou que a condenação de Jair Bolsonaro por liderar uma conspiração para anular as eleições de 2022 e tentar um golpe de Estado inclui planos para dissolver tribunais, dar poderes às Forças Armadas e até assassinar o presidente eleito.

O jornal também avaliou que a decisão deve intensificar as tensões entre Brasil e Estados Unidos, citando a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros e a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes. Segundo eles, foi um teste para a maior democracia da América Latina e que a decisão levanta incertezas sobre o futuro político do principal líder de direita do Brasil.

“A Casa Branca tentou forçar o Brasil a desistir do caso com tarifas elevadas, uma investigação comercial e sanções severas contra o ministro da Suprema Corte que a liderava. Em vez disso, vários juízes brasileiros criticaram as tentativas dos EUA de intervir ao votarem pela condenação”, escreveu o veículo.

Reuters

A Reuters destacou que Jair Bolsonaro se tornou o primeiro ex-presidente brasileiro condenado por atentado à democracia, sendo julgado por planejar um golpe para permanecer no poder após a derrota nas eleições de 2022.


Reuters repercute condenação de Bolsonaro (Foto: reprodução/Reuters)

A agência também ressaltou que a decisão não foi unânime, com o voto de Luiz Fux pela absolvição trazendo alívio aos apoiadores de Bolsonaro e abrindo espaço para possíveis contestações. De acordo com a Reuters, a decisão se insere em um contexto global de processos envolvendo líderes de extrema-direita, como Marine Le Pen, na França, e Rodrigo Duterte, nas Filipinas.

“A decisão presumida pela maioria de um painel de cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) faz de Bolsonaro o primeiro ex-presidente na história do país a ser condenado por atentado à democracia”, publicou a agência.

The Guardian

O The Guardian destacou que a Suprema Corte brasileira considerou Jair Bolsonaro culpado por planejar um golpe militar para “aniquilar” a democracia, o que pode resultar em uma pena de décadas de prisão.

O jornal britânico também apontou o voto divergente do ministro Luiz Fux, que defendeu a absolvição ao alegar falta de provas de sua participação no complô golpista. Segundo a publicação, a posição de Fux, ao questionar a autoridade dos juízes sobre o caso, pode abrir caminho para contestações legais e até para uma eventual anulação do julgamento.

The Washington Post

O Washington Post destacou que Bolsonaro deve enfrentar uma longa pena de prisão, mas que seus advogados já indicaram a intenção de recorrer da decisão.


The Washignton Post repercute condenação de Bolsonaro (Foto: reprodução/The Washington Post)

O jornal também apontou que o julgamento divide a sociedade brasileira, com manifestações tanto de apoio quanto de oposição ao ex-presidente. O veículo também ressaltou que Bolsonaro continua sendo uma figura política influente, capaz de impactar as eleições de 2026: “Espera-se que ele escolha um herdeiro que provavelmente desafiará Lula no próximo ano. A decisão pode levar os parlamentares aliados de Bolsonaro a buscar alguma anistia para ele no Congresso.”

The Wall Street Journal

O Wall Street Journal afirmou que a condenação de Jair Bolsonaro deve intensificar a disputa entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente Lula (PT). Segundo o jornal, enviar Bolsonaro, de 70 anos, à prisão representa um desafio às tentativas de Trump de interferir em um caso que colocou o Brasil no centro da atenção internacional e na guerra comercial com os EUA.

A reportagem ressaltou que o julgamento marca a queda dramática de Bolsonaro e de seus aliados de direita, que conquistaram a vitória em 2018 prometendo restaurar a lei e a ordem em meio à corrupção e ao caos político.

O jornal também lembrou que Trump aplicou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, classificando as ações contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas”, e apontou que o governo brasileiro se prepara para uma reação negativa da Casa Branca.

Trama golpista: condenados devem pagar mais de R$ 1 milhão em multas

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) fixou penas que somam 159 anos e 7 meses de prisão, além de R$ 1,15 milhão em multas, para os oito condenados do núcleo central da trama golpista que tentou desacreditar o sistema eleitoral e abrir caminho para um golpe de Estado.

STF define penas e multas para réus da trama golpista

Jair Bolsonaro recebeu a pena mais alta: 27 anos e 3 meses de prisão, além de multa de R$ 379,3 mil. Para o relator Alexandre de Moraes, o ex-presidente atuou como líder da organização criminosa, o que ficou evidenciado pelo uso de órgãos públicos (Abin e GSI) em ações ilegais, pela difusão de desinformação em atos públicos, a exemplo da live de 2021, e pelas manifestações de 7 de Setembro. Também foram apontados a chamada “minuta do golpe” discutida com militares e aliados, o planejamento da Operação Punhal Verde-Amarelo e as tratativas para a decretação de estado de sítio.

O general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, foi condenado a 26 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. De acordo com Moraes, ele teve papel central na operação articulada para barrar a posse de Lula, além de exercer pressão sobre comandantes militares e assumir a coordenação de um gabinete de crise voltado a sustentar o golpe.

O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, foi sentenciado a 24 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. Segundo o relator, ele foi o único chefe militar a aderir formalmente ao golpe, chegando a oferecer tropas a Bolsonaro e a se recusar a passar o comando ao sucessor, atitude considerada uma quebra da tradição das Forças Armadas.

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres recebeu 24 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. Para Moraes, sua responsabilidade envolveu tanto omissões quanto ações diretas, como a tentativa de usar a Polícia Rodoviária Federal para dificultar o transporte de eleitores no segundo turno e manter em casa uma minuta de decreto golpista.


Alexandre de Moraes vota pela condenação de Bolsonaro (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

O general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, foi condenado a 21 anos de prisão e multa de R$ 125,4 mil. Segundo o relator, ele liderava um “gabinete de crise” para dar suporte institucional ao projeto golpista, com anotações e participação em reuniões estratégicas que evidenciaram seu envolvimento.

O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira foi sentenciado a 19 anos de prisão e multa de R$ 125,4 mil. Moraes destacou que, embora a pena tenha sido reduzida por tentativa de mitigar os efeitos do crime, Nogueira atrasou a divulgação do relatório das Forças Armadas que confirmava a normalidade das eleições, seguindo orientações de Bolsonaro.

O ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem recebeu 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão, além de multa de R$ 74,7 mil. Para o relator, ele transformou a agência em uma “central paralela de contrainteligência”, produzindo relatórios falsos que atacavam o sistema eleitoral e reforçavam as narrativas do então presidente.

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teve a pena reduzida por delação premiada e cumprirá dois anos em regime aberto, mantendo sua patente militar.

Bolsonaro e aliados recebem condenações históricas

No total, as penas aplicadas aos oito réus chegam a 159 anos e 7 meses de prisão, além de R$ 1,15 milhão em multas, valor calculado com base no salário mínimo de 2023, de R$ 1.320, corrigido pelo IPCA até agosto de 2025.

O ministro Alexandre de Moraes detalhou o papel de cada réu na trama que buscava minar o sistema eleitoral e viabilizar um golpe de Estado. O julgamento é histórico, sendo a primeira condenação de um ex-presidente por tentativa de golpe. Além das consequências imediatas, como o afastamento definitivo de Bolsonaro da política, o caso terá efeitos duradouros sobre as Forças Armadas, com três ex-comandantes militares entre os condenados.

Trump nega autoria de carta enviada a Epstein

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, negou nesta terça-feira (9) ter enviado uma carta com o desenho de uma mulher nua a Jeffrey Epstein, afirmando que a assinatura no documento não é dele. O Congresso recebeu uma cópia do texto na segunda-feira, entregue pelos advogados do espólio.

Mensagem aparece em álbum de aniversário

A carta faz parte de um álbum comemorativo, produzido por Ghislaine Maxwell, parceira de Epstein, que reúne mensagens de amigos e familiares em celebração aos 50 anos do bilionário. Questionado sobre o documento, Trump afirmou que o texto não é incompatível com a linguagem que ele usa. 

“Não é a minha assinatura e não é como eu falo. Qualquer pessoa que me acompanha há muito tempo sabe que essa não é a minha linguagem. Isso é um absurdo e, francamente, vocês estão perdendo tempo”,  declarou o presidente.

Após a divulgação da página com a suposta carta, o vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Taylor Budowich, afirmou que a assinatura no documento não corresponde à de Trump e questionou sua autenticidade, enquanto a porta-voz Karoline Leavitt declarou que a carta é falsa e que o presidente não a escreveu nem a assinou.

Apesar das negativas da Casa Branca, veículos da imprensa americana encontraram documentos da década de 1990 nos quais a assinatura de Trump se assemelha à que aparece na suposta carta.


Partido Democrata revela possível carta de Donald Trump (Foto: reprodução/X/@OversightDems)

O conteúdo foi divulgado pela primeira vez em julho pelo jornal The Wall Street Journal, que publicou apenas o texto, sem o documento original. Na época, Trump negou ser o autor, processou o veículo e solicitou uma indenização de US$ 10 bilhões.

O texto traz um suposto diálogo entre Trump e Epstein, no qual o presidente chama o ex-financista de “amigo”, deseja feliz aniversário e acrescenta: “Que cada dia seja um novo segredo maravilhoso”.

Leia a tradução da suposta carta abaixo:

Narrador: Deve haver mais na vida do que ter tudo.

Donald: Sim, existe, mas não vou te dizer o que é.

Jeffrey: Nem eu, já que também sei o que é.

Donald: Temos certas coisas em comum, Jeffrey.

Jeffrey: É verdade, pensando bem.

Donald: Enigmas nunca envelhecem, você já notou?

Jeffrey: Na verdade, isso ficou claro para mim da última vez que te vi.

Donald: Um amigo é uma coisa maravilhosa. Feliz aniversário — e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo.

Relação entre Jeffrey Epstein e Trump

Jeffrey Epstein foi condenado por aliciar dezenas de meninas menores de idade para encontros sexuais em suas mansões. Em 2008, firmou um acordo judicial se declarando culpado, mas em 2019 o caso foi reaberto, levando à sua prisão por tráfico sexual; poucos dias depois, ele morreu na cadeia, em um aparente suicídio. O financista mantinha conexões com milionários, artistas e políticos influentes.

Durante a campanha eleitoral de 2024, o então candidato Donald Trump prometeu divulgar uma lista com nomes de pessoas supostamente envolvidas no esquema de exploração sexual liderado por Epstein. Em fevereiro deste ano, parte desses documentos foi publicada pelo governo.

Lula critica Bolsonaro e afirma que país vive “momento delicado”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (9), durante a cerimônia de implementação do Programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais, que o Brasil vive um “momento delicado” e que o ex-presidente Jair Bolsonaro sabe que cometeu “burrice”.

A fala ocorre em meio ao julgamento no STF que pode condenar Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado, no qual a PGR o acusa de liderar uma organização criminosa para impedir a posse de Lula entre o fim de 2022 e o início de 2023.

Lula também mencionou o filho do ex-presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), criticando sua mudança para os Estados Unidos e a tentativa de pressionar o governo americano contra o Brasil e o STF.

“Nós estamos vivendo um momento delicado no Brasil. Você está vendo brasileiro, que foi candidato eleito pelo povo brasileiro, que cometeu as burrices que cometeu, que sabe que cometeu, que está sendo julgado e que mandou o filho para os Estados Unidos pedir para o governo Trump taxar o Brasil”, afirmou.

Crítica à tentativa de anistia

O presidente condenou a tentativa da oposição de aprovar uma lei de anistia que beneficiaria Bolsonaro e outros réus, afirmando que não cabe perdão nesse caso e lembrando que, quando foi preso, cumpriu a lei em vez de fugir do país.

“Essa gente está sendo julgada pelos desmazelos que fez. Não adianta ficar pedindo anistia, ele nem foi condenado ainda. Em vez de ficar se defendendo, já tá pedindo anistia. Quando me prenderam, eu poderia ter saído do Brasil. Eu preferi ir pra PF”, disse Lula.


Lula durante discurso em Manaus (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

Até a noite de ontem, os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino foram os primeiros a votar, ambos a favor da condenação dos oito réus.

Defesa da soberania nacional

Lula também aproveitou a ocasião para rebater as ameaças do governo Trump e  afirmou que ninguém vai meter o “bedelho” no Brasil.

“Este país precisa passar por esse momento histórico de cabeça erguida. Esse país é soberano. Esse país já fez sua independência. Esse país tem mulheres, homens e crianças que têm orgulho de ser brasileiro. Não precisamos de ninguém metendo bedelho no nosso país. Cada um cuida do seu nariz. Do nosso terreiro cuidamos nós. Do nosso quintal cuidamos nós”, concluiu.

A declaração de Lula ocorre após a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmar que o governo dos EUA estaria disposto a usar meios militares para defender a liberdade de expressão globalmente, em referência a uma possível condenação de Bolsonaro.

Trump encerra proteção do Serviço Secreto para Kamala Harris

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cancelou a proteção do Serviço Secreto à ex-vice-presidente Kamala Harris, segundo informações divulgadas pela Casa Branca nesta sexta-feira (29).

Trump também já revogou a proteção federal de outras pessoas, incluindo o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton e os filhos de Biden, Hunter Biden e Ashley Biden

Quem tem direito à proteção

Ex-presidentes recebem proteção vitalícia do Serviço Secreto, enquanto os ex-vice-presidentes têm direito a apenas seis meses de segurança, segundo a lei federal. No entanto, uma ordem assinada por Joe Biden durante seu mandato estendia a proteção da democrata por mais um ano, período que terminou em 21 de julho.

O presidente revogou a ordem por meio de uma carta datada desta quinta-feira (28), intitulada “Memorando para o Secretário de Segurança Interna”, segundo informações da CNN.

“Você está autorizado a descontinuar quaisquer procedimentos relacionados à segurança previamente autorizados pelo memorando executivo, além daqueles exigidos por lei, para o seguinte indivíduo, a partir de 1º de setembro de 2025: Ex-vice-presidente Kamala D. Harris”, diz o documento.


Kamala Harris durante evento de campanha (Foto: reprodução/Chris duMond/Getty Images Embed)

Kirsten Allen, conselheira sênior de Harris, confirmou a decisão e disse que a vice-presidente agradece ao Serviço Secreto dos Estados Unidos pelo profissionalismo, dedicação e compromisso com a sua segurança.

Revogação coincide com turnê de livro

A revogação do serviço de proteção acontece justamente quando Kamala Harris inicia uma turnê por várias cidades para divulgar seu livro “107 Days”, cujo título faz referência aos 107 dias de sua campanha, iniciados após a desistência de Biden na disputa pela presidência dos EUA. A obra reúne memórias desse período e tem lançamento previsto para 23 de setembro.

A democrata foi derrotada por Trump na eleição presidencial de 2024, mas não descartou a possibilidade de concorrer novamente em 2028.

Gaza sofre fome crítica: entenda os critérios para atingir desnutrição aguda

A província de Gaza atingiu o nível mais crítico de insegurança alimentar, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (22) pela Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), responsável por monitorar a insegurança alimentar e a desnutrição no mundo. O órgão ligado à ONU afirmou que se trata do primeiro caso desse tipo no Oriente Médio e atribuiu o cenário às ações do governo israelense.

A situação extrema foi registrada pela primeira vez em 22 meses de conflito. O levantamento indicou sinais evidentes de morte, miséria e níveis alarmantes de desnutrição aguda.

Crise em Gaza

O ponto mais crítico da fome foi na Cidade de Gaza, maior centro do território palestino, atualmente alvo de uma nova operação terrestre do Exército israelense. A IPC alerta que a crise pode se expandir para outras áreas da região nos próximos meses caso a situação não se altere.

“Há fome generalizada em Gaza, em pleno no século 21. Uma fome que se desenvolve sob o olhar de drones e da tecnologia mais moderna. Uma fome promovida abertamente por alguns líderes israelenses como uma arma de guerra. A fome de Gaza é prevenível, algo que se desenvolveu sob o nosso olhar e deve nos assombrar”, afirmou Tom Fletcher, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários.


Palestinos recebem alimentos em Gaza (Foto: reprodução/Abed Rahim Khatib/Anadolu/Getty Images Embed)

Regiões próximas à província, como Deir al-Balah e Khan Younis, ainda não enfrentam o estágio mais crítico da crise. Embora parte desses domicílios registre falta severa de alimentos, os índices de desnutrição infantil e mortalidade permanecem abaixo do nível mais grave

Escala IPC

O IPC monitora a insegurança alimentar em regiões e períodos específicos por meio da Escala de Insegurança Alimentar Aguda (AFI), utilizada por organizações como OMS e Unicef. A escala possui cinco níveis, que vão de “mínimo/nenhum” (fase 1), “sob estresse” (fase 2), “crise” (fase 3) e “emergência” (fase 4) até “catástrofe/fome” (fase 5), avaliando a capacidade das populações de suprir suas necessidades alimentares e não alimentares.

No último estágio da escala, registrado em Gaza, “catástrofe” e “fome” são conceitos distintos: a primeira descreve situações críticas dentro de residências, com extrema escassez de alimentos e risco de desnutrição aguda e morte, enquanto a declaração de “fome” está associada a uma realidade regional. Por ser uma classificação domiciliar, a catástrofe pode ocorrer mesmo em regiões sem fome generalizada.


Palestinos recebem alimentos em Gaza (Foto: reprodução/Abed Rahim Khatib/Anadolu/Getty Images Embed)

O relatório do IPC identificou 513.720 pessoas em situação de catástrofe em Gaza, incluindo cerca de 280 mil na Cidade de Gaza, a única região classificada como em “fome”. Para essa categoria, três critérios devem ser atendidos: ao menos 20% das residências enfrentando escassez extrema de alimentos, pelo menos 30% das crianças com desnutrição aguda e uma taxa diária de mortes não traumáticas entre 2 e 4 a cada 10 mil habitantes.

A combinação dos três critérios para declarar a fase 5 de fome é rara. Antes de Gaza, apenas Somália (2011), Sudão do Sul (2017 e 2020) e Sudão (2024) atingiram esse nível.

Conitec nega inclusão de Wegovy, Saxenda e similares no SUS

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) decidiu, na última quarta-feira (20), não incluir no sistema público os medicamentos à base de semaglutida e liraglutida, princípios ativos das canetas Ozempic, Wegovy e Saxenda, indicadas para o tratamento da obesidade.

Embora aprovados no Brasil, os medicamentos, que custam cerca de R$ 1 mil por caneta, continuarão fora da lista de tratamentos do SUS e restritos à rede privada.

Comissão avalia novos tratamentos

A Conitec é o órgão responsável por decidir a inclusão de tratamentos no SUS. Nesta semana, a comissão analisou dois pedidos: o uso da semaglutida (presente no Wegovy) para obesidade grau II e III em pacientes acima de 45 anos com doença cardiovascular, e o uso da liraglutida (presente no Saxenda) para obesidade associada ao diabetes tipo 2.

Um dos principais argumentos contra a inclusão foi a restrição orçamentária, devido ao alto custo dos medicamentos. Segundo cálculos do Ministério da Saúde, o valor estimado para atender à demanda dos pacientes do SUS seria de R$ 4,1 bilhões em cinco anos, podendo chegar a R$ 6 bilhões em casos que exigem tratamento contínuo.


Aplicação do medicamento Wegovy, da Novo Nordisk (Foto: reprodução/Steve Christo/Corbis/Getty Images Embed)

Além da questão orçamentária, a comissão destacou que o SUS já oferece a cirurgia bariátrica como alternativa para o tratamento da obesidade.

Produção nacional de canetas

A decisão da Conitec ocorre cerca de duas semanas após o anúncio do Ministério da Saúde sobre a produção nacional de canetas, em parceria com a Fiocruz e a farmacêutica EMS. O objetivo é disponibilizar tratamentos com liraglutida e semaglutida, substâncias usadas no controle da glicose e que também auxiliam no emagrecimento.

Esses medicamentos são aplicados por meio de dispositivos semelhantes às canetas já conhecidas no mercado, como Ozempic e Wegovy. No início do mês, a EMS lançou a Olire, sua própria versão à base de liraglutida, indicada para o tratamento da obesidade e do diabetes.

A produção dos medicamentos em uma instituição pública facilita o processo, pois pode reduzir os custos para o governo. No entanto, ainda será necessária a aprovação prévia da Conitec para que sejam incorporados ao SUS.

X denuncia restrições digitais no Brasil e ações do STF

O X (ex-Twitter) enviou comentários ao Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), acusando o Brasil de adotar regras que ameaçam a liberdade de expressão e prejudicam o comércio digital. O documento foi publicado nesta terça-feira (19), em resposta à investigação sobre supostas práticas desleais no comércio internacional.

O órgão realiza uma investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA de 1974, analisando  as práticas comerciais do Brasil a pedido do presidente Donald Trump.

Reclamações da plataforma

Nos documentos enviados ao USTR, a empresa expressa “sérias preocupações” sobre a proteção da liberdade de expressão e a aplicação justa das regras no Brasil, afirmando que tais práticas impactam diretamente os provedores de serviços digitais dos EUA.

“O ambiente regulatório brasileiro tem se deteriorado de forma significativa, com medidas que extrapolam os limites da jurisdição nacional e criam incertezas jurídicas para provedores de serviços digitais sediados nos EUA”, escreveu a rede social de Elon Musk.

O X afirma que decisões do Judiciário brasileiro enfraquecem as garantias do Marco Civil da Internet. A empresa cita, por exemplo, a decisão do STF em junho, que alterou o artigo 19 e permite a responsabilização de plataformas em alguns casos mesmo sem ordem judicial prévia. 

Segundo eles, a medida aumenta a incerteza jurídica e os custos de conformidade, estimula ações judiciais contra empresas norte-americanas de aplicativos e “cria fortes incentivos para que as plataformas removam conteúdos preventivamente, o que pode afetar discursos legais, inclusive de cidadãos dos Estados Unidos”.

A plataforma acusa diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de adotar medidas sem base legal, incluindo a suspensão da rede social no país, a apreensão de recursos de empresas sem relação com os processos e a desativação de contas, inclusive de políticos e jornalistas. A empresa afirma que grande parte dessas decisões ocorreram sob sigilo, impedindo a defesa nos processos.


Governo Lula solicita aos EUA reavaliação de investigação sobre o Brasil (Reprodução/YouTube/Metrópoles)

O que é Seção 301

A Seção 301 é uma ferramenta da legislação comercial dos EUA que permite ao governo investigar práticas de outros países consideradas prejudiciais ao comércio americano. O processo exige que o país investigado apresente sua defesa e geralmente dura cerca de 12 meses.

Se as práticas forem confirmadas, o USTR (Representante Comercial dos EUA) pode recomendar sanções, como tarifas extras ou restrições de mercado. Além da investigação, Trump aplicou sobretaxa de 50% a diversos produtos brasileiros e sancionou financeiramente o ministro Alexandre de Moraes.

Câmara acelera projeto contra adultização infantil nas redes sociais

Na última terça-feira (19), a Câmara dos Deputados aprovou o requerimento de urgência para o PL 2.628/2022, que visa combater a adultização de crianças e adolescentes nas plataformas digitais. A decisão permite que a proposta seja analisada no plenário, sem passar pelas comissões.

O texto, pronto para votação na Câmara, é de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE) e já foi aprovado pelo Senado.

Urgência aprovada de maneira simbólica

A aprovação do requerimento de urgência ocorreu em votação simbólica, sem a contagem nominal dos votos. A rapidez na tramitação gerou protestos da oposição. O partido Novo pediu o registro dos votos dos deputados, mas Motta negou, afirmando que a solicitação foi feita após a aprovação.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o tema será o principal da semana. Uma comissão geral será realizada nesta quarta-feira (20), às 9h, para debater a proposta, que deve ter o mérito votado em seguida no plenário.


Câmara aprova urgência de projeto contra adultização (Vídeo: reprodução/Câmara dos Deputados/YouTube/UOL)

Projeto e discussão do tema

O Projeto de Lei 2.628/22 estabelece obrigações para fornecedores de plataformas digitais, com o objetivo de proteger crianças e adolescentes, prevenir danos, responsabilizar empresas que se omitam e obrigar a remoção de conteúdos criminosos mesmo sem decisão judicial. A proposta garante ainda que pais e responsáveis tenham controle sobre o acesso de menores.

A oposição critica trecho do projeto que aplica a lei a produtos ou serviços de tecnologia de “acesso provável” por crianças e adolescentes. Líderes do PL e do Novo afirmam que a expressão é vaga e amplia exageradamente o alcance da legislação, que deveria focar apenas nos menores. 

A discussão ganhou força após o influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, publicar um vídeo no YouTube sobre a adultização de menores, denunciando o influenciador Hytalo Santos por exploração de crianças e alertando para os riscos da exposição infantil nas redes sociais.

Arlindo Cruz morre aos 66 anos

Um dos maiores nomes do samba, Arlindo Cruz, morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Internado desde março para tratamento de pneumonia, o cantor enfrentava sequelas de um AVC hemorrágico sofrido em 2017. A informação foi confirmada pela esposa do artista, Babi Cruz.

Desde o derrame, o cantor passou por várias internações devido a saúde fragilizada. Em julho, ele parou de responder aos estímulos e não apresentava mais avanços. Além disso, o sambista também era portador de uma doença autoimune e utilizava uma sonda alimentar.

Ainda não foram divulgadas informações sobre o velório e sepultamento do artista.

História do sambista

Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu em 14 de setembro de 1958, no bairro de Madureira, no Rio de Janeiro. O bairro, conhecido como berço do samba, foi homenageado em um dos seus maiores sucessos, a música “Meu Lugar”.

Filho de Aracy Marques da Cruz e Arlindo Domingos da Cruz, ele teve o primeiro contato com a musica através de seus pais, que tocavam em rodas de samba. Aos 7 anos, ganhou o seu primeiro cavaquinho.


 Arlindo Cruz (Foto: reprodução/Instagram/@arlindocruzobem)

Ainda na juventude, ele estudou teoria musical e violão clássico na escola Flor do Méier. Foi nesse período que iniciou sua carreira como músico profissional, participando de rodas de samba ao lado de diversos artistas, entre eles o renomado Candeia. Aos 15 anos, mudou-se para Minas Gerais, onde estudou na escola preparatória de Cadetes do Ar. Por lá, ganhou festivais em Barbacena e Poços de Caldas.

De volta ao Rio de Janeiro, ele passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos, onde aprendeu com artistas como Jorge Aragão, Beth Carvalho e Almir Guineto. Entre os jovens que seguiam esse caminho estavam Zeca Pagodinho e Sombrinha, seu futuro parceiro.

Nessa época, já se destacava como compositor, com músicas gravadas por diversos artistas, e ganhou ainda mais reconhecimento ao cantar suas próprias canções. Em 1981, após a saída de Jorge Aragão, Arlindo entrou para o grupo Fundo de Quintal, onde permaneceu por 12 anos. 


  Álbum do grupo Fundo de Quintal (Foto: reprodução/Instagram/@arlindocruzobem)

Ícone do Samba

Ao longo da carreira, Arlindo Cruz teve mais de 550 músicas gravadas por diversos artistas, lançou 24 álbuns, foi indicado cinco vezes ao Grammy Latino e recebeu o Prêmio da Música Brasileira em 2015.

Arlindo Cruz também se dedicou à criação de sambas-enredo para escolas do Rio de Janeiro, como sua escola do coração, Império Serrano, além da Vila Isabel e da Grande Rio. Ele recebeu quatro vezes o prêmio Estandarte de Ouro de Melhor samba-enredo.

Em 2023, a Império Serrano fez uma homenagem especial ao sambista com o enredo “Lugares de Arlindo”, celebrando sua trajetória e contribuição para o samba. Apesar das sequelas do AVC, o artista participou do desfile ao lado de amigos e familiares, conduzido em um trono em um dos carros alegóricos. 


 Arlindo em desfile de 2023 da Império Serrano (Foto: reprodução/Instagram/@rsantosarantes)

Arlindo Cruz deixa a esposa, Babi Cruz, e dois filhos: Arlindinho, que também segue carreira como cantor, e Flora Cruz, influenciadora digital. Seu último projeto artístico antes do AVC, em 2017, foi o álbum “Pagode 2 Arlindos”, uma parceria especial com o filho.