Podcasts falsos são a nova tendência da internet

Ser convidado para um podcast se tornou símbolo de autoridade nas redes.

06 set, 2022

Será que um microfone bonito, uma fala atraente sobre um assunto interessante e um bom cenário são capazes de enganar quem está vendo?

É essa a questão quando se fala sobre os virais “falsos cortes de podcasts“. O Brasil é o terceiro país que mais consome podcasts no mundo, e ter um pedaço de uma entrevista com esse formato no instagram ou tiktok se tornou uma estética, algo necessário para ser uma autoridade dentro das redes sociais.

O assunto viralizou  na internet após o jornalista Chico Felitti comentar em sua página do twitter sobre ser obcecado por essa nova forma de atrair seguidores: 


                                       

                                                                       

 Reprodução do Twitter de Chico Felitti         


Não há dúvidas de que esse tipo de formato é como uma capa de revista aos que procuram viralizar nas redes, já que atualmente também existem contas específicas apenas para cortes de podcasts, e muitos prezam por uma produção mais profissional.

Marcos Avlis, sócio do AGR Podcast Estúdios, que já recebeu grandes nomes do podcast como o flow, conta que já ouviram esse tipo de proposta mas sempre prezam pela realidade:

“Eu não acredito que isso funcione a longo prazo. Sempre orientei que seja essencial que tenha uma pessoa conversando, para abordar assuntos interessantes de compartilhar,mas que jamais esteja falando sozinha. Porque a verdade passa verdade, não adianta! Em um diálogo, a partir de um simples olhar ou mudança de postura, conseguimos sentir o fluir de uma conversa, e isso é essencial para o podcast.”

No caso dos podcasts falsos, o entrevistado não olha diretamente para a câmera e aparenta estar falando com alguém quando na  verdade está apenas gravando a si mesmo  na sala da sua casa ou em um estúdio de gravação.

O tiktoker Filipe Penoni, um dos primeiros a usar a  estratégia de postar cortes nas redes sociais, postou um vídeo em 2021 ironizando sobre essa prática e ensinou aos seus seguidores como produzir um podcast falso:

“O vídeo viralizou e empresas começaram a fazer esse tipo de corte também. Chegou a um ponto em que havia mais cortes de podcast fakes do que dos reais” disse, em entrevista ao Estadão. 

Essa tendência levanta uma questão sobre o quanto as redes sociais impactam na vida dos usuários e qual é o limite na busca das visualizações. Para a psicóloga Marcela Lamastra, pós graduanda em Terapia Cognitivo comportamental pela PUCRS, essa tendência está relacionada ao FOMO, que em português significa “medo de ficar de fora”:

“O problema é muito mais sobre a pessoa que acha que está enganando alguém, ela pode até conseguir! Mas é uma reflexão a ser feita: Porque ela está tentando fazer algo só porque todo mundo faz? E a reflexão é também pra quem consome, será que eu estou consumindo essa pessoa só porque ela apareceu com um microfone  e com um fone de ouvido bacana?”

Quem está acostumado a assistir cortes de podcasts, agora pode ficar mais atento aos conteúdos que passam pela timeline e buscar ou não por quem foi chamado para podcasts de verdade. 

 

Foto de Destaque: Microfone de podcast. (Site Wired Uk)

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