Gaza sofre fome crítica: entenda os critérios para atingir desnutrição aguda
Região enfrenta miséria extrema, mortes e níveis críticos de desnutrição, tornando-se o quinto caso global da fase mais grave da escala

A província de Gaza atingiu o nível mais crítico de insegurança alimentar, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (22) pela Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), responsável por monitorar a insegurança alimentar e a desnutrição no mundo. O órgão ligado à ONU afirmou que se trata do primeiro caso desse tipo no Oriente Médio e atribuiu o cenário às ações do governo israelense.
A situação extrema foi registrada pela primeira vez em 22 meses de conflito. O levantamento indicou sinais evidentes de morte, miséria e níveis alarmantes de desnutrição aguda.
Crise em Gaza
O ponto mais crítico da fome foi na Cidade de Gaza, maior centro do território palestino, atualmente alvo de uma nova operação terrestre do Exército israelense. A IPC alerta que a crise pode se expandir para outras áreas da região nos próximos meses caso a situação não se altere.
“Há fome generalizada em Gaza, em pleno no século 21. Uma fome que se desenvolve sob o olhar de drones e da tecnologia mais moderna. Uma fome promovida abertamente por alguns líderes israelenses como uma arma de guerra. A fome de Gaza é prevenível, algo que se desenvolveu sob o nosso olhar e deve nos assombrar”, afirmou Tom Fletcher, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários.
Palestinos recebem alimentos em Gaza (Foto: reprodução/Abed Rahim Khatib/Anadolu/Getty Images Embed)
Regiões próximas à província, como Deir al-Balah e Khan Younis, ainda não enfrentam o estágio mais crítico da crise. Embora parte desses domicílios registre falta severa de alimentos, os índices de desnutrição infantil e mortalidade permanecem abaixo do nível mais grave
Escala IPC
O IPC monitora a insegurança alimentar em regiões e períodos específicos por meio da Escala de Insegurança Alimentar Aguda (AFI), utilizada por organizações como OMS e Unicef. A escala possui cinco níveis, que vão de “mínimo/nenhum” (fase 1), “sob estresse” (fase 2), “crise” (fase 3) e “emergência” (fase 4) até “catástrofe/fome” (fase 5), avaliando a capacidade das populações de suprir suas necessidades alimentares e não alimentares.
No último estágio da escala, registrado em Gaza, “catástrofe” e “fome” são conceitos distintos: a primeira descreve situações críticas dentro de residências, com extrema escassez de alimentos e risco de desnutrição aguda e morte, enquanto a declaração de “fome” está associada a uma realidade regional. Por ser uma classificação domiciliar, a catástrofe pode ocorrer mesmo em regiões sem fome generalizada.
Palestinos recebem alimentos em Gaza (Foto: reprodução/Abed Rahim Khatib/Anadolu/Getty Images Embed)
O relatório do IPC identificou 513.720 pessoas em situação de catástrofe em Gaza, incluindo cerca de 280 mil na Cidade de Gaza, a única região classificada como em “fome”. Para essa categoria, três critérios devem ser atendidos: ao menos 20% das residências enfrentando escassez extrema de alimentos, pelo menos 30% das crianças com desnutrição aguda e uma taxa diária de mortes não traumáticas entre 2 e 4 a cada 10 mil habitantes.
A combinação dos três critérios para declarar a fase 5 de fome é rara. Antes de Gaza, apenas Somália (2011), Sudão do Sul (2017 e 2020) e Sudão (2024) atingiram esse nível.