Oruam se entrega à polícia do Rio após mandado de prisão

Rapper se apresentou à polícia após ter prisão preventiva decretada por confusão em sua mansão no Joá; ele nega acusações e promete provar inocência

22 jul, 2025
Rapper Oruam | Reprodução: X/@Metropoles
Rapper Oruam | Reprodução: X/@Metropoles

A intensa confusão que começou na noite de segunda-feira (21) na mansão do rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, no Joá, Zona Oeste do Rio, chegou a um novo capítulo. Após a Justiça do Rio decretar sua prisão preventiva nesta terça-feira (22), o próprio Oruam se entregou à polícia na tarde de hoje (22), na Cidade da Polícia, Zona Norte do Rio de Janeiro. O artista, acompanhado de advogados, da mãe e da namorada, agora se coloca à disposição das autoridades para responder às acusações, reafirmando que não é “bandido” e prometendo provar sua inocência.

Operação policial no Joá

A origem dos fatos foi uma operação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), comandada pelo delegado Moysés Santana. A polícia agiu com base em informações de inteligência que indicavam a presença de Menor Piu, um adolescente de 17 anos procurado por roubo e tráfico de drogas. Ele é apontado como segurança pessoal de Doca, um dos líderes do Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha, e também seria integrante da “Equipe do Ódio”, grupo de roubadores ligado à facção.

Por volta da meia-noite de segunda-feira, os agentes cercaram a residência de Oruam. A tática era aguardar a saída do menor para abordá-lo, evitando a entrada na casa durante a noite sem flagrante ou autorização judicial específica. Quando o adolescente deixou a mansão acompanhado de outras quatro pessoas, os policiais agiram, efetuando a apreensão e confiscando um celular e um cordão.

Nesse instante, a situação escalou dramaticamente. Oruam, acompanhado de cerca de oito pessoas, surgiu na varanda da casa, proferindo xingamentos e atirando pedras contra os policiais e as viaturas. O confronto resultou em um agente ferido, o policial civil Alexandre Alves Ferraz, e danos a uma viatura.

Durante o tumulto, um dos envolvidos, Pablo Ricardo Paula Silva de Moraes, correu para dentro do imóvel, o que, segundo a polícia, justificou a entrada dos agentes sob alegação de flagrante. Pablo foi preso em flagrante por desacato, resistência qualificada, lesão corporal, ameaça, dano e associação para o tráfico.

Mandado de prisão

Oruam utilizou suas redes sociais para filmar a ação policial, acusando os agentes de abuso de autoridade. Em um de seus vídeos, ele desabafou: “Podem fazer o que quiser de nóis, pois nóis não é ninguém, pô. Entram em nossa casa à meia-noite, claro que vão querer prender nóis, porque nóis é filho de bandido, pô”, fazendo uma clara referência ao seu pai, Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, líder histórico do CV, preso desde 1996.

Em meio à confusão, Menor Piu conseguiu escapar da viatura descaracterizada. Oruam o acompanhou em sua fuga, dirigindo-se ao Complexo da Penha, área dominada pelo CV. De lá, ele postou novos vídeos em um tom desafiador: “Quero ver vocês vir aqui, me pegar aqui dentro do complexo, não vai me pegar, sabe por quê? Porque vocês peidam!”. A Polícia Civil interpretou esses vídeos como uma confissão de sua ligação com a facção criminosa.


Oruam comenta em sua rede social após operação (Vídeo: reprodução/Instagram/@rezervaoruam)

Diante dos fatos, a Justiça do Rio de Janeiro, por decisão da juíza Ane Cristine Scheele Santos, decretou a prisão preventiva de Oruam na manhã desta terça-feira (22). Ele foi indiciado por sete crimes graves: tráfico de drogas, associação ao tráfico, lesão corporal leve, desacato, resistência qualificada, ameaça e dano ao patrimônio público.

A decisão judicial ressaltou a reiteração do uso da residência de Oruam como “local de acoitamento de criminosos foragidos”, citando a presença de outro foragido, Yuri Pereira Gonçalves, encontrado no mesmo local em fevereiro de 2025.

Entrega e defesa do rapper

O anúncio de que se entregaria foi feito por Oruam em carta à imprensa e vídeos nas redes sociais, na tarde de hoje (22). Ele alegou ter agido sob “muito nervosismo” devido à abordagem policial, que considerou abusiva. O rapper negou envolvimento com o tráfico, afirmando que suas conquistas são fruto de sua carreira musical: “Eu errei, não sou bandido. Desculpa aí todo mundo que acha que errei. Vou dar a volta por cima e vou vencer através da minha música”. Ele também questionou as acusações do secretário Felipe Curi, já que, segundo ele, nada foi encontrado em sua casa.

Em sua defesa, Oruam alegou ter sido vítima de abuso de autoridade, afirmando que só reagiu arremessando pedras contra a polícia após ser ameaçado com armas de fogo, incluindo fuzis. Ele também questionou o horário da abordagem e acusou os policiais de preconceito, declarando ainda que os agentes teriam danificado e rasgado pertences dele e de sua noiva durante a operação.

Histórico controverso

Com 25 anos, Oruam é um dos principais nomes do rap e trap nacional, com milhões de ouvintes mensais e sucessos. No entanto, sua ligação familiar com Marcinho VP e suas atitudes públicas, como a polêmica camiseta “Liberdade para Marcinho VP” no Lollapalooza e a tatuagem em homenagem a Elias Maluco, frequentemente o colocam no centro de controvérsias sobre apologia ao crime.

Em fevereiro de 2025, ele já havia sido preso por abrigar outro foragido em sua casa, sendo liberado após pagar fiança. Na semana anterior, foi detido por direção perigosa e liberado após o rapper Orochi pagar uma fiança de R$ 60 mil.

Um debate contínuo

As autoridades e a Justiça agora darão andamento às investigações e aos procedimentos cabíveis, enquanto a defesa do rapper trabalhará para contestar as acusações e buscar sua liberdade. Oruam estende apoio a outros artistas em situações semelhantes.

Em maio, quando MC Poze do Rodo foi preso, Oruam não hesitou em se posicionar em sua defesa, inclusive marcando forte presença nas redes sociais e na porta do presídio no dia da soltura do amigo. Seu caso acende novamente o debate sobre a criminalização de artistas de favela e a tênue linha entre a expressão artística e a apologia ao crime.

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