Lula cobra respeito às leis brasileiras e diz que Brasil busca negociar em caso de tarifaço de Trump
O presidente do Brasil concedeu entrevista ao Jornal Nacional e comentou sobre as ameaças de Donald Trump aos produtos exportados e caso de Jair Bolsonaro

O presidente Lula (PT) concedeu uma entrevista ao Jornal Nacional na última quinta-feira (10) para explicar melhor os últimos acontecimentos acerca das taxas anunciadas por Donald Trump sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.
Delis Ortiz fez uma série de perguntas sobre o tema ao presidente. Lula adiciona que o Brasil “não quer brigar com ninguém” e sim negociar, mas que as leis brasileiras precisam ser respeitadas. Ao comentar a decisão de Trump taxar os produtos brasileiros, comenta: “Portanto, se ele ficar brincando de taxação, vai ser infinita essa taxação. Nós vamos chegar a milhões e milhões de taxas. O que o Brasil não aceita é intromissão […] Ele tem o direito de tomar decisão em defesa do país dele, mas com base na verdade”, fechou o presidente.
Lula também destacou que a relação virtuosa que o Brasil mantém com os Estados Unidos há 200 anos está sendo prejudicada pelo presidente americano. Segundo ele, Trump parece mal-informado, já que, nos últimos 15 anos, o Brasil acumula um déficit comercial de R$ 410 bilhões com os EUA.
Lula concede entrevista sobretaxas de Trump
O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade se for necessário, de acordo com o presidente Lula. Ele afirmou ainda que o Brasil “não quer brigar com ninguém” e quer negociar, mas que as leis brasileiras sejam respeitadas. “Portanto, se ele ficar brincando de taxação, vai ser infinita essa taxação. Nós vamos chegar a milhões e milhões de milhões de por cento de taxa. O que o Brasil não aceita é intromissão […] Ele tem o direito de tomar decisão em defesa do país dele, mas com base na verdade”, finalizou o presidente.
Presidente Lula concede entrevista ao Jornal Nacional (Vídeo: reprodução/Youtube/G1)
Quando questionado pela repórter sobre as acusações relacionadas ao julgamento de Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, e às ações do Supremo Tribunal Federal, Lula afirmou que Bolsonaro não apenas tentou dar um golpe: “Ele não tentou dar um golpe. Ele tentou preparar a minha morte. A morte do presidente da Suprema Corte, que na época era o Alexandre de Moraes, a morte do vice-presidente”. Ele defendeu que as leis brasileiras são para todos, e que o ex-presidente está sendo julgado de acordo com os autos do processo, podendo ser preso caso seja condenado.
Sobre o BRICS, Lula ressaltou a importância do bloco, que representa quase 30% do PIB mundial. Ele declarou que os Estados Unidos não deveriam se preocupar com o fórum, uma vez que quase todos os países do BRICS também integram o G20, e três foram convidados para o G7. O presidente pontua que o bloco é um agrupamento de países que atuam em prol do Sul Global, numa tentativa de reduzir a subordinação ao Norte, com o objetivo de conquistar mais independência em suas políticas e promover um comércio mais livre. Lula também destaca que a participação do Brasil no bloco não tem como objetivo prejudicar a relação com os Estados Unidos, considerada virtuosa.
Entrevista para o Jornal Nacional
Outros pontos discutidos na entrevista foram a visita de Lula a Cristina Kirchner, ex-presidente da Argentina condenada por corrupção, e a preocupação dos empresários brasileiros com as exportações. O presidente informou que recebeu autorização da Justiça argentina, após ser convidado pela própria Cristina para visitá-la. “Eu nunca me preocupei com o Trump receber o Bolsonaro”, adiciona.
Lula também afirmou que pretende reunir os principais empresários que atuam com maior volume de exportações para os Estados Unidos, a fim de estudar melhor a situação do setor, mas espera cooperação. “Porque se existe algum empresário que acha que o governo brasileiro tem que ceder e fazer tudo o que o presidente do outro país quer, sinceramente, esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro”, declarou.
O presidente brasileiro finalizou a entrevista respondendo sobre um suposto afastamento do país em relação a Donald Trump desde que este assumiu a presidência dos Estados Unidos. Ele brincou, dizendo que dois presidentes não se ligam para contar piada, e comentou sobre a ocasião em que deveria ter se encontrado com Trump no G7, o que não ocorreu devido a problemas do presidente norte-americano no Canadá. Lula afirmou que está disposto a conversar com Trump quando for necessário e que não teria problema algum com isso, e expressou a relação amistosa que teve com líderes anteriores, como Clinton, Bush, Obama e Biden.
Lula também lamentou a carta divulgada por Trump a respeito das taxações brasileiras, classificando como falta de respeito o fato de ela ter sido publicada apenas em seu site pessoal, sem ser enviada oficialmente ao presidente brasileiro.