Relatório aponta nível recorde de violência em ações de desocupação de terras no Brasil
Somente em 2024 foram cerca de 904 mil pessoas envolvidas nos conflitos por terra

Em 2024, foram contabilizados no Brasil 1.768 casos de disputas por terra – sendo que mais de 95% dizem respeito a atos violentos relacionados à posse e ocupação de territórios, conforme informações divulgadas nesta quarta-feira (23) pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Esse total representa o maior índice dos últimos dez anos, desde o começo da série histórica em 2015.
A maioria das ocorrências está relacionada às agressões contra a posse e a permanência em áreas rurais (1.680), incluindo remoções forçadas, ameaças de despejo, destruição de moradias, plantações e bens pessoais, além de casos de pistolagem, grilagem, invasões e outras formas de violência. Segundo o levantamento, os conflitos por terra envolveram um total de 904.532 pessoas.
Aumento da violência
O número de ocorrências violentas relacionadas à posse e ocupação de terras apresentou um crescimento de mais de 93% em comparação a 2015. Segundo os dados, em 2024 foram registrados 1.680 casos; em 2023, 1.624; no ano de 2022, 1.530; em 2021, 1.306; e em 2020, 1.632. Já em 2019, o total foi de 1.313 episódios, seguido por 1.016 em 2018, 1.047 em 2017, 1.136 em 2016 e, por fim, 868 registros em 2015.
A comunidade de Banhado, em São José dos Campos, está sofrendo ameaça de sofrer desapropriação com autorização de uso de força policial e do choque.
Localizada em uma área de grande interesse imobiliário, os ataques a essas populações, que habitam esses lugares há decadas, são… pic.twitter.com/yWY1roRvjH
— Gustavo Nassar Gaiofato | (@gaiofact) December 27, 2023
Ataque contra comunidade de Banhado em 2023 (Foto: reprodução/X/@gaiofact)
Entre os estados, o Maranhão aparece com o maior número de conflitos por terra (363), à frente do Pará (234), da Bahia (135), de Rondônia (119) e do Amazonas (117). Já São Paulo ocupa a 17ª colocação no ranking nacional.
As informações também indicam uma redução nos casos de violência relacionados a expulsões, decisões judiciais de despejo, ameaças de remoção, ações de pistolagem, grilagem de terras, invasões e destruição de bens pessoais.
Em contrapartida, foi identificado um aumento expressivo nas ameaças de expulsão, que passaram de 98 para 245 casos, o que representa um crescimento de 150%. Também cresceram os registros de desmatamento ilegal, que subiram de 150 para 209 (alta de 39%), os incêndios, que foram de 91 para 194 (aumento de 113%), além de casos de contaminação por agrotóxicos.
Fazendeiros X Ocupantes
Segundo o levantamento, os proprietários rurais respondem por cerca de 44% dos episódios de violência ligados à disputa por terra, sendo também os principais responsáveis por ações de queimada (47%) e por práticas de desmatamento ilegal (38%). Já grileiros, empresários e madeireiros aparecem entre os principais autores dos conflitos e atos violentos.
Massacre Pinheirinho: a reintegração de posse ordenada por Geraldo Alckmin que violentamente despejou 1600 famílias e quase 9 mil pessoas. A operação terminou com presos, feridos, mortos, desaparecidos e denúncias de abuso sexual+ pic.twitter.com/75KMldQqmW
— peru da sé vacante (@SofisShow) February 16, 2022
Ação de desocupação em Pinheirinho em 2022 (Foto: reprodução/X/@SofisShow)
Entre os grupos mais atingidos pela violência no campo, os povos indígenas permanecem no topo da lista, com 29% das ocorrências (481). Em seguida, estão os posseiros, com 425 registros, e os quilombolas, com 221.
Foto Destaque: Família fugindo de ação de desocupação em 2022 (Reprodução/X/@SofisShow)