Senado dos EUA aprova projeto que põe fim ao ‘shutdown’

O Senado dos EUA aprovou nesta segunda-feira (10) um projeto que foca no fim do “shutdown”, a paralisação de serviços federais que já dura 41 dias e afeta principalmente pagamento de salários de servidores públicos, afastamento de funcionários e transtornos no tráfego aéreo.

O “shutdown” deste ano é um dos mais longos da história dos Estados Unidos. Ele ocorreu pela falta de acordo de políticos Republicanos e Democratas no Senado nas negociações relativas ao orçamento americano.

Democratas e republicanos entram em acordo

Os senadores democratas e republicanos entraram em acordo neste domingo (09), após votarem a favor do fim da paralisação e avançar com a pauta para a Câmara. O pacote terá de passar pela Câmara dos Representantes, que deve manifestar seus votos na quarta-feira (12), e após aprovação será finalmente enviado ao presidente Donald Trump, que decidirá se assina ou não para acabar com a paralisação.

Com o acordo fechado no Senado, os republicanos aceitaram realizar uma votação em dezembro para aumentar os subsídios previstos na Lei de Cuidados Acessíveis. Esta foi uma das principais questões impostas pelos democratas nas negociações.

Por enquanto, os democratas aceitaram desistir de insistir no tema como condição para votar no projeto, vista a urgência da aprovação. Porém, de acordo com analistas e parte do partido, a atitude está sendo vista como uma capitulação à vontade da maioria republicana.

A resolução também irá reverter parte das demissões em massa de funcionários realizadas pelo governo Trump durante a paralisação, além de garantir, por um ano, o programa de financiamento de benéficos de assistência alimentar.


A paralisação afetou diversos setores públicos considerados essenciais, como o controle de tráfego aéreo. Os controladores continuaram trabalhando, mas sem receber salários.

Além de gerar transtornos como atrasos e cancelamentos, a paralisação gerou impactos imediatos na divulgação de dados econômicos, como o relatório de empregos, que estava previsto para a última sexta-feira (03). A divulgação desses dados afeta diretamente o mercado na formulação de políticas econômicas.

O setor de parques e museus também foi afetado, a manutenção e limpeza desses prédios foi prejudicada devido à falta de funcionários para atendimento e realização de limpeza.

A liberação de novas bolsas de estudo e o financiamento e empréstimo de obras, em cidades como Nova Iorque, também foram afetadas com a paralisação. Benefícios como vale-alimentação para mães e crianças de baixa renda foram suspensos, assim como o funcionamento de creches públicas.

O presidente americano Donald Trump afirmou que cerca de 750 mil funcionários federais afetados pelo “shutdown” poderia ser demitida, mas um grupo de sindicato dos trabalhadores entrou a favor para impedir as demissões em massa. No começo da paralisação, o republicano ameaçou demitir servidores públicos e encerrar programas federais ligados a democratas, caso o orçamento não fosse aprovado, mas agora ele mira nos subsídios da saúde.

Trump usou sua rede social Truth Social para criticar os serviços particulares de plano de saúde: “um lucro inesperado para as companhias de seguro saúde e um desastre para o povo americano”, e exigiu que os recursos fossem repassados para atender às pessoas que comprem cobertura por conta própria.

Estados Unidos enfrentam o shutdown mais longo da história

O governo dos Estados Unidos chega ao 36º dia de paralisação dos serviços públicos não-essenciais. O shutdown acontece em virtude do impasse em relação ao orçamento, uma queda de braço entre o presidente americano Donald Trump e o Congresso.

Esta é a segunda paralisação ocorrida sob gestão do republicano. A primeira ocorreu em seu primeiro mandato e durou 35 dias, de dezembro de 2018 a janeiro de 2019. Desta vez, o governo paralisou em 1º de outubro e segue sem previsão para terminar.

Vislumbres de esperança

Integrantes dos partidos Democrata e Republicano permanecem em um impasse há semanas, sem sinais de um acordo, embora alguns vislumbres de esperança estejam começando a surgir.

O líder da maioria no Senado, John Thune, o principal republicano da Casa, disse que seu “instinto” lhe dizia que um possível avanço poderia estar no horizonte: “Acho que, com base na minha intuição sobre como essas coisas funcionam, estamos chegando perto de uma solução”, disse.


John Thune, líder da maioria no Senado americano (Foto: reprodução/SAUL LOEB/AFP/Getty Images Embed)


Impacto na economia

Desde o início desta paralisação, as consequências do ato sobre os americanos comuns pioraram. Milhares de funcionários federais estão sem salário e há crescentes temores de maiores impactos nas viagens aéreas em todo o país, pois cerca de 13.000 controladores de tráfego aéreo, que são funcionários do governo, estão trabalhando sem salário devido à paralisação.

Na última terça-feira (04), o secretário de Transportes, Sean Duffy, em entrevista á emissora Fox News, relatou que algumas áreas do espaço aéreo dos Estados Unidos podem ter que ser fechadas se a paralisação do governo continuar.

Os impactos também foram sentidos por americanos de baixa renda que dependem de serviços governamentais. Uma em cada oito pessoas no país depende da assistência alimentar do Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP), mas apenas uma parte dessa assistência está sendo paga este mês devido à falta de financiamento.

A administração Trump havia dito inicialmente que nenhum fundo do órgão seria distribuído em novembro. Porém, um tribunal ordenou que fundos de contingência fossem usados ​​para fornecer alguma assistência às pessoas. Em resposta à decisão judicial da última segunda-feira (03), o governo Trump afirmou que retomará esses pagamentos — mas eles serão atrasados ​​e podem ser de apenas metade do valor que as pessoas normalmente recebem.


Sean Duffy, Secretário de Transportes dos Estados Unidos (Foto: reprodução/Aaron Schwartz/CNP/Bloomberg/Getty Images Embed)


Disputa partidária

Em uma entrevista à emissora CBS News, Trump continuou culpando os democratas e pediu aos republicanos do Senado que acabassem com a obstrução parlamentar para ignorar completamente os democratas. Os senadores aliados do presidente rejeitaram o pedido.

Já pelo lado dos Democratas, o MoveOn, um grupo liberal que incentivou os democratas a manterem-se firmes em suas exigências, emitiu um comunicado desencorajando os moderados do partido a negociarem um acordo com os republicanos para que tudo volte à normalidade. Katie Bethell, diretora-executiva do grupo, declarou que a culpa desta situação é do Partido republicano.

Como tudo começou

O impasse começou no dia 1º de outubro, após senadores democratas se recusarem a votar a favor de um projeto de lei de financiamento do governo. A condição seria a inclusão de uma extensão dos créditos fiscais da era Joe Biden que reduzem os custos dos planos de saúde adquiridos por meio das plataformas do Affordable Care Act (ACA).

Nos últimos dias, houve indicações de que alguns democratas e republicanos moderados estão ansiosos para negociar e encontrar um acordo antes do Dia de Ação de Graças, em 27 de novembro.

Shutdown: o que é e quais os impactos para a economia brasileira

Na última quarta-feira (1º), o governo dos Estados Unidos entrou em paralisação de seus principais serviços, ato conhecido como shutdown (“desligar”, em inglês). Isso acontece quando os membros do Congresso não chegam a um acordo para aprovação do orçamento. Com isso, os serviços públicos considerados não-essenciais são paralisados e funcionários ficam tem a remuneração suspensa.

Geralmente, os shutdowns não costumam durar muito tempo – o mais longo teve duração de 30 dias, em 2019. Contudo, o ato pode afetar a economia brasileira caso se prolongue. Especialistas explicam como isso pode acontecer.

O que é

O shutdown é a paralisação de serviços públicos considerados não-essenciais. Assim como ocorre no Brasil, o orçamento precisa ser aprovado pelo parlamento. Porém, nos Estados Unidos, quando oposição e situação não chegam a um consenso antes do início do próximo ano fiscal, o resultado é a paralisação no setor público, onde são mantidos somente funcionários essenciais em departamentos que protegem a vida humana ou a propriedade

A primeira vez em que os Estados Unidos implementaram o shutdown foi em maio de 1980, durante o governo do presidente democrata Jimmy Carter. O motivo foi uma disputa orçamentária entre o Congresso e a Casa Branca, relacionada principalmente ao financiamento de programas do Departamento Federal de Comércio e Justiça. Esse primeiro shutdown durou somente um dia.


O líder da maioria no Senado, o republicano John Thune (Centro), em coletiva de imprensa após o anúncio da paralisação (Foto: reprodução/Andrew Harnik/Getty Images Embed)

Motivos do impasse

O impasse atual versa sobre a lei denominada “One Big Beautiful Bill”. O texto foi aprovado pela Câmara em 19 de setembro, mas acabou rejeitado no Senado. O projeto amplia gastos em defesa e imigração, ao mesmo tempo, em que corta recursos de programas ambientais e outras prioridades democratas.

Na prática, a lei é a expansão de grande parte das medidas da lei “Tax Cuts and Jobs Act” (TCJA) de 2017. O texto inclui a manutenção dos cortes no imposto de renda de pessoas físicas, a ampliação da dedução padrão e um limite maior para a isenção do imposto sobre herança a partir de 2026.

Somado a isso, o texto cria aumentos de investimentos no setor de defesa e controle migratório. Já os gastos em programas sociais, como o Medicaid e o Supplemental Nutrition Assistance Program (SNAP), serão reduzidos, contudo, a medida será implementada somente em 2027, após as eleições de meio mandato.


Democratas protestam em favor de investimentos para o Obamacare (Foto: reprodução/Kevin Dietsch/Getty Images Embed)

Impacto no Brasil

Especialistas estudam o impacto que o atual shutdown pode acarretar a economia brasileira. O principal seria o atraso na divulgação dos indicadores econômicos, que orientam as decisões do banco central americano, como a taxa de juros.

Segundo Renato Nobile, da Buena Vista Capital, as ações atuais do presidente Donald Trump visam a desvalorização proposital do dólar. Com isso, vários bancos estão adquirindo ouro, por não enxergarem mais o dólar como uma moeda tão forte como antes.

Na última quarta-feira (1º), com o anúncio do shutdown, o preço do ouro chegou a marca de US$ 3.895,38 (cerca de R$ 20 mil) a onça (medida padrão de peso para metais).

Segundo Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, existe a possibilidade de investidores estrangeiros encerrarem suas operações em países emergentes, como o Brasil, por conta da falta de dados para análise de riscos. Já para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o dólar pode se fortalecer e pressionar a inflação interna por meio dos produtos importados.

Alguns investidores, porém, estão no aguardo da reunião entre Trump e Lula, que deve acontecer em breve. Para eles, o encontro tende a reduzir a pressão sobre o dólar e estimular a valorização da bolsa brasileira.

Atividades do governo dos EUA podem paralisar devido a ‘Shutdown’

O governo federal dos Estados Unidos está à beira de uma paralisação parcial (shutdown) por falta de financiamento, com risco de começar já na quarta-feira, 1º de outubro. O impasse ocorre porque o Congresso não conseguiu aprovar o financiamento necessário antes do fim do ano fiscal, que se encerra à meia-noite desta terça-feira (30).

Com o prazo esgotando, a probabilidade de um shutdown parcial é considerada alta, chegando a 79% no mercado de apostas Polymarket. Reuniões de emergência na Casa Branca nesta segunda-feira (29) com o Presidente Donald Trump e líderes do Congresso terminaram sem acordo.

O que causa o risco de Shutdown

O shutdown é acionado quando o Congresso não aprova as 12 leis anuais de apropriação ou, pelo menos, uma lei temporária de continuidade orçamentária (Continuing Resolution – CR) para manter as operações do governo. A paralisação interrompe o financiamento de agências consideradas “não essenciais”.

O atual impasse é profundamente político, centrado em duas grandes disputas.

Saúde e o ACA (Obamacare)

Democratas exigem que qualquer CR inclua a extensão dos subsídios que ajudam milhões de americanos de baixa renda a pagar por seguros de saúde. O Vice-Presidente JD Vance acusa os Democratas de “segurar o governo refém” por essas demandas.

Cortes de gastos

Os Republicanos, que controlam a Casa Branca e o Congresso, buscam cortes de gastos de US$1 trilhão e a eliminação de agências que consideram “redundantes”. Os Democratas acusam a sigla de “crueldade” ao priorizar cortes em detrimento de programas sociais e saúde.

Líderes de ambos os partidos se culpam publicamente. Republicanos usam a hashtag #SchumerShutdown, enquanto Democratas afirmam que o GOP está travando uma “luta pela saúde do povo americano”.


Líder da Câmara dos Representantes dos EUA, Hakeem Jeffries e líder da minoria no Senado, Chuck Schumer (esq.)(Foto: reprodução/BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images Embed)

Impactos diretos da paralisação

Se o Congresso não agir até a meia-noite, a partir de 1º de outubro, o país enfrentará uma série de disrupções, como:

Cerca de 2 milhões de funcionários “não essenciais” podem ser colocados em licença não remunerada (furlough). Funcionários essenciais (controle de tráfego aéreo, alfândega) continuam trabalhando, mas sem receber salário até o fim do impasse.

Fechamento de parques nacionais e museus (como o Smithsonian), atraso no processamento de vistos e passaportes, e suspensão de novas pesquisas no NIH (Institutos Nacionais de Saúde).

A Receita Federal (IRS) pode atrasar o processamento de reembolsos de impostos. Veteranos e agricultores podem enfrentar atrasos em benefícios e empréstimos federais.

Pagamentos de benefícios de Social Security (aposentadoria) e Medicare continuam, mas o processamento de novos pedidos pode parar ou ser severamente atrasado.

Economia e mercado

Embora shutdowns sejam eventos políticos recorrentes, eles têm um custo econômico real. O último grande shutdown (2018-2019) durou 35 dias e custou cerca de US$3 bilhões à economia americana.

A incerteza política já causa volatilidade. O risco fez com que o termo “Government Shutdown” fosse um dos assuntos mais comentados no X (antigo Twitter) e levou a uma compra agressiva de calls no índice VIX (o “medidor de medo” do mercado), sinalizando pânico entre investidores. Mercados de ações e criptomoedas podem cair inicialmente.

Uma das consequências mais graves é a suspensão da divulgação de dados econômicos essenciais, como o relatório mensal de emprego (Payroll) e os dados de inflação, deixando o Federal Reserve (Fed) e os mercados sem informações vitais para tomar decisões.

A instabilidade reforça preocupações sobre a governabilidade dos EUA, o que pode levar as agências de classificação de risco a rebaixar a nota de crédito do país.

O país aguarda agora um acordo de última hora, que pode vir na forma de uma CR curta, mas as negociações seguem tensas. Se a paralisação ocorrer, o tempo médio de duração, embora incerto, geralmente não ultrapassa poucas semanas.