Queda do dólar para R$ 5,29 pode impulsionar investimentos em tecnologia no Brasil

A recente queda do dólar para R$ 5,29 não é apenas resultado da expectativa de corte de juros nos Estados Unidos. O movimento também reflete mudanças estruturais nos cenários econômicos interno e externo, com potencial para mexer diretamente no mercado de tecnologia. Para startups, empresas de software e players de hardware, um dólar mais barato significa custos menores para importação de componentes, maior acesso a capital estrangeiro e maior competitividade no cenário internacional.

Nessa quarta-feira (16), o Federal Reserve (Fed) decidiu o valor da taxa de juros americana. A expectativa é de corte de 0,25 ponto percentual. No mesmo dia, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reuniu para deliberar sobre a Selic, que deve ser mantida em 15%. Se o cenário se confirmar, o Brasil se tornará mais atrativo para investidores internacionais, inclusive fundos de venture capital focados em inovação e tecnologia.

Cenário doméstico e oportunidades digitais

Além do fator juros, o enfraquecimento do dólar também está ligado à dinâmica interna da economia. A inflação medida pelo IPCA está em 5,13% e as vendas no varejo caíram 0,3% em julho, segundo o IBGE. Ainda assim, o mercado de trabalho mostra resiliência: a taxa de desemprego atingiu 5,6%, o menor índice desde 2012, com mais de 102 milhões de brasileiros empregados. Esse ambiente, embora desafiador, abre espaço para negócios digitais e plataformas online, que se beneficiam tanto de mão-de-obra disponível quanto de novas demandas do consumidor.


Dólar em baixa pode baratear importações de equipamentos e softwares para o Brasil (Foto: reprodução/Bing Guan/Bloomberg/Getty Images Embed)

Incertezas globais e efeitos no mercado tecnológico

Nos EUA, a inflação está em 2,9%, a maior desde janeiro, em meio a tarifas impostas pelo presidente Donald Trump com  sinais de crescimento mais lento. Esse contexto aumenta a volatilidade cambial e faz com que investidores busquem mercados alternativos para inovação e tecnologia, dentre eles, o Brasil. As tensões políticas, como as críticas de Trump ao presidente do Fed, Jerome Powell, e a tentativa frustrada de demitir a diretora Lisa Cook, adicionam incerteza ao cenário.

Para o setor de tecnologia brasileiro, a combinação de dólar em queda, juros domésticos altos e apetite de capital estrangeiro pode se traduzir em um ciclo positivo de investimentos, aceleração de startups e barateamento de importações de equipamentos e softwares.

 

 

Ibovespa volta a subir e dólar fecha em queda nesta segunda-feira

A semana começou com um respiro para o mercado brasileiro, que fechou a bolsa nesta segunda-feira (21) com uma alta de 0,59% e uma pontuação de 134.166. Após duas semanas de queda, com um acúmulo de 2% de perda nos últimos sete dias, o Ibovespa ensaiou uma recuperação. 

Já o dólar encerrou o pregão desta segunda com uma queda de 0,40%, cotado a R$5,565. Esse recuo frente ao real acompanhou o cenário internacional, onde a moeda norte-americana também operou em queda. As atenções do mercado estavam voltadas para o resultado das eleições no Japão e para as incertezas frente a guerra tarifária travada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. 

Guerra tarifária 

Em entrevista à rádio de notícias CBN nesta segunda-feira (21), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que irá insistir em uma negociação comercial com Washington, mas não descartou a possibilidade das medidas tarifárias entrarem em vigor no dia um de agosto, em razão da falta de resposta das autoridades americanas. 

A possível taxação de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos e os seus desdobramentos vêm sendo monitorados com cautela pelos agentes do mercado, que controlaram os ânimos frente à alta do Ibovespa.


Entrevista de Fernando Haddad à CBN (Vídeo: reprodução/YouTube/Rádio CBN)

Alta no Ibovespa 

A recuperação do principal indicador de desempenho das ações negociadas na bolsa brasileira foi impulsionada pelas ações da mineradora Vale, que chegaram a valorizar 4% durante a tarde e finalizaram o dia 21 com um avanço de 2,7%.

O Ibovespa acompanhou o mercado exterior. Em Nova Iorque, os índices S&P 500 e Nasdaq alcançaram novos recordes, com altas de, respectivamente, 0,14% e 0,38%. Ambos indicadores estão em recuperação, dado o acúmulo de duas quedas nos primeiros meses do governo Trump. 

A alta em Wall Street foi impulsionada pelas empresas de tecnologia, como Alphabet e Tesla, que irão divulgar os balanços corporativos do segundo semestre nesta quarta-feira (23).

Investidores apostam em possíveis acordos comerciais para amenizar os danos econômicos do tarifaço global de Donald Trump. 

Bancos mundiais passam a investir em reservas de ouro, euro e yuan após desdolarização

Segundo o relatório do Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras (OMFIF) divulgado nesta terça-feira (24), grande parte dos bancos centrais passará a priorizar o ouro, euro e yuan em detrimento do dólar. De acordo com o documento, as mudanças nas estratégias foram motivadas pelas recentes questões geopolíticas.

Ouro, euro e yuan

Após o Dia da Libertação, nome dado ao dia em que as recentes tarifas comerciais foram implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, houve grandes mudanças na dinâmica comercial mundial, incluindo uma queda na influência do dólar, que até o ano passado era a principal moeda dos investidores.

A pesquisa da OMFIF realizada em maio deste ano revelou que 70% dos entrevistados se sentem atualmente desmotivados a continuar investindo no dólar por conta do ambiente político estadunidense. Em meio às mudanças no cenário, 40% dos bancos planejam investir a longo prazo em suas reservas de ouro: “Após anos de compras recordes de ouro pelos bancos centrais, os gestores de reservas estão dobrando a aposta no metal precioso”, afirmou o Fórum Oficial.


Yuan, moeda oficial da República Popular da China (Foto: reprodução/S3studio/ getty images embed)

O euro e o yuan, moedas oficiais de países europeus e da República Popular da China, também ganharam mais espaço após a queda do dólar, com 16% dos bancos planejando aumentar suas reservas da moeda.

Recuperação

Segundo pesquisa da Reuters, o euro poderá recuperar sua influência perdida em 2011, após a crise da dívida pública dos países na “Zona do Euro”, podendo gerar uma participação de 25% nas reservas cambiais.

A expectativa da queda do dólar se mostra um cenário novo no mundo financeiro. Max Castelli, chefe de estratégia e consultoria de mercados soberanos globais do UBS Asset Management, afirma que: “Pelo que me lembro, essa pergunta nunca foi feita antes, nem mesmo após a grande crise financeira de 2008”,  ao se referir aos questionamentos feitos pelos grandes gerentes sobre a classificação atual do dólar.

Ainda assim, a moeda estadunidense, mesmo após uma queda significativa, continua preservando a condição de principal reserva do mundo até o momento, com participação de 52%.