Moraes condena sete réus por participação em núcleo das fake news

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta terça-feira (21) pela condenação de sete réus ligados ao chamado “núcleo das fake news” da trama golpista. O grupo é acusado de ter organizado campanhas de desinformação com o objetivo de enfraquecer as instituições e sustentar uma tentativa de golpe para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder, mesmo após a derrota nas urnas em 2022.

Em seu voto, Moraes destacou que as provas reunidas ao longo da investigação mostram uma atuação estruturada e persistente, voltada à criação de caos social e ao incentivo de ataques à Justiça Eleitoral e ao Poder Judiciário. Para ele, a disseminação coordenada de mentiras sobre fraude nas urnas eletrônicas não se confunde com liberdade de expressão, trata-se, nas palavras do ministro, de um “novo populismo digital extremista”, que instrumentaliza as redes sociais para corroer a democracia.

Segundo o relator, os réus “atuaram de forma orquestrada, promovendo desinformação e estimulando o ódio contra as instituições democráticas”. Moraes frisou que os discursos e publicações do grupo visavam legitimar a ruptura institucional e justificar uma intervenção militar, configurando uma tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Uso indevido de órgãos do Estado e manipulação de informações

Um dos pontos centrais do voto de Moraes foi a constatação de que estruturas oficiais, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foram utilizadas de forma indevida para alimentar as chamadas “milícias digitais”. Segundo o ministro, o uso dessas instituições teve como finalidade criar e divulgar narrativas falsas sobre supostas vulnerabilidades das urnas eletrônicas, buscando deslegitimar o sistema eleitoral e o próprio Poder Judiciário.


Confira o voto de Alexandre de Moraes durante condenação (Vídeo: Reprodução/Instagram/@portalg1)

Para Alexandre de Moraes, o envolvimento desses órgãos reforça o caráter criminoso e político da organização. “Essas finalidades evidenciam a natureza ilícita do grupo, que usou o aparato do Estado para atacar o Estado”, afirmou. Ele ressaltou que os atos investigados extrapolam o campo do debate político e configuram uma tentativa concreta de golpe de Estado, uma vez que visavam impedir a alternância legítima do poder.

O ministro destacou ainda que a desinformação não ocorreu de forma isolada, mas sim integrada a outros núcleos da trama golpista. Esses núcleos se comunicavam constantemente, compartilhando mensagens e estratégias com o objetivo de gerar instabilidade e mobilizar setores da sociedade contra as instituições democráticas.

Provas, conexões e a tentativa de manter o poder

De acordo com o voto do relator, o material reunido no processo demonstra de forma robusta a interligação entre os grupos investigados. Mensagens, documentos e laudos falsos circularam entre os integrantes, comprovando que havia uma estrutura organizada com diferentes frentes de atuação. Moraes descreveu essa coordenação como “uma engrenagem criminosa que funcionava simultaneamente no campo político, digital e institucional”.

O ministro apontou que o objetivo final do grupo era provocar uma convulsão social que permitisse a decretação de um estado de exceção e a criação de um “gabinete de crise” para substituir o governo eleito. Ele ressaltou que esta foi “a primeira vez na história democrática do país em que se planejou, dentro do Palácio do Planalto, a instalação de um gabinete após a derrubada de um governo legitimamente eleito”.

Moraes também mencionou a necessidade de novas investigações envolvendo outras figuras políticas, entre elas Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), apontado pela Polícia Federal como financiador de campanhas de desinformação contra o sistema eleitoral. O relator afirmou que, diante da confirmação de crimes por parte de integrantes do Instituto Voto Legal, pode ser necessário reabrir apurações sobre o papel do dirigente partidário na articulação do esquema.

Com o voto de Alexandre de Moraes, o Supremo dá mais um passo no julgamento dos responsáveis por articular e sustentar ataques à democracia brasileira. Ainda faltam os votos dos ministros Cristiano Zanin, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino, mas o posicionamento do relator reforça o entendimento de que o combate à desinformação é também uma defesa ativa do Estado Democrático de Direito.

María Corina Machado ganha Prêmio Nobel da Paz 2025

O Prêmio Nobel da Paz 2025 foi entregue para María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, nesta sexta-feira (10). A ganhadora foi reconhecida pela liderança e sua luta a favor da democracia e direitos humanos da Venezuela. Além disso, é recebido uma premiação em dinheiro de 11 milhões de coroas suecas (R$ 6,2 milhões na cotação atual). María se tornou a 20ª mulher a ganhar o Nobel.

A luta de María Corina

A líder da oposição está nessa luta desde as eleições no país, em 2024, onde ela havia contestado duramente os resultados que fizeram o atual presidente, Nicolás Maduro, ser reeleito, alegando que não houve transparência e que a vitória de Maduro nunca foi reconhecido na área internacional até hoje. Vale destacar que ela havia sido impedida de eleger naquele ano e sofre muita repressão do regime atual. Corina havia sido presa ano passado e vive escondida na Venezuela enquanto luta pelos direitos do povo venezuelano.


María Corina Machado discursando para o povo da Venezuela (Foto: reprodução/Jesus Vargas/Getty Images Embed)

Motivações por trás da escolha

A escolha atendeu critérios de efeito duradouro, alcance internacional e risco pessoal enfrentado pelo vencedor ou vencedora. Entre as justificativas estão avanços em processos de mediação entre partes rivais, participação na reconstrução pós-conflito e promoção de direitos humanos fundamentais, inclusive para grupos vulneráveis. O comitê pontuou que o prêmio também serve para inspirar outras iniciativas semelhantes no mundo inteiro.

Reações internacionais

A notícia foi saudada por governos, organizações humanitárias e especialistas em política internacional. Em países diretamente envolvidos nos contextos de atuação do laureado, houve manifestações de apoio e comemoração. Alguns críticos questionaram se a escolha é simbólica ou se terá respaldo político real para provocar mudanças concretas sobre o terreno.

O legado e os desafios

Receber o Nobel da Paz implica responsabilidade. A expectativa é que o ganhador use o prêmio como plataforma para ampliar sua voz global, garantir segurança às suas iniciativas e consolidar acordos que já mostram sinais de fragilidade. Ao mesmo tempo, haverá pressão para que os resultados tangíveis se confirmem nos próximos anos.

Brasil e países aliados excluem os Estados Unidos do encontro sobre democracia na ONU

No próximo dia 24 de setembro, quarta-feira, acontece em Nova York, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a segunda edição do encontro “Em Defesa da Democracia e contra o Extremismo”. Esse evento, que busca fortalecer os princípios democráticos, foi criado em 2024 pelo Brasil e pela Espanha com a participação dos Estados Unidos sob a presidência de Biden que enviou um representante: o secretário de Estado, Kurt Campbell.

Decisão de Lula

Neste ano, o Brasil decidiu excluir os Estados Unidos da reunião. A decisão foi motivada pelo entendimento de que os posicionamentos do atual presidente Donald Trump não reflete um verdadeiro estado democrático, não havendo ambiente político para esse encontro, principalmente pelas sanções e o tarifaço aplicado a produtos brasileiros.  A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve o apoio de países aliados como Chile e Espanha.


 

CNN Brasil (Vídeo: reprodução/You Tube/@CNNBrasil)

Defesa da Democracia

O encontro ocorreu pela primeira vez no ano passado e tem como objetivo discutir questões como a defesa da democracia e o combate ao extremismo, um movimento iniciado por Brasil e Espanha que conta com a participação de outros 12 países: Cabo Verde, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos e França, México, Noruega, Quênia, Senegal, Timor-Leste. As nações presentes debateram ameaças à democracia e ações extremistas em diferentes partes do mundo. Reiterado o compromisso, o presidente Lula disse, na ocasião, que enquanto não houver firmeza na regulação das plataformas digitais e no uso de tecnologias de inteligência artificial, as sociedades continuarão expostas a constantes ameaças. Ele reafirmou que nenhuma empresa de tecnologia ou pessoa, independentemente de sua riqueza, está acima da lei e encerrou a fala dizendo que é necessário que assumam responsabilidade pelo conteúdo que divulgam.

O presidente brasileiro embarcou neste domingo (21) para os Estados Unidos, tem diversos compromissos agendados para a semana. Estão previstas cerca de dez reuniões bilaterais e há a possibilidade de um encontro com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy.

 

STF rejeita anistia a Bolsonaro e oposição articula projeto na Câmara

Durante o julgamento da trama golpista, ministros do STF foram enfáticos: os crimes atribuídos a Jair Bolsonaro e seus aliados não podem ser perdoados. Mesmo assim, parlamentares da oposição seguem pressionando por uma lei de anistia que favoreça o ex-presidente, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão. O embate entre Judiciário e Congresso promete esquentar ainda mais o cenário político.

Mesmo que o Congresso aprove uma lei de anistia, ela pode ser considerada inválida pelo STF. A Corte já estabeleceu decisões anteriores que indicam a inconstitucionalidade desse tipo de medida, especialmente quando envolve crimes contra a ordem democrática.

Oposição articula anistia e busca apoio no STF

Aliados de Bolsonaro começaram a buscar aproximação com ministros do STF, tentando captar possíveis sinais de abertura para uma lei que favoreça tanto o ex-presidente quanto os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Segundo os aliados, as punições aplicadas foram desproporcionais, e cabe ao Congresso Nacional o poder de instituir uma lei que conceda perdão aos condenados. A articulação tem sido liderada por membros da alta cúpula do PL, como o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que atualmente comanda a bancada do partido na Câmara dos Deputados.

O debate sobre a anistia deve dominar a pauta do Congresso na próxima semana, concentrando as atenções e movimentações dos parlamentares.


O ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: reprodução/Alan Santos/G1PR)

Constituição em debate

A Constituição não possui uma proibição explícita à anistia para crimes contra a democracia. No entanto, ela determina que ações de grupos armados, sejam civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático de Direito são imprescritíveis. Isso significa que tais crimes podem ser punidos a qualquer momento, sem limite de tempo, mesmo após muitos anos.

Diante da gravidade atribuída pela Constituição aos crimes contra a democracia considerados imprescritíveis, especialistas argumentam que conceder anistia seria incoerente, pois equivaleria a permitir o perdão de atos que, por definição, devem ser punidos a qualquer tempo.