Redução de tarifas do café nos EUA reacende disputa global e abre nova janela para o Brasil

O aroma do café brasileiro pode ganhar mais espaço nas xícaras norte-americanas. Em uma declaração que mistura pragmatismo econômico e sinal político, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a intenção de reduzir as tarifas sobre as importações de café. A medida, ainda em fase inicial, pode reposicionar o Brasil, maior exportador mundial do grão, no centro de uma disputa global por mercado e influência comercial.

Café e geopolítica 

O anúncio chega em um momento de tensão comercial entre Washington e diversos parceiros, após meses de políticas protecionistas que elevaram o preço de produtos básicos no varejo americano. O café, símbolo cultural e energético da rotina nos EUA, não escapou da escalada tarifária.

Para Trump, reduzir as tarifas é uma forma de responder à pressão doméstica causada pela alta de preços, que, segundo associações locais, já ultrapassou 20% em um ano. Mas por trás do discurso sobre “ajudar o consumidor americano” há também uma estratégia diplomática: reaproximar os EUA de grandes exportadores latino-americanos, especialmente o Brasil e a Colômbia.

Brasil na vantagem, mas com cautela

O Brasil desponta como o principal beneficiado potencial. Responsável por quase um terço de todo o café importado pelos EUA, o país pode ampliar sua presença em um dos mercados mais lucrativos do mundo. Especialistas, porém, pedem cautela: o anúncio ainda carece de detalhes técnicos e não há garantias de que o Brasil será diretamente contemplado nas reduções.

“Se o corte tarifário for amplo, o Brasil tem tudo para consolidar sua liderança. Mas, se for seletivo, pode acabar privilegiando outros parceiros estratégicos dos EUA”, explica o economista e analista de comércio exterior Rafael Santoro.


 Donald Trump bebendo café (Foto:reprodução/x/@blogdonoblat)


Oportunidade para reposicionar o produto brasileiro

Além do impacto econômico, a medida abre uma oportunidade de fortalecimento de imagem. O café brasileiro, cada vez mais associado a práticas sustentáveis e à produção de alta qualidade, pode usar a redução tarifária para reforçar sua presença no segmento premium do mercado americano, um público disposto a pagar mais por rastreabilidade e sabor.

Empresas exportadoras já avaliam o movimento como positivo. “Se as tarifas caírem, a diferença de preço no varejo tende a diminuir, o que aumenta nossa competitividade e o consumo nos EUA”, comenta uma fonte do setor cafeeiro.

Um mercado que continua em ebulição

Mesmo com a promessa de alívio, o mercado global de café segue pressionado. Questões climáticas no Brasil e em outros produtores, oscilação cambial e custos logísticos ainda podem limitar o impacto real da decisão americana.

Além disso, o gesto de Trump ocorre em um cenário de aproximação comercial entre Brasil e China, o que adiciona um ingrediente político à mistura. Washington parece sinalizar que ainda quer manter laços com o agronegócio brasileiro, peça estratégica na balança global de commodities.

No fim das contas, a decisão de reduzir tarifas sobre o café não é apenas econômica. É também simbólica: mostra que o comércio internacional segue sendo um campo de disputa de narrativas e interesses. Para o Brasil, o desafio é transformar esse possível corte em um salto de competitividade, e não apenas em mais um capítulo de boas intenções diplomáticas.

Exportações brasileiras de café ganham reforço com acordo com a China

A China liberou 183 empresas brasileiras para exportação de café, concedendo licenças válidas por cinco anos. A decisão foi anunciada pela embaixada chinesa no Brasil em resposta ao aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros imposto pelos Estados Unidos, que entrou em vigor no início de agosto. A medida abre uma alternativa importante para os exportadores nacionais, que enfrentam dificuldades diante do novo cenário tarifário imposto pelo governo americano.

Tarifas dos EUA afetam café do Brasil

A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre o café brasileiro entrou em vigor em 6 de agosto e representa um grande obstáculo para os exportadores nacionais. Esse aumento tarifário impacta diretamente o fluxo comercial entre Brasil e EUA, que historicamente é expressivo: o país norte-americano é um dos principais destinos do café produzido no Brasil, recebendo cerca de 8 milhões de sacas anualmente. Em junho deste ano, o volume exportado para os EUA foi de aproximadamente 440 mil sacas o que demonstra a importância desse mercado para os produtores brasileiros.

Esse número é quase oito vezes maior que o volume enviado para a China no mesmo período, que foi de 56 mil sacas. Diante desse cenário, os exportadores brasileiros enfrentam o desafio de buscar novos mercados e estratégias comerciais para reduzir a dependência do mercado americano. A abertura da China para a exportação de café aparece, portanto, como uma alternativa relevante para amenizar os efeitos da alta tarifária dos EUA e diversificar os destinos das exportações brasileiras.


PT anunciando acordo com a China (Foto:reprodução/instagram/@ptbrasil)

Parceria com China favorece exportadores

A recente autorização concedida pela China para que 183 empresas brasileiras possam exportar café ao país é vista como uma oportunidade estratégica para os produtores brasileiros. A China, que já é o maior parceiro comercial do Brasil em várias áreas, pode se tornar um mercado ainda mais relevante para o setor cafeeiro, contribuindo para a ampliação e diversificação das exportações. Com licenças válidas por cinco anos, essa medida garante estabilidade e segurança para as empresas brasileiras planejarem suas vendas e investimentos no mercado chinês.

Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Brasil detém atualmente cerca de um terço do mercado de café dos Estados Unidos, um setor que movimenta cerca de US$ 4,4 bilhões em um ano, evidenciando a dimensão e importância desse comércio. No entanto, com o aumento das tarifas americanas, a China surge como um parceiro estratégico para mitigar os impactos econômicos causados pelas barreiras tarifárias, oferecendo um canal alternativo para a comercialização e possibilitando que o Brasil mantenha sua posição como um dos principais fornecedores globais de café.

Panorama das exportações do agro

O Brasil se destaca mundialmente como líder na exportação de vários produtos agrícolas, especialmente café, suco de laranja e carne bovina, três setores diretamente impactados pelas recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos.

Café: Com uma produção anual de 41,75 milhões de sacas de 60 kg, o Brasil domina o mercado global de café, muito à frente de países como Vietnã (27,9 milhões de sacas) e Colômbia (11,9 milhões). Cerca de 77% dessa produção é destinada ao mercado externo, tendo os Estados Unidos como principal comprador, absorvendo 16% do total exportado, seguidos por Alemanha (14%) e Itália (9,3%). O restante das exportações é distribuído por diversos outros países, que juntos representam 60,4% das compras.

Suco de laranja: O Brasil também lidera com folga o mercado mundial de suco de laranja, com exportações anuais de 954 mil toneladas, superando com larga vantagem México (182 mil toneladas) e União Europeia (111 mil toneladas). Aproximadamente 93% do suco produzido é vendido para o exterior, tendo a União Europeia como principal destino (51,4%), seguida pelos Estados Unidos (41,7%) e China (2,6%).

Carne bovina: Na exportação de carne bovina, o Brasil figura como o maior fornecedor global, com 3,75 milhões de toneladas anuais, quase o dobro da Austrália (1,96 milhão) e da Índia (1,56 milhão). Embora a maior parte da carne consumida no Brasil (78%) fique no mercado interno, 22% é exportada, com a China respondendo por quase metade dessa fatia (48,8%), enquanto os Estados Unidos representam 12,1% e o Chile 4,76%.

Este panorama revela a diversidade e a força do agronegócio brasileiro nos mercados internacionais, ressaltando a importância de buscar alternativas diante das recentes barreiras comerciais, especialmente no setor de café.

Tarifa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros: o que muda nos preços do café, carne e combustível

A tarifa de 50% anunciada pelo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, sobre produtos importados de países alinhados aos Brics — incluindo o Brasil — deve impactar diretamente os preços de itens do dia a dia do consumidor brasileiro. Setores como o agronegócio, o petróleo e a indústria de base estão entre os mais atingidos. A medida, que entra em vigor no dia 1º de agosto de 2025, pode gerar tanto efeitos de alta, como no caso dos combustíveis e do aço, quanto de queda ou estabilidade, como no café e na carne, devido ao redirecionamento da produção para o mercado interno. A depender da intensidade da reação global e da resposta dos produtores nacionais, os próximos meses devem ser marcados por instabilidade nos preços e nos mercados.

Impacto nas exportações e pressão nos preços internos

Segundo a Reuters, o Brasil exportou em 2024 cerca de US$ 40,4 bilhões para os EUA — equivalente a 12% do total exportado — e o aumento abrupto da tarifa tende a reduzir drasticamente esses embarques.
O café representa 16,7% das exportações brasileiras para os EUA; a demanda americana deve recuar e grandes torrefadoras buscar mercados alternativos, como Europa e Ásia. A carne bovina, onde os EUA são o segundo maior mercado, também terá impacto significativo para empresas como Minerva e JBS.


Presidente americano Donald Trump (Foto: Reprodução/Win McNamee/Getty Images Embed)

Enquanto isso, exportações de petróleo (cerca de 13% do total) serão menos afetadas, por possuírem maior flexibilidade logística para redirecionamento.

O real brasileiro sofreu desvalorização de até 2,9% logo após o anúncio, e setores como café, siderurgia e aeronáutica já registram perdas expressivas nas bolsas.

Café e carne: mais oferta interna, menos exportações

Analistas do agronegócio afirmam que a equação comercial está sendo reescrita: com exportações freando, o volume de produtos — especialmente café e carne — tenderá a se concentrar no mercado interno. Essa maior oferta doméstica pode conter aumentos de preço ou até provocar quedas pontuais, dependendo da elasticidade da demanda interna .

Economistas destacam que setores exportadores devem buscar novos destinos como União Europeia e Ásia, mas com condições adversas de demanda global, essa realocação será lenta e parcial.

Combustível e derivados: pressão moderada

O setor de petróleo e derivados será impactado em menor escala. Embora represente cerca de 18,3% das exportações brasileiras aos EUA (aproximadamente US$ 7,5 bilhões em 2024), sua capacidade de redirecionar embarques reduz o impacto direto sobre preços domésticos.
Entretanto, a desvalorização do real e maior volatilidade cambial podem pressionar custos logísticos, refletindo em leves altas nos preços dos combustíveis internos.

Aeronaves, café e petróleo estão entre produtos brasileiros mais exportados aos EUA

Uma nova tarifa de 50% imposta ao Brasil foi anunciada nesta quarta-feira (9) pelo governo do presidente Donald Trump e provavelmente trará uma alta nos valores de exportação para os Estados Unidos. Como consequência deste ato, além de impactos nos setores industriais gerando reflexo nos empregos, o valor dos alimentos também poderá ser afetado.

Petróleo bruto, aeronaves e café fazem parte da lista de alguns dos produtos que o Brasil mais exportou para os Estados Unidos neste ano. De acordo com Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do INEU (Instituto Nacional dos EUA), aproximadamente 15% do total das exportações do Brasil vão para os Estados Unidos.

De acordo com o MDIC ( Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), os EUA são o segundo parceiro comercial do Brasil, apenas a China lidera essa posição.


Exportações Brasil/EUA (Vídeo/Reprodução/YouTube/@CNNbrasil)

Produtos mais exportados

Dentre os produtos nacionais mais exportados para os Estados Unidos entre janeiro e junho deste ano, é possível destacar os 10 mais significativos em ordem decrescente de valores. São eles: petróleo bruto: US$ 2,378 bilhões; semiacabados de ferro e aço: US$ 1,518 bilhão; café: US$ 1,172 bilhão; aeronaves: US$ 876 milhões; derivados de petróleo: US$ 830 milhões; sucos de fruta (principalmente laranja): US$ 743 milhões; carne bovina: US$ 738 milhões; ferro fundido: US$ 683 milhões; celulose: US$ 671 milhões e escavadoras, pás mecânicas e compressores: US$ 568 milhões.

As exportações de produtos brasileiros para os Estados Unidos equivalem aproximadamente cerca de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. A nova percentagem sobre os produtos brasileiros entrará em vigor a partir do dia 1° de agosto.

Exportações entre os países

Apesar de Donald Trump afirmar que há uma relação comercial injusta entre EUA e Brasil marcada por “desequilíbrios gerados por políticas tarifárias e não tarifárias e por barreiras comerciais do Brasil”, a  fluidez comercial entre os dois países acarreta cerca de US$ 80 bilhões anuais.

De acordo com nota da CNI (Confederação Nacional da Indústria), os Estados Unidos vem mantendo um ritmo excedente com o Brasil há pelo menos 15 anos. Somente nos últimos dez anos a diferença positiva entre as receitas norte-americana no comércio de bens foi de US$ 91,6 bilhões. Com a inclusão do comércio de serviços esse valor chega a US$ 256,9 bilhões. O Brasil é um dos poucos países onde a receita excedida se mantém favorável aos EUA.

Valor do café tem alta de 81% em um ano, mas preço começa a baixar no campo

Nesta quinta-feira (26), dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15) que foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que na prévia da inflação do mês de junho o café moído ficou na segunda posição dos itens que mais sofreram inflação, seguido da energia elétrica que ocupou a primeira posição. No mês de maio, a alta do produto foi de 2,86%, porém, no acumulado anual, o preço subiu 81,6%.

Queda do valor no campo

Desde março, mês que marca o início da colheita do café no Brasil, há registro de queda na cotação do produto. De acordo com o Cepea/Esalq-USP, o café arábica, que é o mais consumido do país, teve uma queda de 17% em sua cotação mensal em junho quando comparado com o mês de fevereiro, onde atingiu o recorde de alta.


Reportagem cotação do café (Vídeo/Reprodução/YouTube/@g1globo)

Apesar do avanço da colheita no Brasil, a baixa dos preços também é atribuída à recuperação das lavouras na Indonésia e no Vietnã, que são importantes produtores. Quando há a redução do consumo provocada pelo valor elevado do produto, a pressão reflete nos preços para o produtor.
Já a colheita do café mais consumido no país, o arábica, tem sua máxima produção entre os meses de junho e julho. Comparado ao ciclo passado, teve uma queda de 6,6 que foi diretamente afetada pelas condições climáticas com períodos de seca nas lavouras.

Repasse dos valores ao consumidor

Apesar da queda apresentada pelos órgãos competentes, o repasse ao consumidor será feito de forma lenta e gradual. Para especialistas, se a próxima safra não for impactada diante das adversidades climáticas, a queda no valor para o consumidor poderá ser significava apenas em 2026, porém segundo o IBGE a inflação do café vem caindo mês a mês desde março.
Para o analista da consultoria StoneX Brasil, Fernando Maximiliano, há um tempo entre o processo da colheita do café e a secagem até chegar na indústria para ser torrado, embalado e distribuído e isso leva a demora do repasse dos valores do campo até o consumidor final.