Que tal um quebra-cabeça? O longa, dirigido e roteirizado por Zeca Ferreira, conhecido por seus diversos curtas, e estrelado por Marieta Severo e Everaldo Pontes, “Noites de Alface” convida seus espectadores para jogar um quebra-cabeças entre o ficcional e o real, assim como os faz se sentir em uma viagem no tempo.
Poster oficial do filme "Noites de Alface" (Divulgação: Afinal Filmes/ Pipa Pictures)
Gravada e ambientada na ilha de Paquetá, RJ (no ano de 2018), e inspirada no livro de mesmo nome de Vanessa Bárbara, a trama conta sobre a pacata vizinhança onde moram Otto (Everaldo Pontes) e Ada (Marieta Severo). Sem grandes agitações em sua vida, o fechado, paranoico e antissocial Otto, embarca em aventuras emocionantes e suspenses de arrepiar em seus livros sobre investigações policiais.
Tudo gira em torno de Ada (Marieta Severo). As informações trazidas de fora, o funcionamento da casa amarela interiorana em que vivem, até mesmo a resolução das noites infindáveis de insônia de Otto, com seu chá de alface que o faz dormir bem. Segundo Marieta a define: “A Ada, pra mim, é muito uma personagem luz, cor. Cada vez que a Ada aparece, ela traz luz, ela traz cor, ela traz essa ponte ao mundo do Otto”. Quando ela falece, seu companheiro, com quem viveu por mais de 50 anos, perde o rumo. “A casa sem Ada, é de gavetas vazias.”, frase do livro, citada por Everaldo para definir o vazio em que seu personagem se encontra quando sua esposa parte, durante coletiva na última quinta-feira (17).
Assista à coletiva de imprensa de "Noites de Alface" (Reprodução/YouTube)
Sua tentativa de fuga da realidade vazia em que se vê imerso vem, mais uma vez, da ficção. Quando um suposto desaparecimento assombra a vizinhança bucólica, o protagonista mistura realidade, ficção e memórias para tentar, além de solucionar o caso, dar um norte à sua vida pós luto.
Durante a coletiva, os atores e a equipe que deu vida ao universo mágico de “Noites de Alface”, comentaram sobre a importância da ficção no atual momento do país, e o quão sufocada e asfixiada é a classe que produz cultura. “Esse filme tão delicado e poético entra agora em um terreno de Brasil absolutamente avesso e contrário, onde todos os valores são de asfixiar essa ficção, asfixiar a imaginação, asfixiar a poesia e enaltecer o oposto disso tudo, que é a violência, a arma, o obscurantismo, o autoritarismo.”, disse Severo. Zeca Ferreira, Marcelo Pedrazzi e Alexandre Rocha e Everaldo Pontes também comentaram sobre como a arte é uma forma bela de resistência em tempos tão sombrios.
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“Quando se trata de cinema, tudo tá em crise. O formato, a duração dos filmes, o gênero, o veículo e o consumo. É impressionante isso”, lastimou Everaldo. “A gente está vivendo o pior momento do melhor momento do cinema brasileiro porque a gente nunca produziu tanto e tão bem e viu tão pouco.”, afirmou Zeca.
Quando foi rodado, em 2018, o elenco e equipe do longa-metragem não fazia ideia do que o mundo enfrentaria anos mais tarde. Na pandemia, essa trama se faz ainda mais atual, retratando a solidão, o isolamento e a importância da imaginação na manutenção da sanidade. Afinal, em um momento sem abraço, “Noites de Alface” traz um afeto necessário ao público.
Assista ao trailer oficial de "Noites de Alface" (Reprodução/YouTube)
"Ada e Otto passaram a vida toda em uma bucólica cidade no interior, onde todos se conhecem. A rotina pacata do casal e de seus vizinhos ganha contornos de mistério com o sumiço repentino do carteiro. Tentando vencer a insônia com o chá de alface preparado por Ada, Otto atravessa as noites entre espiadas pela janela e a leitura de um intrigante livro de suspense. Dono de uma personalidade mais reservada, ele vê realidade e ficção se embaralharem ao revisitar lembranças e conversas para tentar descobrir o que aconteceu de fato.", diz a sinopse oficial do filme. Sua graça e delicadeza estará disponível nos cinemas brasileiros a partir do dia 24 de junho, próxima quinta-feira.
(Foto destaque: Marieta Severo como Ada em "Noites de Alface". Divulgação/Pipa Pictures)