Saúde

Estudo sugere uma associação entre o colesterol bom e a demência

A pesquisa divulgada em uma revista científica estudou milhares de idosos e concluíram que níveis elevados de HDL podem afetar a faixa etária; A pesquisa gerou discussão no meio acadêmico.

03 Jan 2024 - 16h19 | Atualizado em 03 Jan 2024 - 16h19
Estudo sugere uma associação entre o colesterol bom e a demência Lorena Bueri

Um estudo recente publicado na revista científica The Lancet Regional Health - Western Pacific revelou uma associação entre níveis elevados do colesterol considerado bom, o HDL, em idosos e um aumento no risco de demência. A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade Monash, na Austrália, e analisou dados de mais de 18 mil indivíduos com mais de 70 anos.

O estudo

Segundo os resultados, aqueles com níveis muito altos de HDL no início do estudo apresentaram um risco 27% maior de desenvolver demência em comparação com aqueles cujos níveis estavam dentro da faixa considerada normal. Entre os participantes com mais de 75 anos, o risco foi ainda mais pronunciado, atingindo 42%.

Os pesquisadores destacam que os altos níveis de HDL observados foram incomuns e não relacionados à dieta, sugerindo a possibilidade de algum distúrbio metabólico subjacente. Embora o HDL seja geralmente considerado o "colesterol bom", aqueles com níveis mais altos também apresentaram menor incidência de outras doenças, como hipertensão, diabetes, doença renal crônica, sedentarismo e tabagismo.

O estudo, que durou 6,3 anos e envolveu participantes sem diagnóstico prévio de demência, levanta questões importantes sobre a relação entre o HDL e a saúde cognitiva em idosos. Taxas muito elevadas de HDL foram definidas como aquelas acima de 80 mg/dL, enquanto os níveis normais variaram entre 40 e 60 mg/dL.

A pesquisadora sênior da Escola de Saúde Pública e Medicina Preventiva da Universidade Monash, Monira Hussain, ressaltou a importância de mais pesquisas para compreender o papel do HDL muito elevado na saúde do cérebro. Ela sugere que considerar esses altos níveis de HDL em algoritmos de previsão do risco de demência pode ser benéfico, mas enfatiza a necessidade de mais estudos para validar essa associação.


Há dois tipos de colesterol, sendo o bom, isto é, o HDL, o alvo do estudo (Foto: reprodução/Rudzhan Nagiev/Getty Images/iStockphoto/IMED Saúde)


Discussões acadêmicas

Especialistas, no entanto, alertam para a natureza observacional do estudo, indicando que não é possível afirmar que o HDL muito alto é a causa direta da demência. Andrew Doig, professor de Bioquímica da Universidade de Manchester, destaca que fatores adicionais podem estar em jogo, como ligações genéticas ainda desconhecidas. Além disso, a pesquisa focou em caucasianos saudáveis da Austrália e dos EUA, o que pode limitar a generalização dos resultados.

O estudo da Lancet segue outros trabalhos recentes, como o realizado por pesquisadores da Universidade de Boston, da Universidade da Califórnia em São Francisco e da Kaiser Permanente, nos EUA, que também encontraram uma associação entre níveis altos de HDL e maior incidência de demência em idosos.

Especialistas pedem cautela na interpretação desses resultados e ressaltam a necessidade de mais investigações para esclarecer a relação entre o HDL elevado e a perda cognitiva em idosos. Enquanto isso, ajustes nos hábitos de vida baseados apenas nesses achados podem não ser clinicamente relevantes para todos os idosos, de acordo com Gordon Wilcock, professor emérito de Gerontologia da Universidade de Oxford.

 

Foto destaque: O estudo alerta para mais um ponto da saúde dos idosos (Reprodução/Shutterstock/evrymmnt/A12)

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