Formação de médicos no Brasil ganha reforma focada no SUS, qualidade e inclusão

​MEC atualiza diretrizes médicas após dez anos; foco é no SUS, saúde mental, tecnologia, inclusão e prova nacional obrigatória para garantir qualidade

01 out, 2025
Médico | Reprodução/Christopher Furlong/Getty Images/Embed
Médico | Reprodução/Christopher Furlong/Getty Images/Embed

O Ministério da Educação (MEC) homologou nesta semana as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de graduação em Medicina. O documento, que atualiza a formação após quase dez anos, é a resposta do governo à crescente preocupação com a qualidade do ensino médico no país, especialmente após a rápida e desordenada expansão do número de escolas e vagas nos últimos anos.

As mudanças são abrangentes, reforçando o compromisso com o Sistema Único de Saúde (SUS), a inclusão de temas contemporâneos como saúde mental e inteligência artificial, e, crucialmente, a implementação de um novo mecanismo nacional de avaliação da qualidade.

Fortalecimento do SUS e novo percurso prático

​As novas DCNs buscam alinhar o perfil do egresso com as necessidades reais de saúde da população, conforme já previsto na legislação anterior (2014), mas com maior rigor.

​Prática desde o início: as diretrizes reforçam que os estudantes devem ter experiências práticas desde os primeiros anos do curso, começando pela Atenção Primária à Saúde (APS) e progredindo gradualmente até as áreas de alta complexidade.

Formação generalista: a nova regulamentação visa garantir que o futuro médico tenha competência para atuar em todo o espectro da atenção, da prevenção à reabilitação, fortalecendo a formação generalista, humanista, crítica e reflexiva exigida para o profissional do SUS.

O Enamed e a busca por qualidade

​A grande novidade e principal ferramenta para garantir a qualidade é a criação do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed).

Prova obrigatória no 4º ano: o Enamed será uma prova nacional obrigatória, aplicada ao final do quarto ano da graduação, antes do início do internato. O objetivo é padronizar a avaliação de conhecimentos, habilidades e competências essenciais.

Mecanismo de fiscalização: cursos com desempenho insuficiente no Enamed serão submetidos a acompanhamento especial e visitas in loco pelo MEC Cursos mal avaliados, a partir de 2026, poderão sofrer penalidades, incluindo o fechamento, caso não se adequem às exigências.


Esfigmomanômetro sobre a mesa de um médico (Foto: reprodução/Adam Berry/Getty Images Embed)

​Inclusão, tecnologia e saúde mental

​Em sintonia com as transformações da sociedade e as demandas do mercado, as DCNs incorporaram temas que não estavam presentes ou eram incipientes na resolução anterior.

​Diversidade e apoio psicossocial: as faculdades terão a obrigatoriedade de políticas de inclusão, bem como a implementação de núcleos de apoio psicossocial e programas de mentoria e saúde mental para os alunos.

​Temas contemporâneos: o currículo passa a integrar formalmente a discussão sobre Inteligência Artificial, análise de dados em larga escala, mudanças climáticas e sustentabilidade, preparando os médicos para os desafios do século XXI.

Exigências de infraestrutura

​Para sustentar a qualidade de ensino e a formação prática, as novas diretrizes também ampliaram as exigências de infraestrutura e corpo docente das instituições.

Simulação clínica e capacitação: as faculdades deverão investir em laboratórios de simulação clínica de alta qualidade e estabelecer programas permanentes de capacitação docente, garantindo que os professores estejam aptos a aplicar as novas metodologias e integrar os temas atuais.

A aprovação das novas DCNs, após um processo de revisão que incluiu consultas públicas e diálogo com entidades médicas, é vista como “um grande salto” pelo Ministério da Saúde e um passo fundamental para equilibrar a expansão quantitativa dos cursos com a necessária melhoria da qualidade da formação médica no Brasil.

Mais notícias