Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aleitamento materno deve ser exclusivo até o 6º mês de vida dos bebês, devendo seguir até os dois anos ou mais. A recomendação é seguida pelo Ministério da Saúde brasileiro e consta também na Cartilha de Amamentação e Cadernetas de Saúde da Criança.
O leite materno é a principal fonte de nutrientes para os recém-nascidos, com alta qualidade nutricional e substâncias que ajudam no desenvolvimento físico e cognitivo do bebê, é o que explica a pediatra Sandi Sato: “Há vários fatores de proteção, com ações antimicrobianas, anti-inflamatórias e imunomoduladoras, fazendo com que o sistema imunológico amadureça da melhor forma possível. O alimento evita doenças infecciosas na fase de lactação, protege contra doenças crônicas, como a de Crohn ou diabetes, da infância até a fase adulta”.
Em entrevista a BBC News Brasil, a pediatra Rosângela Gomes dos Santos reforçou a necessidade da amamentação. “O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e, a partir desse período, se pode fazer a introdução alimentar”. Segundo a pediatra a ingestão de alimentos antes do 6º mês, que não seja do leite materno ou fórmula prescrita pelo pediatra, pode acarretar em problemas de saúde para o bebê.
“O intestino do recém-nascido não está desenvolvido o suficiente. Em situações extremas, ele pode ter uma infecção intestinal e isso pode gerar complicações generalizadas, levando-o à morte”, reforça Santos.
De acordo com a médica intensivista Cinara Carneiro, a introdução alimentar antes do período correto pode gerar um quadro de desnutrição na criança, e mesmo que ela aparente estar com o peso apropriado, ela pode estar desnutrida por não receber uma proporção adequada de nutrientes. “Ela pode ter anemia ou sobrecarga da função renal, levando a uma lesão” explica a médica.
Mãe amamentando filho recém-nascido. (Foto: Reprodução/Peter Ilicciev)
Segundo o Ministério da Saúde, "o aleitamento materno reduz em 13% a mortalidade até os cinco anos, evita diarreia e infecções respiratórias, diminui o risco de alergias, diabetes, colesterol alto e hipertensão, leva a uma melhor nutrição e reduz a chance de obesidade. Além disso, o ato contribui para o desenvolvimento da cavidade bucal do pequeno e promove o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê".
Santos ainda reforça os riscos para bebês prematuros: “Como há maior risco de eles, principalmente os prematuros, desenvolverem uma condição chamada enterocolite necrosante (lesão na superfície interna do intestino), se prioriza o leite materno e se evita dar a fórmula. Daí a importância dos bancos de doação de leite”.
Como realizar a introdução alimentar
De acordo com as pediatras, a partir do sexto mês a criança deve ter contato com todos os alimentos, experimentando sabores e texturas diferentes, que contribuirão com a sua nutrição e desenvolvimento.
A comida pode ser oferecida em pedaços ou esmagada (método Baby-led weaning, “desmame guiado pelo bebê” em português), não deve ser batida ou peneirada, a criança deve sentir a textura real do alimento. O objetivo principal é estimular a mastigação do recém-nascido, que pode ser dificultada quando a comida é batida no liquidificador ou passada em peneiras, uma vez que o desenvolvimento da musculatura facial do bebê será atrasado.
Sobre o uso de mamadeiras, Santos ainda fala que quando “a mãe introduz a mamadeira muito precocemente a criança perde o hábito da mastigação. Quando o recém-nascido usa o peito, na sucção do leite materno, tem uma movimentação da musculatura da face mais completa do que quando suga a mamadeira. Portanto, acabamos vendo muita criança acima de seis meses que tem muita dificuldade para mastigar, mas é importante essa estimulação”.
Por isso é importante que não se faça uso de mamadeiras, nem chupetas, e que, na idade certa, o bebê comece a ingestão de alimentos variados tanto para se ter uma dieta mais rica, quanto para desenvolver os músculos de sua face. A amamentação deve continuar, pelo menos, até os dois anos de idade ou até quando a criança quiser.
Foto Destaque: Bebê recebendo refeição, fase é conhecida como introdução alimentar. Reprodução/Blog Drauzio Varella.