O Fantástico apresentou neste domingo (29) uma reportagem feita com especialistas na área de saúde mental para entender como fica o psicológico de crianças e adolescentes que se encontram na região do conflito entre Israel e o grupo terrorista, Hamas. A conclusão é de que o abalo psicológico já causa danos também a saúde física dos “pequenos”.
O que dizem os especialistas
Segundo o psicólogo uruguaio, residente em Israel há mais de 40 anos, Leo Wolmer, a grande maioria dos menores, desde os mais pequenos, que estão sendo atendidos nos hospitais da região, já apresentam sintomas de ansiedade: distúrbios do sono, medo da hora de dormir, assim como constante estado de alerta, sabendo até diferenciar o som de alarmes e sirenes.
Os efeitos dos traumas já causados pelos 22 dias de conflito irão perpetuar por muito tempo ainda a existência dessas crianças, assim como comprometer várias áreas de desenvolvimento, não só psicológicos, como emocionais e físicos. Conforme esclarece Ionara Rabelo, psicóloga dos Médicos Sem Fronteiras, tais fatos vividos podem comprometer desde a capacidade de aprender, como o desenvolvimento de habilidades simples como a fala. Além de “prepará-las” para o revide em qualquer situação de conflito.
Yasser Abujamei, chefe do maior centro de saúde mental na Faixa de Gaza, contou que há uma necessidade constante de se afirmar para os pequeninos que tudo vai ficar bem, que ele vão “sobreviver”, e salientou que esse período de sofrimento, os traumas por ele causados, irão acompanhar a todos por toda vida.
E Rabelo ainda coloca que, do futuro dessas crianças também depende a saúde mental dos adultos com quem convivem, abalados com a mesma intensidade.
Crianças na Faixa de Gaza. (Foto: reprodução/Liberacittadinanza)
Efeitos da Guerra
Um cérebro em formação é suscetível a toda e qualquer experiência vivida, que afeta de forma duradoura todo o desenvolvimento psíquico da criança, assim como o cognitivo e o emocional. A vivência da violência extrema, presente na guerra, é capaz de alterar a química do cérebro, assim como o funcionamento de diversas áreas, como as relacionadas à memória e ao raciocínio lógico, levando ao atraso do desenvolvimento. Entre os efeitos de convivência interpessoal estão problemas relacionados a fala: algumas crianças têm dificuldade em desenvolver esta habilidade, e outras, simplesmente a anulam, deixam de se comunicar verbalmente. Muitas vezes também passam a apresentar comportamento agressivo e antissocial, uso de abusivo de álcool e drogas ilícitas, como comportamento suicida.
Assim como o físico da criança também responde aos traumas vividos, não é difícil encontrar reclamações de dores no corpo, febre e incontinência urinária.
Como lidar com a situação
Segundo Helen Mavichian, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, em um artigo para a Revista Exame, os adultos precisam estar preparados para atender a estes pequenos e poder lhes fornecer algum conforto e, pelo menos, sensação de segurança.
Mavichian afirma que a verdade tem que ser constante, as crianças precisam saber exatamente tudo que acontece, assim como é preciso tentar esclarecer todas as dúvidas, os questionamentos que apresentarem. Que é preciso que se sintam seguras para expor seus sentimentos e emoções, e serem acolhidas em suas angústias.
A psicoterapeuta também alerta que aqueles que apenas testemunham os fatos pelas mídias também devem ter suporte, ser esclarecidos quanto a suas questões, e ter suas reações observadas, para que se possa atender, de forma satisfatória para a criança, o comportamento e as fragilidades que por ventura venham a apresentar.
Assim como se pode usar da situação para trabalhar, através do diálogo, com os pequenos questões que envolvam o respeito às diferenças, tolerância e empatia.
Foto Destaque: Uma menina observa do lado de fora de uma casa danificada, no sul da Faixa de Gaza, em 9 de maio de 2023. (Reprodução/REUTERS/IBRAHEEM ABU MUSTAFA)