Saúde

Chega no Brasil o primeiro exame de sangue a avaliar risco do Alzheimer

O exame testado a menos de um mês nos Estados Unidos foi trazido para o Brasil pela Dasa, até então é recomendado para pessoas com comprometimento cognitivo leve.

11 Mai 2022 - 10h41 | Atualizado em 11 Mai 2022 - 10h41
Chega no Brasil o primeiro exame de sangue a avaliar risco do Alzheimer Lorena Bueri

Acaba de chegar no Brasil o primeiro exame de sangue para detectar o risco de Alzheimer, o exame busca traços beta-amiloide, que se acumula no cérebro de quem tem a doença.

O teste que detecta um dos principais tipos de demência, foi aprovado no mês de abril nos Estados Unidos e trazido para o Brasil pela Dasa, está recomendado para pessoas com comprometimento cognitivo leve.

Aproximadamente um terço das pessoas nessa situação, principalmente os idosos que apresentam apenas dificuldade de concentração, esquecimentos e outros lapsos acabam progredindo para o Alzheimer. 

“Ele não fecha o diagnóstico, mas pode colaborar na conduta médica e evitar a realização da punção lombar para coleta do líquor, exame mais invasivo que é usado hoje para estimar os níveis das placas amiloides”, aponta o diretor médico da Dasa, Gustavo Campana.

Os testes inicialmente por não serem cobertos por outros convênios, serão oferecidos sob prescrição médica nas redes de laboratórios de alta diagnóstico, por cerca de 1,5 mil.

Como é feito e para quem serve o exame

Seguindo o raciocínio das pesquisas em análises clínicas: substituir procedimentos mais complexos por métodos menos invasivos. Que é o caso da biópsia líquida que pode ajudar a flagrar recidivas de câncer e rastrear alguns fragmentos de DNA tumoral. 

A tecnologia do exame recém aprovado é a espectrometria de massas, a máquina é programada para detectar duas frações da proteína beta-amiloide -a 40 e a 42 e calcular a razão entre elas.

“Trata-se de uma evolução tecnológica disponível há alguns anos, que permite enxergar moléculas em pequena concentração no sangue ou em outras amostras biológicas”, diz Campana.

“A beta-amiloide é considerada o principal biomarcador da doença de Alzheimer”, explica a neurologista do Hospital Santa Paula, Renata Faria Simm. Outras moléculas como a proteína TAU também se desenvolvem na progressão da doença.

“Esse tipo de método [que detecta os níveis de beta-amiloide] é solicitado para uma porção pequena dos pacientes, onde há dúvida sobre o diagnóstico”, afirma a neurologista Jerusa Smid, coordenadora do departamento de neurologia cognitiva e do envelhecimento da (ABN) Academia Brasileira de Neurologia.

“Com eles, não é possível saber se há ou não acúmulo da TAU, que também é importante para o desenvolvimento dos sintomas. E, como em qualquer outro exame, podem existir falhas”, complementa Jerusa.  Ou seja, apesar de ser um forte indicativo da doença, não resolvem todos os processos da descoberta da doença.

Para a ciência ainda não está claro quanto tempo se passa entre o surgimento das placas beta-amilóide e o aparecimento do comprometimento cognitivo. “Alguns trabalhos falam em 20 anos, por exemplo. E, hoje, não temos um medicamento para mudar o curso da doença precocemente”, completa a neurologista. 


(Foto: Reprodução/Blog de Medicina)


Qual a precisão do teste?

Uma das pesquisas desenvolvidas com a nova metodologia, uma série comparativa com dados de mais de 200 pacientes flagraram cerca de 71% indivíduos com alteração no PET-SCAN, um tipo de tomografia para confirmação de diagnóstico de Alzheimer. Isso quer dizer que a cada 100 pessoas com o cérebro comprometido com a doença, 71 seriam encontrados pelo exame.

O resultado desse ensaio não foi publicado e será apresentado no congresso internacional da Alzheimer 's Association (AAIC) em junho, na Califórnia. 

Como é feito o diagnóstico

Hoje em dia a maior parte dos casos são diagnosticados com base nos sintomas.  “Usamos a história de declínio da memória recente, em que o paciente piora progressivamente e lentamente, até que suas atividades de vida diária e outros domínios cognitivos fiquem prejudicados”, conta Jerusa.

A partir das queixas dos sintomas, o médico especialista (neurologista, psiquiatra ou geriatra) realiza testes funcionais para averiguar o grau da doença. “Solicitamos ainda uma foto do cérebro, via ressonância magnética ou tomografia, e exames de sangue que vão descartar outras alterações não-neurológicas que podem atrapalhar a memória”, completa Jerusa.

Em alguns casos que ainda restam dúvidas, o profissional pode pedir exames mais complexos como a análise do líquor ou a tomografia PET - CT que avalia o metabolismo do cérebro.Existe um tipo de tomo ainda que marca as proteínas beta-amiloide, mas só duas máquinas no país realizam o procedimento.  

Foto Destaque: Retirada de sangue. Reprodução/InterFisio.

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