Oruam se torna réu por tentativa de homicídio qualificado contra policiais
Rapper é réu por jogar pedras contra PMs em operação na sua mansão no Joá; juíza aponta má influência de Oruam na sociedade e decreta sua prisão preventiva

A Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia do Ministério Público e tornou o rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, e Willyam Matheus Vianna Rodrigues Vieira réus por tentativa de homicídio qualificado contra dois policiais civis: o delegado Moyses Santana Gomes e o oficial Alexandre Alves Ferraz.
O ocorrido foi em 22 de julho, durante uma operação na mansão de Oruam, no Joá, Zona Oeste do Rio. A juíza Tula Correa de Mello, do III Tribunal do Júri da Comarca da Capital, além de receber a denúncia, também decretou a prisão preventiva de ambos, e citou a conduta de Oruam como uma “afronta ao estado democrático de direito” e um risco à ordem pública.
As acusações contra Oruam
Após a apreensão na residência de Oruam de “Menor Piu”, suspeito de envolvimento com tráfico de drogas e roubo de carros, Oruam, Willyam e outras sete pessoas teriam reagido violentamente. Eles arremessaram pedras grandes, uma delas com 4,85 kg, contra os policiais de uma altura de 4,5 metros, a partir da varanda. A pedra com potencial letal, capaz de causar fraturas cranianas graves, atingiu o oficial Alexandre Alves Ferraz nas costas e no calcanhar, enquanto o delegado Moysés Santana Gomes quase foi atingido na cabeça.
Oruam em foto após ser preso (Foto: reprodução/Instagram/@rezervaoruam)
O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou Oruam e Willyam por tentativa de homicídio qualificado, argumentando que os réus agiram com dolo eventual, ou seja, assumiram o risco de matar os policiais ao lançarem objetos perigosos de tal altura. A promotoria ressaltou que os atos foram motivados por “motivo torpe” e usaram “meio cruel“, podendo enquadrar o crime na Lei dos Crimes Hediondos. Além da tentativa de homicídio, Oruam já responde por outros sete crimes relacionados ao mesmo episódio: tráfico de drogas, associação ao tráfico, resistência qualificada, desacato, dano qualificado, ameaça e lesão corporal, que juntos podem somar até 25 anos de prisão.
Comportamento e influência de Oruam
A situação foi agravada por ações de Oruam nas redes sociais. Ele publicou vídeos durante e após a operação em sua casa, inclusive, desafiando os agentes a irem ao Complexo da Penha, área controlada pelo Comando Vermelho. Em um dos vídeos, ele aparece golpeando uma viatura policial e proferindo insultos, o que foi usado como prova pelo MPRJ para sustentar a denúncia.
A juíza Tula Correa de Mello determinou a prisão preventiva de Oruam e Willyam, justificando a necessidade de preservar a ordem pública, garantir a instrução do processo e assegurar a aplicação da lei penal. A magistrada enfatizou Oruam como artista e a repercussão negativa de suas ações, ao dizer que “tal comportamento constitui uma afronta ao estado democrático de direito, criando uma narrativa distorcida e ilegal, com o objetivo de criminalizar um artista que, na verdade, é um legítimo cidadão“. Ela também destacou que a postura do rapper poderia “incitar a população à inversão de valores” e servir de “referência para outros jovens” agirem de forma audaciosa contra as forças de segurança. Oruam se entregou à Polícia Civil em 22 de julho e está detido na Penitenciária Dr. Serrano Neves (Bangu 3), classificado como preso de “alta periculosidade”.
O que diz a defesa de Oruam
A defesa de Oruam nega veementemente a acusação de tentativa de homicídio. Os advogados alegam que o rapper agiu em “extremo desespero e legítima defesa“, após ser supostamente ameaçado de morte, agredido fisicamente e ter sua casa revirada sem um mandado judicial válido. A equipe jurídica aponta que a operação policial foi marcada por abusos, como o uso de viaturas descaracterizadas e a realização fora do horário permitido, configurando, em tese, abuso de autoridade. A defesa também reforça que Oruam é réu primário, possui bons antecedentes e que foi absolvido em duas acusações anteriores semelhantes, o que, para eles, sugere um padrão de acusações infundadas.