Alta-costura em Paris ganha carga teatral com desfile performático de Robert Wun
Em meio à saída de Demna da Balenciaga e à estreia de Glenn Martens na Margiela, o designer asiático conquista os holofotes com moda de impacto visual

O terceiro dia da temporada de alta-costura outono-inverno 2025/26, em Paris, nesta quarta-feira (9), foi marcado por viradas históricas. Glenn Martens fez sua estreia aguardada à frente da Maison Margiela, enquanto Demna apresentou sua última coleção para a Balenciaga. Mas, mesmo com expectativas voltadas a essas grandes casas, foi o estilista Robert Wun quem surpreendeu com um desfile performático, cinematográfico e carregado de teatralidade.
No salão, o runway escuro foi pontuado por spots direcionais que acentuaram o contraste entre sombra e luz, realçando cada contorno escultórico. As criações exploraram drapeados metálicos e recortes geométricos, combinados a volumes arquitetônicos que projetavam aos modelos como formas cinéticas em movimento.
A dramaticidade ganhou novos contornos com acessórios imponentes: arcos metálicos e headpieces com penas eretas, em tons de vermelho e preto, integrados ao styling capilar. Extensões trançadas também deram continuidade às linhas dos vestidos, reforçando o diálogo entre corpo e estrutura, que faz parte do estilo de Wun.
Haute Couture Fall/Winter 2025/2026 (Foto: reprodução/Richard Bord/Getty Images Embed)
Moda como ilusão: O horror performático de Robert Wun
A coleção apresentada por Wun levou ao extremo a mistura entre moda e arte. As roupas ganharam contornos de personagens sombrios, com véus dramáticos, volumes exagerados e aplicações, que criavam ilusões ópticas impressionantes.
Haute Couture Fall/Winter 2025/2026 (Foto: reprodução/Richard Bord/Getty Images Embed)
A inspiração performática lembrou o estilo provocativo de Viktor & Rolf, mas com a identidade própria de Wun: suas silhuetas esculturais e atmosferas intensas transformaram a passarela em um verdadeiro espetáculo visual.
As modelos cruzavam a passarela sob focos de luz, revelando silhuetas esculturais que mesclavam técnica e teatralidade. Um vestido metálico carregava um véu de miçangas carmesim, escorrendo pelos ombros, como se fosse sangue seco, enquanto outra criação trazia a modelo arrastando um manequim monocromático, sugerindo uma presença obsessiva.
Haute Couture Fall/Winter 2025/2026 (Foto: reprodução/Richard Bord/Getty Images Embed)
Além disso, chapéus perfurados projetavam delicados jogos de luz sobre peças em tons claros, e sob decotes profundos estruturas internas com volumes arquitetônicos. Tules translúcidos e recortes geométricos brincavam com transparências e sombras, e cada passo preciso transformava o desfile numa instalação de arte em movimento.
Haute Couture Fall/Winter 2025/2026 (Foto: reprodução/Richard Bord/Getty Images Embed)
Mudanças nas grandes maisons e a força de novos nomes
Enquanto Robert Wun consolidava sua linguagem autoral, a alta-costura também vivia um momento de transição. Glenn Martens assumiu a direção criativa da Margiela após o legado de John Galliano, enquanto Demna se despedia da Balenciaga após uma era marcada por rupturas estéticas.
Haute Couture Fall/Winter 2025/2026 (Foto: reprodução/Richard Bord/Getty Images Embed)
A ausência de nomes tradicionais como Dior e Valentino nesta edição também contribuiu para que vozes emergentes como Wun ganhassem mais espaço e atenção.
Robert Wun e o novo futuro da alta-costura
Nascido em Hong Kong, e radicado em Londres, Robert Wun estreou na couture em 2023 e, desde então, tem atraído olhares com suas criações intensas, quase cinematográficas. No desfile desta quarta-feira (9), ele consolidou seu talento como contador de histórias por meio do vestuário com emoção e potência visual.
Robert Wun (Foto: reprodução/Richard Bord/Getty Images Embed)
Em um dia marcado por despedidas e estreias, ele provou que a alta-costura pode ser também um território de risco criativo. E, talvez por isso, seja mais necessário do que nunca.