Armani Privé celebra 20 anos com desfile em preto absoluto
Coleção de inverno 2025 mistura escultura, brilho e alfaiataria com assinatura clássica em atmosfera intimista no Palazzo Armani, em Paris

Nesta terça-feira (8), a grife italiana Armani, com sua linha Privé, revelou sua mais nova coleção de inverno 2025 de alta-costura em um momento de grande celebração e reverência, marcando suas duas décadas da linha mais exclusiva da renomada maison. Carregando o nome Noir Séduisant, a coleção mergulhou na rica simbologia do preto, uma cor que, para Giorgio Armani, nunca é apenas neutra, mas sim uma paleta repleta de expressões sofisticadas.
Quase todos os 77 looks do desfile foram desenvolvidos em tons de preto total, intercalando apenas texturas, pesos e brilhos para multiplicar sua leitura estética: os veludos densos, as sedas líquidas, o tule bordado, o zibeline opaco e também detalhes metálicos que se revezavam em diversas camadas de significados. A cor, frequentemente associada à sobriedade, ganhou aqui contornos sensuais, aristocráticos e até futuristas.
A apresentação aconteceu no novo Palazzo Armani, edifício que abriga o ateliê de alta-costura da maison em Paris, além do showroom e dos escritórios criativos. O local foi transformado em um circuito de passarela íntima, com salas conectadas por cortinas pesadas e tapetes escuros, evocando os desfiles de salão das grandes maisons francesas do século XX. A ausência do estilista — que não pôde comparecer aos eventos presenciais por questões de saúde — foi sentida, mas isso não diminuiu a aura de sofisticação e o controle artístico que são marcas registradas do seu trabalho.
A linguagem da forma: alfaiataria, estruturas e silhuetas
Desde os primeiros looks, Armani traz de volta seu vocabulário visual mais icônico: a alfaiataria impecável, os volumes bem equilibrados e a mistura harmoniosa entre os códigos masculinos e femininos. Smokings reinterpretados, fraques em veludo com lapelas satinadas, jaquetas curtas com cinturas marcadas, blazers usados sobre a pele nua ou com finas gravatinhas de cetim desenham o corpo com sobriedade quase escultural.
As calças surgem em cortes variados — cigarrete, pantalonas ou levemente evasês — e os tailleurs ganham peplum, ombros erguidos e formas angulosas. As referências náuticas aparecem nos casaquetos com suas passamanarias e na leve estética militar das camisas listradas brilhantes. Ao mesmo tempo, pequenos detalhes como cintos, faixas e laços trazem um toque especial à feminilidade, sem que isso a torne frágil.
O preto, longe de ser apenas uma escolha fácil, atua como um elemento gráfico que dá destaque à forma. Armani reafirma sua convicção de que a rigidez formal pode, de fato, evocar emoções.
Rigor e brilho: vestidos de gala e fetiche couture
A segunda parte da coleção nos leva a um mundo de gala, onde o luxo é apresentado com uma elegância sutil. Vestidos em coluna feitos de tule, organza ou cetim, adornados com toques de ouro fosco ou prateado, exibem drapeados delicados, costas nuas, golas plissadas, plastrons etéreos e saias volumosas que parecem flutuar levemente. Os adornos — entre eles franjas de miçangas, cristais pavê, bordados de jato e punhos-joia — refletem a luz sem ostentação, criando um jogo de sombra e brilho que só é possível com o domínio artesanal da alta-costura.
Em diversos momentos, os vestidos são complementados por sapatos baixos ou sandálias delicadas, transmitindo uma sofisticação moderna que não precisa de artifícios para se destacar. Os toques de cor aparecem de maneira intencional: bordados em azul petróleo, rubi ou esmeralda surgem como pequenos respingos de joia sobre o preto, ressaltando a preciosidade do conjunto.
A mulher Armani — neste momento — flerta com a imagem de Marlene Dietrich, incorpora códigos andróginos e ao mesmo tempo desliza com delicadeza pelo espaço. Um exercício de equilíbrio entre força e fragilidade.
Beleza minimalista e atmosfera de ateliê
O visual das modelos reforçava a atmosfera de rigor da coleção. A maquiagem — assinada por Hiromi Ueda — apostou em uma combinação gráfica entre sombras pretas marcando o côncavo e branco esfumado nas pálpebras, chegando até as sobrancelhas, que surgiam apagadas, em tom acinzentado. A pele tinha um aspecto uniforme e natural, sem blush ou contornos. Os lábios tinham um leve tom rosado, quase como se fossem translúcidos. Os cabelos, meticulosamente arrumados para trás e adornados com boinas e acessórios, reluziam com um brilho polido, formando uma estética que parecia quase líquida.
Padrão seguido para cabelo e maquiagem do desfile (Foto: Reprodução/Fashion Network)
A cenografia do desfile, com sua luz suave e uma música de cordas tocando em um ritmo lento, criou uma atmosfera de introspecção e reverência — como se cada look fosse uma escultura viva em movimento. Os convidados descreveram a experiência como uma verdadeira imersão no coração do ateliê, onde o silêncio só era quebrado pelo som dos passos cuidadosos das modelos.
Um marco silencioso na história da maison
Celebrando duas décadas da linha Privé, o desfile de inverno 2025 não se jogou em mudanças drásticas ou gestos exagerados. Em vez disso, trouxe à tona a verdadeira essência do que a marca representa: precisão, elegância sutil e um olhar que valoriza o passado, sem perder de vista o desejo por inovação. Ao optar quase que exclusivamente pelo preto, Giorgio Armani reafirma que o que realmente importa — quando feito com maestria — é sempre suficiente.