A necessidade de cirurgia para cuidar de casos mais extremos existe desde que a medicina foi inventada como prática, séculos atrás. Desprovidos da praticidade de equipamentos e métodos modernos, os cirurgiões muitas vezes eram temidos por seus pacientes, pois a taxa de mortalidade nesses procedimentos era invariavelmente alta. Caso um indivíduo estivesse sofrendo com uma ferida muito profunda na perna, por exemplo, ela provavelmente seria amputada — sem o uso de anestésicos, salvo pela ocasional prescrição de opióides para ajudá-lo a lidar com a dor. Entretanto, essa não era a pior parte.
Casos como esse geralmente resultavam na morte do paciente em razão das inúmeras complicações que apareciam após um procedimento que, muitas vezes, era realizado de maneira barbárica e não-profissional para nossos padrões atuais.
Nós, que vivemos em uma época tão moderna, não precisamos mais nos preocupar com isso na maioria dos casos. Médicos e cirurgiões agora contam com o auxílio de máquinas especializadas, incrivelmente precisas, para ajudá-los durante as operações. Isso, além de auxiliar a diminuir a taxa de complicações advindas de cirurgias, também possibilita que procedimentos delicados demais para mãos humanas sejam realizados de forma bem-sucedida. Alguns procedimentos até mesmo utilizam inteligência artificial para cuidar dos detalhes mais delicados, diminuindo os riscos e a probabilidade de falha.
Inteligência artificial auxilia em cirurgia de artéria
Esse é o caso de Boas Alberto Carrella, cuja luta constante contra um problema de coração foi televisionada pelo Globo Repórter na última sexta-feira (29). O aposentado de 56 anos já sofreu seis infartos e uma parada cardíaca e, em decorrência disso, precisou colocar sete stents no coração através de cirurgia, para abrir passagem nas artérias bloqueadas e permitir que o sangue flua mais livremente. Em sua última cirurgia, que ocorreu no Instituto do Coração em São Paulo, os médicos precisaram usar técnicas modernas para auxiliá-lo.
Ao monitorar o coração de Carrella por meio de aparelhos, os médicos realizaram uma radiografia em tempo real, junto de uma tomografia de coerência óptica. Através disso, os profissionais conseguiram enxergar a artéria por dentro, em uma resolução microscópica. E com a ajuda de um algoritmo de inteligência artificial, eles puderam determinar precisamente a localização da obstrução na artéria, a gravidade do problema e se ela já estava calcificada.
Conforme explica um dos profissionais do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia do InCor, Carlos Campos, em “casos mais complexos é possível reduzir até 40% a chance de novos eventos, dentre eles a possibilidade do paciente vir a falecer, sofrer com um infarto ou necessitar de outra angioplastia futuramente”.
Cirurgia de próstata feita por robô
Outro brasileiro que se beneficiou com os avanços na tecnologia foi Edson Kohan Kamia, que foi diagnosticado com um tumor cancerígeno em sua próstata, felizmente ainda em fase inicial. Com isso, os profissionais do Hospital Albert Einstein conseguiram tratá-lo antes que mais complicações surgissem, mas de uma forma bastante moderna.
Cirurgião utilizando robô para realizar um procedimento médico (Foto: Reprodução/Santa Casa dos Santos)
A cirurgia foi realizada com o auxílio de um robô com braços mecânicos capaz de segurar equipamentos médicos e equipado com microcâmeras. O robô ainda não consegue atuar de forma automática e precisa ser operado por um cirurgião através de um máquina feita justamente para isso. Ariê Carneiro foi o profissional que comandou a cirurgia. Segundo ele, “a cirurgia robótica já é bem estabelecida no tratamento do câncer de próstata. Há cerca de 90% de chance de ser curado apenas com esse procedimento, sem a necessidade de quimioterapia ou radioterapia”.
O procedimento, que é minimamente invasivo e praticamente não deixa sequelas no paciente, demonstra como o avanço da tecnologia é importante para curar doenças e realizar operações tão delicadas. Antes, um câncer que seria visto como impossível de ser curado, agora pode ser tratado através da combinação do expertise de profissionais treinados e o auxílio de máquinas, inteligência artificial e procedimentos modernos.
Foto destaque: Maquinário utilizado durante a cirurgia para tratar câncer de próstata. Reprodução/Universidade Jean Piaget