No cenário emergente da robótica e inteligência artificial (IA) na Arábia Saudita, um nome ganha destaque: Sara, o primeiro robô humanoide projetado e fabricado no país. Criada pela QSS AI & Robots, com sede em Riad, Sara tem como principal objetivo ser simpática e evitar assuntos polêmicos, conforme declarou Elie Metri, CEO da empresa.
"Ela deve ser simpática, não falar de política, não falar de sexo porque estamos na Arábia Saudita. Não deve entrar nesses assuntos", afirmou Metri em entrevista ao site Business Insider.
Com a aparência de uma mulher saudita de 25 anos, medindo 1,62m e vestindo a tradicional túnica abaya, Sara é programada para falar duas línguas, árabe e inglês, utilizando um modelo de IA desenvolvido internamente pela empresa.
O primeiro robô da Arábia Saudita, 'Sara', que pode se comunicar no dialeto local e responder perguntas (Foto: reprodução/divulgação/Reuters/Ahmed Yosri)
Tecnologia e religião
Embora a Arábia Saudita tenha passado por tentativas de modernização nos últimos anos, seu sistema legal é baseado na Sharia, a lei islâmica, o que impõe certas restrições à liberdade de expressão e comportamento, especialmente para as mulheres. Somente em 2018, as mulheres do país conquistaram o direito de dirigir sozinhas, evidenciando um contexto sociocultural específico para o desenvolvimento de tecnologias como Sara.
O CEO Metri relatou que Sara atraiu atenção em várias exposições de tecnologia, destacando os avanços do país em robótica e IA. Entretanto, a empresa enfrentou um incidente recente com outro robô humanoide, Muhammad, que viralizou após um vídeo mostrá-lo tocando uma repórter durante uma gravação.
Cultura saudita e as humanoides
Metri defendeu que não houve intenção de assédio por parte do robô. "Enquanto os humanos estão falando, movemos as mãos, não somos manequins", explicou. "O mesmo vale para um robô."
Apesar da controvérsia em torno do incidente, o executivo expressou tranquilidade, observando que, no contexto do Oriente Médio, inclusive na Arábia Saudita, a percepção do incidente foi diferente, uma vez que se tratava de um robô.
"Assédio sexual é totalmente diferente de uma mão de robô tocando a jaqueta de uma mulher", afirmou Metri, refletindo sobre as normas culturais e sociais que influenciam a interpretação dos eventos na região.
Com Sara representando um passo significativo na trajetória da IA e da robótica no país, o caso envolvendo Muhammad destaca os desafios e as nuances da interação entre humanos e máquinas em uma sociedade em constante evolução tecnológica e cultural.
Foto Destaque: a robô saudita Sara (Reprodução/SPA)