O futuro — para alguns, bastante distópico — que promete a remoção de seres humanos em diversas atividades do dia-a-dia e no mercado de trabalho se aproxima cada vez mais. Mas, desta vez, parece que nem mesmo a igreja ficou de fora. Será que robôs desempenhando o papel de padres durante o culto seriam bem-sucedidos? Para responder essa indagação, pesquisadores da University of Chicago Booth School of Business, nos EUA, criaram um protótipo de robô capaz de atuar como sacerdotes, de modo a estudar e entender de que maneira os fiéis conseguiriam se relacionar com ele.
O palco para a pesquisa
“Tais máquinas podem realizar diversas atividades, mas ainda carecem da qualidade mais importante: credibilidade”, disse Joshua Conrad Jackson, um dos professores responsáveis pela pesquisa. Segundo o site Scientific American, os cientistas colocaram um robô chamado Mindar, criado a partir de alumínio e silicone, em um templo budista na cidade de Kyoto, no Japão, como parte dos testes. O sacerdote mecanizado foi projetado para ter uma aparência semelhante à divindade budista que representa a misericórdia.
De acordo com Jackson, os pesquisadores entraram em uma parceria com cultos locais da região, incluindo o Templo Kodai-ji, da escola Rinzai de Budismo e fundado em 1605, para testar se a falta de credibilidade prejudicaria as instituições religiosas fazendo uso de sacerdotes artificiais. Mindar, bem como outros robôs criados para o mesmo propósito, são basicamente um grande espetáculo: eles empregam o uso de vídeos e efeitos sonoros para envolver e cativar os fiéis. Esses robôs até possuem a capacidade de “girar” ao longo dos sermões para fazer contato visual com o público, enquanto une as mãos em oração.
O robô-sacerdote Mindar durante sermão no Templo Kodai-Ji (Foto: Reprodução/Kodai-ji).
O robô parece estar fazendo sucesso, já que visitantes constantemente se aglomeram ao redor dele durante os sermões.
“Entretanto, mesmo com esses efeitos especiais, duvidamos que tais robôs conseguiriam desempenhar o papel de padres verdadeiros e inspirar os fiéis a se sentirem comprometidos com sua fé”, afirmou Jackson.
As conclusões dos pesquisadores
O resultado do estudo foi publicado recentemente na APA PsycNet (American Psychological Association), podendo ser acessado sem restrições. No artigo, foi mencionado que as pessoas envolvidas no teste classificaram Mindar como “menos confiável” do que monges humanos trabalhando no templo em Kodai-ji. Também foi averiguado que as pessoas que viram o robô eram 12% menos inclinadas a doar dinheiro para o templo, comparada com aquelas que visitaram o templo, mas não tiveram contato com Mindar.
Aos pesquisadores, essas descobertas podem indicar os limites da automação no futuro. Manter apenas a avaliação da capacidade das máquinas pode nos deixar cegos para os espaços onde os robôs têm baixo desempenho por não serem confiáveis, conclui o estudo.
Foto destaque: Foto do robô-sacerdote Mindar (Foto: Reprodução/GettyImages).