O Diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, foi intimado pela Polícia Federal (PF) para prestar depoimento na próxima quinta-feira (17) por suposto esquema de espionagem ilegal contra autoridades paraguaias.
O objetivo da investigação é apurar se houve obstrução por parte da atual gestão à investigação do uso da Abin durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) para espionar autoridades brasileiras e paraguaias, como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), assim como a espionagem de jornalistas. Alessandro Moretti, conhecido como ex-”número 2” da Agência, também foi intimado.
Em janeiro de 2024, Moretti foi exonerado do cargo de diretor-adjunto após a PF apontar suspeitas de que a gestão da agência atuou para dificultar as investigações sobre Abin Paralela e praticar espionagem ilegal.
Abin Paralela e depoimentos
A investigação teve início em 2023 e tem como objetivo apurar se policiais, servidores e funcionários da Abin formaram uma organização criminosa, conhecida como “Abin Paralela”, que agia de forma coincidente às funções da Agência, para monitorar pessoas e autoridades públicas. Segundo a investigação, ferramentas de monitoramento foram usadas para invadir celulares e computadores sem autorização judicial de desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ponto de partida para a intimação de Luiz Corrêa e Alessandro Moretti se deu devido a depoimentos de funcionários da Abin, que informaram à PF que o Brasil fez um ataque hacker ao Paraguai para obter informações sobre as negociações com a Usina Hidrelétrica de Itaipu. À imprensa, Corrêa afirma que "está à disposição das autoridades competentes para prestar quaisquer esclarecimentos, seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas na gestão anterior da Agência". O caso, porém, também despertou suspeitas de possíveis irregularidades na gestão do atual diretor.
Ferramentas de espionagem
Segundo relatório da PF, após depoimentos de Agentes da Abin, ferramentas de espionagem e invasão foram utilizados para obtenção dos valores que seriam negociados para cobrança de megawatt da Usina Hidrelétrica de Itaipu, localizada no Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai.
Sede da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) (Foto: reprodução/Antonio Cruz/Agência Brasil)
Sistemas do Congresso do Paraguai, Câmara e Senado, e da Presidência da República foram invadidos, além de senhas e dados de autoridades paraguaias, segundo o servidor da Abin à PF.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) desmente envolvimento com espionagem e mantém seu compromisso com a diplomacia e as relações amigáveis entre o país e o Paraguai. "O governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria", disse o MRE.
O governo Lula reconheceu a espionagem, mas afirmou que a operação aconteceu durante o governo de Jair Bolsonaro e afirma estar de acordo com o progresso das investigações.
Foto destaque: Luiz Fernando Corrêa (Reprodução/Lula Marques/Agência Brasil)