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Sobrevivente do Caso Marielle conta que saiu do gabinete no dia do crime e nunca mais voltou

Fernanda Chaves relata que, além de deixar o país com a família, não pôde ir ao velório de Marielle e teve que explicar à filha o que é "assassinato"

30 Out 2024 - 14h00 | Atualizado em 30 Out 2024 - 14h00
Sobrevivente do Caso Marielle conta que saiu do gabinete no dia do crime e nunca mais voltou Lorena Bueri

Primeira testemunha a depor no júri dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, a jornalista Fernanda Chaves, sobrevivente do atentado contra a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, relatou como sua "vida mudou completamente" após o duplo assassinato. Fernanda também relembrou os últimos momentos de Marielle e Anderson e contou que, enquanto estava exilada, precisou explicar à filha o significado de assassinato.

Ela destacou o impacto emocional que essa experiência causou na filha, especialmente no dia em que deixaram o Rio de Janeiro. Saíram em um carro escoltado, abaixados, e Fernanda, usando um boné, descreveu a situação como uma verdadeira fuga, refletindo o medo que a filha sentiu.

Afastamento e dúvidas da filha

A jornalista solicitou que os réus não estivessem presentes durante seu depoimento, pedido aceito pela juíza Lúcia Glioche.

Ela recordou o momento em que entrou no avião para deixar o Brasil com a família, quando sua filha pequena começou a fazer perguntas. Inicialmente, evitaram contar a verdade sobre o ocorrido, e a menina chegou a acreditar que se tratava de um acidente de carro.


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Imagem de um cartaz pedindo justiça pela morte de Marielle Franco (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Buda Mendes)


Momentos de pânico e desespero

Fernanda relatou que estava mexendo no celular, assim como Marielle, quando o ataque aconteceu. Ao ouvir uma sequência de tiros em direção ao carro, instintivamente se abaixou, posicionando-se atrás do banco do motorista, Anderson, ao lado de Marielle. Ela percebeu que o carro continuava em movimento, mas que havia sido atingido. Anderson soltou um leve gemido de dor antes de seus braços caírem, enquanto Marielle permaneceu imóvel, com o corpo tombando sobre Fernanda.

A jornalista contou que, nos primeiros momentos após o atentado, pensou que tinham sido pegos em um tiroteio e que o carro havia passado pelo meio dele. Com essa ideia em mente, decidiu sair do veículo para buscar ajuda, embora estivesse apavorada. Cautelosamente, abriu a porta e desceu de joelhos, temendo que ainda pudesse haver algum perigo próximo. Ensanguentada, começou a gritar por socorro e a pedir uma ambulância.

Desorientação e mudança de vida

Fernanda explicou que suas lembranças do momento são confusas e que, após os disparos, sentia o corpo em uma sensação de ardência. Ao olhar para Marielle, esperava que ela estivesse apenas desmaiada, recusando-se a acreditar na possibilidade de sua morte. Tremendo e em um estado próximo ao choque, esforçava-se para manter-se consciente. Uma mulher chamou a ambulância, enquanto Fernanda tentava se lembrar do número de telefone do marido, mas estava completamente desorientada.

Fernanda Chaves afirmou que sua vida mudou drasticamente após a morte da vereadora. A jornalista contou que recebeu instruções para deixar a casa onde morava imediatamente e, desde então, nunca mais retornou à Tijuca, na Zona Norte do Rio.

Apesar de já terem se passado sete anos desde o atentado, ela ainda não encontrou uma sensação de normalidade. Deixou o Brasil dois dias e meio depois do incidente, acompanhada pelo marido e pela filha, após aguardar o processo da Anistia Internacional, que lhe ofereceu acolhimento.

Além disso, a ex-assessora ressaltou que não teve a oportunidade de participar do velório, do enterro e das manifestações que pediam justiça por Marielle e Anderson.

Fernanda explicou que, além de ter sido parte da coordenação política de Marielle, manteve uma amizade de quase 15 anos com ela. Infelizmente, não teve a chance de comparecer ao velório, ao enterro ou à missa de sétimo dia. Embora muitos vejam glamour em estar fora do país, ela desejava estar presente. Fernanda sempre se preocupou com a imagem de Marielle e, em menos de duas horas após o atentado, já havia notícias falsas circulando sobre ela.


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Imagem de Marielle Franco (Foto: reprodução/Getty Images Embed/NurPhoto)


Compromisso com direitos e segurança

Fernanda afirmou à Justiça que Marielle era uma ativista dedicada, especialmente nas áreas relacionadas aos direitos humanos, e nunca se sentiu ameaçada, pois Marielle nunca mencionou preocupações nesse sentido.

Marielle se preocupava profundamente com o direito à moradia e estava sempre envolvida na luta por esse tema dentro do contexto dos direitos humanos. Na Câmara de Vereadores, ela assumiu a presidência da Comissão da Mulher, uma área pela qual tinha grande paixão.

Além disso, Fernanda destacou que Marielle havia feito um acordo com Mônica Benício, a atual vereadora, para voltar para casa cedo e equilibrar sua vida pessoal e profissional. Ela queria seguir esse combinado rigorosamente, estabelecendo que deveria estar em casa, no máximo, às 21h.

Foto destaque: Foto da vereadora Marielle Franco (Reprodução/Instagram/@marielle_franco)

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