Neste domingo (10), mais de 10,8 milhões de eleitores portugueses podem ir às urnas para eleger os 230 deputados do Parlamento, após uma campanha eleitoral que colocou a imigração no centro do debate, refletindo uma tendência observada em outros países da União Europeia (UE). O número de estrangeiros legalmente residentes em Portugal, em uma população total de 10,3 milhões de habitantes, ultrapassou 1 milhão em 2023. Dentre esses, os brasileiros representam cerca de 40%.
Debate sobre imigração marca campanha eleitoral
A discussão sobre a imigração foi marcada por diferentes abordagens dos partidos políticos. Enquanto o partido de ultradireita Chega defende a implementação de cotas para a entrada de imigrantes, outras legendas, como a Aliança Democrática (AD), coligação dos partidos da direita tradicional, propuseram mudanças nas políticas migratórias, associando o aumento da imigração à questão da segurança em Portugal.
Os dados oficiais, no entanto, não indicam um aumento da insegurança relacionada à chegada de mais estrangeiros. Pelo contrário, estatísticas recentes mostram que a criminalidade violenta e grave diminuiu 7,8% em 2022 em comparação com 2019, mesmo período em que a população estrangeira legalmente residente cresceu mais de 90%.
A campanha eleitoral também foi marcada pelo crescimento das intenções de voto na ultradireita, atualmente em terceiro lugar nas pesquisas, o que influenciou o posicionamento da direita tradicional. Esta última, representada pela AD, aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto, seguida pelo Partido Socialista (PS), no poder desde 2015.
O líder da AD, Luís Montenegro, defendeu a regularização da imigração e políticas de integração como forma de reduzir a suposta violência associada às migrações. Por sua vez, Pedro Nuno Santos, líder do PS e candidato a primeiro-ministro, enfrenta o desgaste dos anos de governo socialista, buscando reafirmar o legado do partido e reconhecer os erros cometidos.
Incerteza política
A incerteza sobre o resultado eleitoral também se estende às possíveis alianças de governo. Montenegro anunciou que só governará se for o mais votado e que não pretende contar com o apoio da ultradireita. Já Santos, embora não tenha descartado uma reedição da coalizão de partidos de esquerda que o levou ao poder em 2015, também não declarou estar aberto a outras soluções.
Em um cenário de envelhecimento da população e baixas taxas de natalidade, Portugal depende cada vez mais da mão de obra estrangeira, principalmente nos setores agrícola, de comércio e serviços. Nos últimos anos, o país facilitou a regularização de estrangeiros, especialmente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Apesar do aumento do custo de vida, principalmente no mercado habitacional, os imigrantes contribuem mais para a Segurança Social do que os cidadãos nacionais, embora recebam menos auxílios e subsídios.
As eleições legislativas, que originalmente deveriam ocorrer em 2026, foram convocadas antecipadamente após a renúncia do premiê socialista António Costa, em meio a uma investigação de corrupção. Os resultados eleitorais e as futuras alianças políticas serão decisivos para o futuro do país e seu posicionamento no cenário europeu.
Foto Destaque: população em Portugal (Reprodução/Pragmatismo Político)