O Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito na esfera cível para investigar o jornalista Adrilles Reis Jorge e a emissora Jovem Pan. O pedido aconteceu nessa semana, após o acusado supostamente fazer um gesto nazista ao vivo no programa da TV, Jovem Pan News.
Durante o programa, Adrilles debatia com outro comentarista e um apresentador a respeito das declarações do influencer Monark, que foi demitido do Flow Podcast por defender a possível existência de partidos nazistas.
No encerramento, Adrilles fez um gesto com a mão direita que remete ao “sieg heil” (salve a vitória”) adotado pelo líder nazista Adolf Hitler. De acordo com o G1, a atitude repercutiu negativamente nas redes sociais e ofendeu a Confederação Israelita do Brasil (Conib). Em comunicado, a entidade disse que “condena estarrecida o gesto repugnante de saudação nazista feito pelo apresentador Adrilles Jorge em programa da Jovem Pan."
Em decorrência de seu comportamento, o jornalista foi demitido da Jovem Pan na quarta-feira (09). A emissora informou que "repudia qualquer manifestação em defesa do nazismo". Indignado com a repercussão da história, ele utilizou suas redes sociais para denunciar os “ataques” a sua postura:
Eu quase sempre me despeço assim.
— Adrilles Jorge (@AdrillesRJorge) February 9, 2022
Meu cancelamento é o mais patético e odioso da história . Mas tem método : grande mídia e influenciadores querem tatuar na testa de todos que ñ são de esquerda como extrema direita nazista . pic.twitter.com/dZ6QKQYIS2
O G1 apurou que, na ocasião, o Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Inteligência (Gecradi) do Ministério Público abriu um inquérito, no âmbito criminal, para investigar Adrilles por apologia do nazismo. Se condenado na Justiça, o ex-comentarista pode receber uma pena de 1 a 5 anos de prisão ou pagamento de multa.
Na sexta-feira (11), a Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público abriu um inquérito civil contra Adrilles e a Jovem Pan. O jornalista e os responsáveis pela empresa são investigados por "possível apologia ao nazismo" pelo "gesto nazista" feito durante transmissão na TV, o que é uma "conduta proibida pelo ordenamento jurídico brasileiro", sobretudo por representar uma “discriminação contra judeus” e outras minorias.
"Há indícios da prática de gesto nazista por parte Adrilles Reis Jorge, reconhecido, inclusive, pela sua empregadora", escreveu o promotor Reynaldo Mapelli Júnior na portaria que instaurou o inquérito. "Esse gesto pode representar apologia ao nazismo o que teria, em si, conteúdo racista, antissemita e altamente discriminatório contra diversas minorias, uma vez que, como bem se sabe, o regime nazista também perseguiu pessoas com deficiência, LGBTQIA+, ciganos e outros."
Campo de concentração de Auschwitz, por volta de 1944 (Foto: Reprodução/Ullstein Bild/Getty Images)
Reynaldo encorajou a Jovem Pan a aperfeiçoar o controle interno para capacitar os colaboradores da empresa, na tentativa de evitar situações como essa. Segundo ele, há a "necessidade de a Jovem Pan prestar esclarecimentos e indicar quais as medidas internas realizadas para impedir a promoção de discursos de ódio através de seus canais (compliance em direitos humanos)", declarou o representante do Ministério Público.
Além disso, a portaria pede que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) da Polícia Civil abra inquérito para investigar Adrilles e os responsáveis pela Jovem Pan pelo crime de apologia do nazismo.
Até agora, apenas Adrilles é investigado na esfera criminal pelo MP. Na portaria que abriu a investigação contra ele, a promotora Maria Fernanda Balsalobre Pinto determinou que a Jovem Pan somente encaminhasse "a mídia integral do programa indicado, por meio digital, no prazo de dez dias" e que seus responsáveis "identifiquem, com função, e-mail e telefone de contato, todos os presentes no estúdio quando do encerramento do programa".
A lei brasileira nº 7.716/1989 prevê a criminalização da apologia ao nazismo, assim como qualquer forma de discriminação ou preconceito. No artigo 20, há menção sobre o crime de divulgação e criação de grupos nazistas. No entanto, apesar da criminalização, manifestações de cunho nazista têm crescido no Brasil.
Em 2021, um internauta publicou uma suástica (símbolo do partido nazista) em sua rede social. (Foto: Reprodução/G1)
A lei citada pelo Ministério Público define os crimes provenientes de preconceito de raça ou de cor, e estabelece que é crime "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo".
Adrilles Jorge é escritor, poeta e jornalista. Em sua trajetória, participou do “BBB15” na Rede Globo e, posteriormente, ingressou na Jovem Pan como comentarista do programa “Morning Show”. Também escreve sobre política, cultura e comportamento.
Foto Destaque: Adrilles Reis na Jovem Pan. Reprodução/Mídia News