As últimas palavras que a cantora Clara Nunes ouviu foram ditadas pelo anestesista Américo Autran Filho, o anestesista disse “Tenha sonhos coloridos”, enquanto Américo administrava o sedativo no corpo de Clara, antes de uma operação na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Durante a cirurgia, 65 minutos após a aplicação do sedativo, a cantora de 40 anos apresentou uma reação atípica e teve uma parada cardíaca. Os médicos responderam com urgência e recuperaram os batimentos cerca de 20 minutos depois, mas infelizmente não conseguiram evitar a tragédia. No auge de seu sucesso, Clara Nunes não morreu na mesa de cirurgia, mas entrou em um estado de coma profundo.
O inesperado ocorreu no sábado de 5 março de 1983, mas a informação só chegou a público na quarta-feira seguinte (9 de março de 1983). Milhares de fãs e amigos compareceram a clínica. Ninguém sabia ao certo o que tinha levado a artista ao hospital, não faltaram boatos sobre a situação de Clara. Em um dos boatos diziam que a cantora teria tentando se matar, outros diziam que teria uma overdose de drogas ou que sofreu complicações devido a um aborto.
Caixão com o corpo de Clara Nunes levado da Portela ao cemitério, em 1983 (Foto:Reprodução/Jorge Marinho/Agência O GLOBO
Quando foi divulgado que Clara tinha se submetido a uma cirurgia para a remoção de varizes, surgiu inúmeras dúvidas: o que teria provocado o coma? De acordo, com a equipe médica, a cantora fora acometida por um choque anafilático causado pela anestesia, sendo classificado como uma "fatalidade”.
Em entrevista ao Fantástico, o cirurgião vascular Antônio Vieira de Melo diz: “Quando eu cheguei no hospital, ela estava brigando com o anestesista porque ele estava insistindo para não colocar tubo na garganta dela. Ela queria dormir, queria anestesia geral”, afirmou Antônio.
Após a aplicação da anestesia geral e no fim da cirurgia, Antônio notou algo estranho
“O sangue dela estava um pouco escuro. Naquela época nós não tínhamos a monitorização que nós temos hoje. Ela estava com taquicardia, frequência muita rápida, igual a uma parada cardíaca... Cheguei a fazer injeção intracardíaca de adrenalina. Ela voltou”, conta o cirurgião.
Depois de 27 dias em coma profundo, no dia 2 de abril de 1983 a cantora foi a óbito. O coma e a morte da cantora causaram uma comoção nacional. Pessoas que acompanharam o cortejo cantou canções como “Conto de areia” e “Deusa de Orixás” em homenagem a Clara.
Foto Destaque: Clara Nunes. Reprodução/Rádio Rondônia.