Há muito tempo, os cidadãos brasileiros estão sofrendo as consequências do vício no “Jogo do Tigrinho”, ou "Fortune Tiger" como é chamado oficialmente, levando a polícia a realizar operações em vários estados contra esse aplicativo de caça-níqueis online. Apenas em São Paulo, já houve mais de 500 ocorrências desde o ano passado até a última quinta-feira (27), de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Segundo André Lima, professor do curso de Tecnologia da Informação na Universidade Católica de Brasília, por ser um software, diferente dos caça-níqueis tradicionais que são máquinas prontas, o Jogo do Tigrinho é muito suscetível a alterações em seu algoritmo para controlar quando as pessoas vão perder ou ganhar. Ele ainda aponta que o único jeito de verificar se há manipulação é realizar uma auditoria externa no algoritmo.
Os perigos da manipulação e sedução do “Jogo do Tigrinho”
De acordo com investigações feitas pelo país, os vídeos mostrados pelos influenciadores que divulgam a plataforma, nos quais aparecem ganhando grandes quantias de dinheiro, são versões do jogo modificadas para divulgação. Assim, as pessoas são seduzidas, pensando que podem ganhar essa quantidade de dinheiro dentro do jogo.
André Lima explica que, uma vez dentro do “Jogo do Tigrinho”, o aplicativo pode fazer o jogador vencer algumas vezes, dando a sensação de que pode ganhar sempre, alimentando o vício. No entanto, o resultado pode ser alterado para que a pessoa perca e isso, final, reverta em lucros para o cassino.
Na quinta-feira (27), no Paraná, uma mulher de 22 anos foi presa após furtar quase R$180 mil da conta bancária de seu avô, de 83 anos, para realizar apostas dentro da plataforma. Outro caso semelhante aconteceu em junho deste ano, quando uma mulher relatou à polícia que seu neto perdeu todo o patrimônio da família, cerca de R$400 mil, em jogos de apostas online.
Matéria do Fantástico, exibida no penúltimo domingo de junho (23), sobre o "Jogo do Tigrinho" (Reprodução/Youtube/g1)
Brechas legais e o risco à segurança de dados
No Brasil, os jogos de azar são considerados crimes de acordo com a Lei de Contravenções Penais. Entretanto, os aplicativos de apostas conseguiram burlar isso sediando suas empresas em países conhecidos como “paraísos fiscais”, que possuem impostos muito baixos ou inexistentes, sigilo bancário e flexibilidade regulatória, dificultando a auditoria desses caça-níqueis online.
Além disso, por serem sediados em outros países, os usuários podem ter seus dados pessoais e bancários coletados pelos aplicativos de jogos, já que eles não respondem às regulamentações da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Foto destaque: Pessoa usando o "Jogo do Tigrinho" no celular (Reprodução/Estadão/Alice Labate)
