O lendário líder sindical polonêsm, Lech Walesa, que ajudou a derrubar o comunismo no Leste Europeu não mediu palavras ao criticar o presidente dos Estados Unidos por sua postura em uma reunião com o presidente ucraniano Zelensky na última sexta-feira (28). Em uma carta aberta publicada em seu Facebook, assinada por ele e outros 39 ex-prisioneiros políticos da Polônia, Walesa disse ter assistido ao encontro com horror e nojo, acusando Trump de tratar a Ucrânia como um parceiro de negócios, e não como um aliado em tempos de guerra.
Cena digna de tribunais comunistas
A reunião, que foi ao ar ao vivo e chocou observadores internacionais, teve Trump disparando críticas contra Zelensky, chamando-o de “ingrato” pela ajuda americana e até sugerindo que o apoio dos EUA à Ucrânia, que há três anos enfrenta a Rússia em um conflito brutal, poderia estar em xeque. Para Walesa, a atitude de Trump não só desrespeitou o líder ucraniano, mas também os valores democráticos que os EUA dizem defender.
A carta foi escrita com um tom de indignação e vai além das críticas políticas, fazendo uma comparação pesada: o clima da reunião na Casa Branca lembrou os interrogatórios e julgamentos da era comunista, quando oponentes eram pressionados a demonstrar “gratidão” a regimes opressores. “Foi como voltar no tempo, aos dias em que éramos intimidados por promotores e juízes a serviço da polícia política”, diz o texto assinado por figuras que, assim como Walesa, enfrentaram prisões e perseguições durante o domínio soviético na Polônia.
Walesa, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1983 por sua liderança no movimento Solidariedade, também fez questão de lembrar que a verdadeira gratidão deve ser dirigida aos soldados ucranianos “que derramam sangue pela liberdade, não por favores comerciais”. A carta critica Trump por tratar a ajuda militar e financeira à Ucrânia como uma transação, em vez de um compromisso moral e estratégico.
Donald Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, discutem no salão da Casa Branca (Foto: reprodução/Andrew Harnik/Getty Images Embed)
Apelo ao passado e alerta ao futuro
Mais do que uma crítica ao encontro, a carta de Walesa e seus colegas é um chamado para que os EUA honrem promessas feitas há quase três décadas. O texto cita o Memorando de Budapeste, de 1994, no qual os Estados Unidos, ao lado do Reino Unido, garantiram a segurança da Ucrânia em troca de sua renúncia a armas nucleares. “Essas garantias não têm cláusulas de barganha”, dispara o documento, em uma tentativa de lembrar Trump das responsabilidades históricas de seu país.
A embaixada americana em Varsóvia preferiu não comentar o caso, jogando a bola para a Casa Branca que, até o fechamento desta edição, não respondeu aos pedidos de esclarecimento. Enquanto isso, o presidente polonês, Andrzej Duda, tentou colocar panos quentes na crise, sugerindo, no sábado (1), que Zelensky busque retomar o diálogo com os EUA. A reunião de sexta-feira, que também teve ataques do vice-presidente americano JD Vance a Zelensky, foi descrita por analistas como o pior momento nas relações entre Washington e Kiev desde o início da guerra com a Rússia.
Foto destaque: Walesa durante um festival (Reprodução/Vittorio Zunino/Getty Images Embed)