Após seis anos e meio da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, os assassinos confessos começaram a ser julgados nesta quarta-feira (30). Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz serão julgados inicialmente hoje com previsão de término até quinta-feira (31). O julgamento começou às 9h no 4º Tribunal do Júri do Rio, no Centro do Rio de Janeiro.
Os assassinos foram indiciados pelos crimes de duplo homicídio triplamente qualificado da deputada e seu motorista, e pela tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle na época. O carro utilizado no crime foi um Cobalt prata que teve sua placa adulterada. O julgamento ocorre no TJ do Rio, estado onde ocorreram os crimes.
Emocionados e querendo justiça, a família e amigos compareceram no TJ e para a mãe da Marielle, a advogada Marinete Silva, o crime não pode ser normalizado, e espera que os réus sejam condenados para servir de exemplo para o país e para o Rio de Janeiro que constantemente sofre com ações violentas e criminosas.
Marielle Franco palestrando (Foto: reprodução/ Instagram/@marielle_franco)
Entenda o julgamento
Serão ouvidas nove testemunhas, onde sete delas foram indicadas pelo Ministério Público (MPRJ), sendo elas: Fernanda Gonçalves Chavesque foi a única sobrevivente do ataque; Ágatha Arnaus Reis, a viúva de Anderson; Mônica Benício, viúva de Marielle; Marinete da Silva, a mãe de Marielle; Carolina Rodrigues Linhares, perita criminal; Luismar Cortelettili, agente da Polícia Civil do Rio; Carlos Alberto Paúra Júnior; agente da Polícia Civil do Rio. Outras duas testemunhas que são da defesa de Ronnie, já a defesa de Élcio Queiroz desistiu de ouvir as testemunhas que tinham solicitado que seriam: Marcelo Pasqualetti, agente federal e Guilhermo Catramby, delegado da Polícia Federal. Os assassinos também serão ouvidos através de uma chamada de vídeo diretamente dos presídios onde estão, sendo Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, e no Centro de Inclusão e Reabilitação, em Brasília, respectivamente.
Outras testemunhas podem ser acionadas para prestar depoimento de forma virtual, segundo informações do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ). Ao total, o júri será formado por 21 pessoas que não possuem qualquer envolvimento com o caso, e durante o julgamentos elas ficarão isoladas, tendo que permanecer após o julgamento de hoje (30) nas dependências do TJ. Serão elas, as responsáveis por analisar se Lessa e Élcio são verdadeiramente culpados ou inocentes do crime. Após sentença, a juíza Lúcia Glioche vai estipular o tamanho da pena, os agravantes e os atenuantes.
O Ministério Público já informou que irá pedir ao Conselho de Sentença a pena máxima e de acordo com o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/FTMA), cada um dos acusados podem pegar até 84 anos de prisão, porém, mesmo se condenados à pena máxima e permanecer o acordo de delação premiada, exceto se alguma irregularidade ou mentira for identificada, Queiroz ficará preso, no máximo, por 12 anos em regime fechado e Lessa poderá atingir 18 anos também em regime fechado.
Relembre o caso
No dia 14 de maro de 2018, a então vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco afiliada do Partido Político PSOL, foi alvejada por diversos tiros, perdendo sua vida com dentro do seu carro e um carro na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, na Região Central do Rio. O assassinato ocorreu por volta das 21h30. Marielle levou quatro tiros na cabeça, junto com ela, estavam seu motorista, Anderson Pedro Gomes, que também foi baleado com 3 tiros nas costas, não resistindo e também morrendo no local. Sua assessora também estava no veículo, mas foi apenas atingida por estilhaços. Ao todo, foram 13 disparos.
Os assassinos seguiram Marielle em um Cobalt prata. Eles aguardaram a finalização de um evento onde ela e sua equipe participavam na Casa das Pretas, na Lapa. Eles encurralaram o veículo em que a vereadora estava, disparando várias vezes contra eles, em seguida, fugiram sem levar nenhum objeto do local do crime. A prisão ocorreu apenas dois dias antes de o crime completar 1 ano, no dia 12 de março de 2019 quando os acusados saiam de suas casas sem resistir à prisão. Ronni deles foi preso no condomínio Vivendas da Barra, na Avenida Lúcio Costa, Barra da Tijuca e Élcio na Rua Eulina Ribeiro, no Engenho de Dentro.
Em declaração, informaram que o motivo do crime foi por Marielle ser considerada uma "pedra no caminho" de pessoas interessadas em loteamentos irregulares na Zona Oeste do Rio. Ela era contra os loteamentos, o que levou à sua morte. A recompensa pelo crime, seria lotes do terreno que poderiam ser vendidos com lucros de até R$ 25 milhões. Os ex-policiais vigiaram a deputada por três meses seguidos. Após a execução, Lessa frequentou um restaurante para assistir a um jogo do Flamengo.
Foto destaque: Marielle Franco no Plenário (Reprodução/Instagram/@marielle_franco)