O governo Bolsonaro tentou trazer de maneira irregular ao Brasil, em outubro de 2021, joias avaliadas em R$ 16,5 milhões. Os itens foram apreendidos pela Receita Federal após serem encontrados na mala do então assessor do Ministério de Minas e Energia, Marcos André dos Santos Soeiro. As joias, que eram presentes do governo da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, não foram declaradas à Receita como item pessoal, que exige o pagamento de um imposto sobre o produto, e acabaram sendo detidos. A informação foi revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
Dentro da bagagem de Soeiro, constavam uma escultura dourada de cavalo, com as patas quebradas, o estojo contendo colar, anel, relógio e um par de brincos de diamante, além de uma declaração de autenticidade da marca suíça Chopard, conhecida por desenvolver acessórios de luxo. Os itens poderiam entrar no país sem pagar o tributo, contanto que fossem declarados como presentes para o Estado brasileiro. Neste caso, as joias pertenceriam à União, não à Michelle.
Os envolvidos
Em 22 de outubro de 2021, o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, iniciava uma agenda de eventos oficiais em Riad, capital da Arábia Saudita, representando o Brasil em reuniões bilaterais, conferências sobre o clima e em encontros com a realeza saudita. Ao fim dos compromissos, Albuquerque retornou ao país em 26 de outubro. Com ele, estava o assessor Marcos André dos Santos Soeiro, que o acompanhou na viagem ao Oriente Médio e com quem foram encontradas as joias. O presente milionário acabou sendo detido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Na época da apreensão, era Júlio Cesar Vieira Gomes quem chefiava a Receita Federal. De acordo com o blog da jornalista Andréia Sadi, Gomes teria conversado com o ex-presidente Jair Bolsonaro no final de 2022 sobre como deveria tentar reaver os itens. Após esta interação, Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, encaminhou um ofício à Receita informando que um sargento da Marinha iria ao Aeroporto para recuperar as joias de Michelle.
Sobre as joias, Michelle Bolsonaro ironiza e diz: "Quer dizer que "eu tenho tudo isso" e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo, hein?!" (Foto: Reprodução/Isac Nóbrega)
Assim, em 29 de outubro do ano passado, véspera da viagem de Jair Bolsonaro para os Estados Unidos, o sargento da Marinha, Jairo Moreira da Silva, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República, foi ao Aeroporto de Guarulhos utilizando um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), numa última tentativa de reaver o conjunto de joias. No local, Silva argumentou que os itens não poderiam ficar apreendidos devido à mudança de governo.
O servidor da Receita, Marco Antonio Lopes Santana, foi quem barrou o pedido. Em diálogo com Jairo Moreira da Silva, Santana afirmou que não entregaria nada, já que não tinha qualquer informação sobre a liberação dos objetos. Na ocasião, Silva ainda tentou intimidar o servidor e ligou para alguém a quem se referia como “coronel”. O auditor, porém, não aceitou resolver nada por telefone.
Outro envolvido no caso é o ex-assessor de Bento Albuquerque, Antonio Carlos Ramos. Ele teria entregado ao acervo da Presidência da República uma caixa com outros presentes da Arábia Saudita.
Foto Destaque: Reprodução/Agência Brasil
